Rugas é o meu primeiro contato com o trabalho de Paco Roca. E provavelmente o de muitos outros leitores. O artista espanhol, que nunca tinha sido publicado no Brasil, é considerado um dos grandes destaques europeus quando o assunto é a nona arte. Com sua arte estilizada, um tanto cartunesca e de traço limpo, Roca aborda aqui diversas situações pertinentes a senilidade e a inevitável decadência gradativa do protagonista Emílio devido ao grande vilão da vida na terceira idade: a doença de Alzheimer. Internado pela família em um asilo, o ex-gerente de banco precisa se adaptar a essa nova comunidade e rotina. Diagnosticado o Alzheimer em seu estágio inicial, sem qualquer expectativa de quanto tempo ainda tem, Emílio decide lutar contra a doença além do tratamento farmacológico. Uma luta que não se pode ganhar, mas que deve ser combatida.
A doença de Alzheimer é um tipo concreto de demência, a mais frequente. A demência é a perda de funções cognitivas, alterando a conduta e a vida social. Aproximadamente 60% das demências são do tipo Alzheimer e de acordo com a OMS, cerca de 50 milhões de pessoas no mundo sofrem de algum tipo de demência, estatística que inclui o Alzheimer. No estágio de Emílio, a perda da memória recente é o sintoma mais característico. Acrescenta-se dificuldades para encontrar palavras e tomar decisões, assim como desorientação de tempo e espaço. Com a progressão degenerativa, perda da memória passada, alterações de comportamento, depressão, alucinações e esquecimento dos nomes de pessoas próximas são só alguns exemplos da pesadíssima evolução dos sintomas.
Paco Roca cria e desenvolve muito bem os outros personagens além de Emílio, todos idosos na mesma situação, mas com histórias pessoais e peculiaridades tão distintas entre si. Tratar de forma lúcida e sensível a questão da exclusão do idoso da vida em sociedade, os tabus que existem dentro das famílias para com a forma de lidar, a política pública de inclusão falha que infantiliza o idoso como se ele fosse uma criança velha, dificultando mais ainda o quadro social, são méritos de Roca numa trama envolvente que conduz a um final emocionante. Como sociedade precisamos urgentemente começar a repelir a retórica midiática capitalista de negar o envelhecimento que nos é enfiada goela abaixo todos os dias. E sim entender o processo, aceitando-o da melhor forma possível, mantendo a boa autoestima. O papel do Estado é fundamental na melhoria das políticas de inclusão, que devem garantir o espaço dos idosos no convívio em sociedade. Asilo não é sinônimo de crueldade, mas idoso fica melhor em casa.
Editora Devir, Capa dura, 104 páginas, R$ 59,00
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