Essa HQ é o primeiro trabalho do europeu Enrico Marini (da HQ de vampiro “Predadores”) para uma editora norte americana. Devo adiantar que gostei da HQ, mas sou suspeito para dizer, já que sou batmaníaco e já elogiei histórias muito piores da Morcega. Porém, O Príncipe Encantado da Trevas é um gibi de Schrodinger, que é sensacional e ao mesmo tempo, nada tem de incrível. Mas como é que pode isso??? Eu explico: A releitura do Homem Morcego feita por Marini é simples, mas ao mesmo tempo fantástica. O artista se serviu de diversos elementos da mitologia do Homem Morcego a seu bel prazer, com total liberdade, como se estivesse em um buffet, para construir sua Gotham, seu elenco, o Batmóvel, etc. E sua arte, pintada magistralmente, é de encher os olhos. O formato gigante (33cm x 22cm), também só vem a favorecer a apreciação da história.
A trama gira em torno do seqüestro de uma menina, raptada pelo Coringa – e que por conta de alguns desdobramentos que não vou revelar aqui pra não estragar a pouca história que essa HQ contém -, e essa missão de resgate se torna algo altamente pessoal para o Morcego. Batman sacode o submundo de Gotham, aterrorizando sua galeria de inimigos em busca de pistas. E é só isso mesmo, pelo menos nesse primeiro volume.
A história, aparentemente banal, parece servir apenas de pretexto para Marini brincar com o brinquedo mais rentável da DC, e apesar desse fiapo de história, é sua arte que faz com que a experiência seja prazerosa. Uma contradição, Marini repensar tantos conceitos visuais e enquadramentos, diagramação e outros elementos, e executá-los de forma diferente dos americanos, mas lançando mão de um roteiro altamente batido. Não tenho um estranhamento assim tão positivo em ver um personagem de comics americanos retratado pelo traço de um europeu fodástico desde a graphic novel Wolverine – Saudade, de Jean-David Morvan e Philippe Buchet. Fãs da Morcega vão ficar satisfeitos (Ah vá, vocês engoliram “Batman – Silêncio” e vão reclamar disso aqui???), civis em geral vão se sentir bem à vontade com essa história altamente acessível para quem não costuma ler quadrinhos, e os mais exigentes vão ceder frente à incontestavelmente competente arte. O acabamento e tamanho da HQ estão bem camaradas para o preço de capa, uma coisa cada vez mais rara depois dos reajustes da Panini.
Então, resumindo, não espere por um novo Asilo Arkham, Piada Mortal ou Ano Um, mas ainda assim pode ser que vocês se surpreendam. Será que o segundo volume vai ser mais ousado, vão haver reviravoltas ou alguma sacudida do tipo? Não sei, mas se a arte continuar nesse nível, já estou satisfeito…
84 páginas. Capa dura. R$ 25,00