Não tem como começar essa resenha de outra forma. Descrito como um “Brian de Palma sem a porra da censura se intrometendo” por Matt Fraction no prefácio, Chaykin se notabilizou por esse tipo de escrita que evoca o clima noir em seus desenhos e roteiros. Em Black Kiss, soltaram as rédeas do homem que consegue transpor em cada frase de seus personagens uma dose cavalar de libertinagem verbal e sarcasmo. Resumindo: Um mundo regido por putaria e cinismo.
A trama gira em torno de duas lindas, gostosas e safadas loiras que de cara já se percebe que estão metidas em algum tipo de conspiração na qual o clima parece ser de aparente tranquilidade sobre o que está acontecendo. Chaykin tem essa dinâmica de conduzir personagens, é como se os personagens estivessem sempre a par de algo que o leitor não sabe e nem vai saber, mas que acaba tornado o personagem bastante confiante ao lidar com os assuntos. É difícil de explicar isso, mas veja só, você como leitor vai ser instigado a pensar: “Esse cara sabe mais do que aparenta…”, se você não sentir isso, volte ao início e leia tudo novamente.
A trama é complexa e fácil ao mesmo tempo. Eu explico essa contradição: Ao terminar a leitura da HQ, você certamente terá um entendimento de todas as nuances e o quebra-cabeças se monta por completo no final. Mas à medida que você vai lendo os capítulos, você tem a impressão que se perdeu em uma miríade de personagens que vem e vão e estão inseridos profundamente (UI!) no contexto, personagens que aparecem do nada e já entram no clímax da história e você se pergunta, – da onde esse cara saiu? – Pois é… Ao mesmo tempo isso é engraçado, porque traz um humor negro a trama.
Recheada de sexo nada puritano, um dos pontos altos dessa HQ é a forma selvagem com que Chaykin conduz esse sensível tema para uma HQ de cunho erótico. O cara não tem escrúpulo algum, pensa numa frase bem suja pra dizer na hora da sacanagem e multiplica por 100. Ao leitor que não está acostumado, acaba por se espantar com tamanha vulgaridade. Mas isso também torna a HQ um tanto populista.
Com cenas de sexo que vão de ménage, sodomia, felações e estupros, chantagens e cultos satânicos envolvendo a alta sociedade, o que menos se vê por aqui são pessoas inocentes se comportando como ovelhinhas no cercado. Ninguém presta, e mesmo assim você vai acabar escolhendo e torcendo por seus favoritos heheheheh…
Pra finalizar, a trama pula de um noir de cunho romancista para uma ficção que você não imagina que veria, mas que acaba fechando uma ponta solta da trama que está o tempo todo coçando seu intelecto para tentar desvendar. Não faço ideia se a trama foi pensada desta forma ou se foi uma maldita solução mágica que deu certo. Isso só o autor para dizer. Mas o que se pode dizer é: Nesta HQ não há um mocinho e um vilão, todos tem sua parcela de vigarices a apresentar e do início ao fim a trama é feita por personagens filha da puta. Quer mais o que de Howard Chaykin?
Texto por Conde.
Devir Editora.
152 páginas. Capa Cartão, papel off-set.
Preço de Capa R$ 36,00
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