APENAS UM PEREGRINO, de Garth Ennis + Carlos Ezquerra, ou “Chumbo no diabo da cabeça aos pés!!!”

Garth Ennis tem trabalhos que variam muito em termos de qualidade, oscilando do divertido ao esquecível, do sublime ao “Só-escrevi-essa-HQ-pra-pagar-um-cruzeiro-pra-mim-e-pra-patroa”, o que não chega a ser uma tragédia completa. Com uma bibliografia tão grande, é natural que certos trabalhos agradem menos que outros. Afinal, como diz o ditado: “Quem trabalha muito, erra muito. Quem trabalha pouco, erra pouco. E o Jeph Loeb erra o tempo todo”. Ok, essa última parte é invenção minha (mas ora vá! só eu acho o Loeb intragável, o roteirista perfeito para outro “talento”, Rob Liefeld? uma HQ com essa dupla criativa??? essa seria uma HQ que destruiria o planeta…).


Garth Ennis

A indefectível, indispensável, seminal, formadora de caráter Preacher

os Bastardos Inglórios que valem

The Boys, batizada aqui de “Urmininu”

Será que finalmente encontramos um clássico da Marvel???

Com esse currículo tão extenso, não é de se surpreender que alguma coisa passe batida pelo público. Em 2000, a Wizard Entertainment (lembram daWizard??) fundou seu próprio selo de quadrinhos, o Black Bull, e adivinhem: Ennis deixou sua marca lá também. A que estamos nos referindo? À HQ Apenas um Peregrino, do ano de 2001.

Segundo sinopse divulgada pela editora Mythos:


“Oito anos se passaram desde a Queimada — quando o sol começou a morrer e ferveu os oceanos até secarem. A Terra mergulhou numa gigantesca devastação, governada por piratas que aterrorizam e chacinam os últimos bolsões de humanidade que restaram. Nessa era pós-apocalíptica, surge o misterioso matador conhecido como “Peregrino”. Criado pela dupla Garth Ennis e Carlos Ezquerra, essa é a série que combina o faroeste e seus anti-heróis com o fim do mundo. A Mythos Editora apresenta pela primeira vez as duas minisséries num só volume, em capa dura, numa luxuosa e imperdível edição.”


Capa da primeira edição brasileira de Apenas um Peregrino, pela editora Devir. Arte de Glenn Fabry.

Em resumo: uma espécie de Mad Max que cita a bíblia enquanto mata saqueadores e monstros mutantes, ou um Waterworld sem água (desculpem, não resisti kkk), uma história pós apocalíptica recheada de ação, tiroteios, violência desmedida, situações bizarras e profanidade, o de sempre para quem lê Garth Ennis há algum tempo. Um bom trabalho do roteirista, em uma época em que ele ainda não escrevia no piloto automático.

Histórias pós apocalípticas não são uma novidade na obra de Ennis, que parece curtir esse tipo de temática, vide CrossedJusticeiro – O Fim e Rover Red Charlie, a mais incomum dessas três: o apocalipse pela perspectiva de três cãezinhos! 

Para aqueles que não ficam ofendidos com críticas à religião, Apenas um Peregrino vai lembrar bastante outra HQ britânica: Missionário – Lua de Sangue, que já comentamos AQUI. Na HQ de Gordon Rennie, com arte de Frank Quitely, entre outros, as situações, apesar das equipes criativas diferentes, são bem semelhantes em sua execução: o contexto que lembra um bom faroeste, as piadas (e críticas!) em torno de religião enquanto o anti herói protagonista, um forasteiro de passado misterioso – e em Apenas um Peregrino é um passado misterioso e grotesco! – estourando os ímpios à bala para fazer “o trabalho de Deus”.


Dèja vu do bom!

Tanto Apenas um Peregrino quanto sua continuação já haviam sido publicadas aqui antes, no começo da década passada, em duas edições de capa cartonada pela editora Devir. Esse encadernado da Mythos Books compila as duas histórias: Apenas um Peregrino (2001) e Apenas um Peregrino: Os Jardins do Éden (2002) em um volume de 240 páginas e formato 26 x 17cm, com aquele precinho salgado da Mythos que a gente conhece. Mas mantendo a calma e com um pouco de paciência sempre dá pra encontrar uma promoção boa nas internetes, pro estrago na carteira não ser tão grande…


Alguma dúvida que isso vai dar MUITO ruim…?

Uma conversão de última hora! Morra de inveja, M. Night Shyamalan!!!

Os extras da edição incluem as capas originais, pin-ups, esboços…

Uma história divertida e ao mesmo tempo profunda, graças ao seu tema delicado – religião sempre dá merda, não é, amiguinhos? -, desenhada pela lenda Carlos Ezquerra – o artista espanhol, co-criador do Juiz Dredd – que já havia trabalhado anteriormente com Ennis em títulos como HitmanPreacher e  Bloody Mary.Apenas um Peregrino é altamente recomendada para estudantes de teologia e religiosos fundamentalistas em geral. Ou se vocês são daqueles que procuram uma boa história com camadas bacanas praquela reflexão marota, embarque nessa peregrinação à terra devastada o quanto antes, mas muito cuidado pra não serem agarrados pela lula subterrânea! Vocês não iriam gostar nem um pouco do que elas fazem…


“Você e eu, Senhor. Você e eu…”
Eduardo Cruz
Eduardo Cruz é um dos Grandes Antigos da Zona Negativa, ou sejE, um dos membros fundadores, e decidiu criar o blog após uma experiência de quase-vida pela qual passou após se intoxicar com 72 tabletes de vitamina C. Depois disso, desenvolveu a capacidade de ficar até 30 segundos sem respirar debaixo d’água, mas não se gaba disso por aí.

Ele também tem uma superstição relacionada a copos de cerveja cheios e precisa esvaziá-los imediatamente, sofre de crises nervosas por causa da pilha de leitura que só vem aumentando e é um gamer extremamente fiel: Joga os mesmos games de Left For Dead e Call of Duty há quase 4 anos ininterruptos.

Eduardo Cruz vem em dois modos: Boladão de Amor® e Full Pistola®.

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