Pois é, criançada… mais um gibi do Millarworld, mais um gibi prontinho para virar um blockbuster, mais um gibi bem marromeno… Diferente da mini série Superior, onde Millar brincava com o arquétipo do Shazam, dessa vez Millar mexe com o arquétipo do Superman, contando a história de Huck, um rapaz gentil e preocupado com o bem estar de seus vizinhos, comprometido a realizar uma boa ação por dia, seja encontrando jóias perdidas, recolhendo o lixo, salvando animais… O rapaz possui uma inocência e abnegação para ajudar ao próximo que chega a ser tocante e dolorosamente anacrônica. Ah, faltou dizer que o rapaz é especial, em mais de um sentido: Huck possui capacidades especiais como superforça, invulnerabilidade, pode saltar a grandes distâncias e consegue rastrear qualquer pessoa ou objeto por instinto, e também possui uma deficiência mental não especificada, o que faz do jovem uma espécie de Forrest Gump super humano (Eu pessoalmente me recordei do clone super humano com síndrome de Down em Wanted, um dos primeiros trabalhos do Millarworld).
Órfão adotado pelos moradores da cidadezinha, Huck é um segredo muito bem guardado por toda a comunidade, até que uma repórter leva a público seus dons. Agora, o rapaz é levado e embarcar em uma jornada de autoconhecimento que pode desvelar seu passado e o de sua família, e o que cientistas russos podem ter a ver com tudo isso…
Apesar da bela mensagem de solidariedade, o verdadeiro superpoder que nós portamos e pouco usamos, e da experimentação em se colocar um indivíduo com um código de ética “ultrapassado” e ver como ele funciona no mundo tal qual o conhecemos – O personagem é uma resposta ao próprio Superman dos dias atuais, principalmente a versão overpower e assassina do “visionário” Zack Snyder -, Huck não empolga e é lotado de clichês, até mesmo pro padrão atual do Millar. Aqui ele bateu o próprio recorde, e novamente, surgem alguns furinhos à medida que você vai lendo a história, o que, claro, prejudica muito na imersão do leitor.
“Eu adorava o Superman quando criança não porque ele podia ser radical ou tinha o poder de uma solução fatal, mas porque ele podia fazer o que quisesse e ainda assim escolheu ser bonzinho. Pra mim isso sempre foi a moral de uma HQ de super-heróis (…) Huck é o antídoto a esses anti-heróis. Vai ser uma experiência interessante.”, disse Millar em entrevistas na época do lançamento. Bem, como na maioria dos últimos trabalhos de Millar, a idéia até é boa, mas a execução deixou bastante a desejar. Resta apreciar a arte de Rafael Alburquerque (Vampiro Americano). Para os que gostam. Se você também não vai comprar nem que seja pela arte, então passe longe. No tocante a produzir histórias com conteúdo mais otimista e esperançoso em trabalhos mais recentes, Millar foi mais bem sucedido com Starlight. Já Huck é só mais uma HQ do Millar que bateu na trave…
Compila as edições #1 a #6 da mini série Huck.
164 páginas. Capa dura. R$ 48,00