Resenha Relâmpago: DYLAN DOG NOVA SÉRIE #4 – A SERVIÇO DO CAOS

Dando sequência no processo de atualizar as histórias de Dylan Dog para o século 21, temos a apresentação do novo antagonista John Ghost. Criado por Roberto Recchioni (Dylan Dog: Mater Morbi ) o responsável por essa atualização do personagem, Ghost é a antítese perfeita de Dylan, papel que o necromante Xabaras exerceu durante bastante tempo. Sendo uma atualização do antigo vilão, Ghost representa uma ameaça surgida nos novos tempos, um empresário ridiculamente milionário estereótipo do galã-de-meia-idade-intelectual-pró-saúde-podre-de-rico e com total ausência de escrúpulos para alcançar seus objetivos. Sócio-fundador da Ghost Enterprise, que possui ramificações em diversos setores de desenvolvimento que variam desde pesquisa espacial a comunicação, tem uma biografia pré-fabricada como mais uma das histórias de superação de pessoas de origem miserável que ascenderam na vida devido ao seu próprio esforço. John Ghost se mostra extremamente perigoso não por ser mais um subproduto do capitalismo ou uma representação da fábula da meritocracia, mas sim por ser um agente de poderosas forças que atuam pelas sombras de forma global, manipulando o curso dos acontecimentos que tem impacto direto na vida de bilhões de pessoas e regendo o mundo de acordo com seus caprichos. John Ghost é apenas a superfície, uma fração do antigo e verdadeiro mal que para nós é invisível na maior parte do tempo.

John Ghost, Signore e Signori!

Na trama, vários homicídios acontecem ao redor do mundo contendo ligação com o lançamento do novo smartphone da Ghost Enterprise, o Ghost 9000 que possui um sistema operacional com a IA mais avançada do mercado de telecomunicações. Dylan Dog é contratado para investigar o caso e logo no primeiro contato entre os dois, os ânimos se acirram. Enquanto Ghost mostra bastante conhecimento sobre a vida de Dylan, incluindo detalhes pessoais, nosso querido Old Boy se mostra também um verdadeiro old school averso as novas tecnologias, tendo dificuldades para usar a wikipedia para obter informações sobre Ghost. Ao aceitar o robusto pagamento do mega empresário, Dylan inicia suas investigações que o levam a um artista genial e recluso com uma certa tendência ao hermetismo, que foi o responsável pela criação do novo modelo de smartphone. A história é bem conduzida, e todas as diversas críticas que Recchioni aponta para a sociedade atual são bem feitas, de maneira orgânica com a trama e não soam vazias. O roteirista italiano dispara sua metralhadora de palavras contra a sociedade de consumo e espetáculo, condições de trabalho análogas à escravidão em países que produzem tecnologias para o grande bloco capitalista, chegando a comparar os smartphones aos diamantes de sangue retirados em zonas de guerra no continente africano. A presença do sobrenatural, fio condutor em toda boa história do Investigador do Pesadelo, é bem dosada e deixa propositalmente algumas pontas soltas bem interessantes, principalmente em relação as motivações do novo vilão seus verdadeiros empregadores. A arte fica por conta de Angelo Stano, veteraníssimo em Dylan Dog, de traço detalhado e ótimos cenários.

Artista recluso, genial e que frequentemente insere hermetismo em seus trabalhos? Dou só uma chance pra vocês, seus adoradores de Watchmen!

Vamos a alguns infelizes pontos negativos agora. Levando em consideração que temos duas séries de Dylan Dog saindo de forma alternada, colecionar as duas virou uma compra mensal. A ideia de duas publicações, uma com as histórias clássicas e outra com as atuais, similar ao que a Panini fez com Hellblazer é excelente e este que vos escreve já a havia defendido quando escrevi sobre Dylan Dog: Mater Dolorosa. Mas devido a manutenção do atual preço, tive que escolher entre uma das duas coleções e creio que também para uma boa parte dos fãs pesou no bolso acompanhar as duas séries. O único jeito é aguardar pelas promoções.
Falando mais especificamente da nova série, a edição 4 tem erros bobos de revisão de texto, além de um trabalho gráfico inferior ao da série clássica. Entretanto, ela tem me agradado até aqui, com boas histórias e a necessária atualização do personagem aos ditos tempos modernos.
O que todo fã de Dylan Dog no Brasil quer mesmo é que a defasagem em relação as publicações originais diminua e que o título “pegue” no mercado, atraindo novos leitores evitando os cancelamentos frustrantes anteriores. Então pode publicar mais Dylan Dog que tá pouco, Dona Mythos. E Vida longa ao Old Boy!

O primeiro encontro

Publicado pela Editora Mythos
Capa cartonada, 98 páginas, P&B, R$26,90
Compila a edição #341 de Dylan Dog

Agora sabemos como foram escritos aqueles roteiros de Providence!

Curtiu essa resenha? Então siga essa Zona nas redes sociais e não perca nenhum conteúdo. Textos todas as terças, quintas e sábados.

Reinaldo Almeida Jr
Reinaldo Almeida Jr, também conhecido como Ray Junior, é narrador de RPG, leitor inveterado e um apaixonado por quadrinhos que anseia fundar seu próprio clube da luta de cultistas a deuses lovecraftianos, viajar pelo multiverso em busca de suas outras versões de terras paralelas para lhes contar que nada é verdadeiro e tudo é permitido, dando início a revolução invisível que nos elevará a quarta dimensão.

Deixe um comentário