Há tempos que eu, como todo bom fã de nosso bom e velho Faroeste (ou Western pros gringos) que tenho curiosidade de ler esse clássico personagem que é o Mágico Vento. Sempre vi as capas e achava fascinante as referências à cultura nativa dos Sioux e outras tribos conhecidas, ou infelizmente não tão conhecidas atualmente. Finalmente graças à Mythos Editora fui agraciado pelos deuses antigos a resenhar e a degustar pela primeira vez esse personagem que me deixou fascinado desde a primeira leitura (desculpa Tex, mas agora tem alguém que vai competir com você).
O volume 2 de magico vento se trata de uma história sobre esse animal forte chamado Águia, aquela tanto usada pelos americanos e europeus brancos pra representar força e liderança, porém com o roteiro fabuloso de Manfredi relembrando o conceito por trás desse animal mitológico dentro da cultura dos nativos Sioux, como um animal que apesar de voar e se manter sempre acima dos seres humanos, sempre desce de seus vôos para se alimentar ou descansar, mostrando que até a figura mais imponente também tem sua fraqueza. A águia traz o conceito de se ver a vida num sentido mais amplo e não só no sentido da dualidade. A história fala sobre como o maniqueísmo e como não enxergar as coisas no sentido mais amplo podem afetar as nossas percepções e até nos levar a ruína. Iremos acompanhar a história de uma criança que é levada por uma águia misteriosa e toda a jornada do nosso herói Mágico Vento para recuperar a criança e mostrar que só humildade e exercer visão num sentido mais amplo ajudam a solucionar nossos problemas.
No volume 3 temos o amigo do Mágico Vento de nome Poe (e parecido com o clássico autor) se confrontando com os nativos da tribo de MV por motivações culturais, com ele mostrando seu preconceito sobre os nativos, os Sioux. Logo ele já volta pra cidade pra encontrar seu velho amigo, o jornalista Henry, para denunciar uma polêmica que ele acabara de descobrir com um dos candidatos a senador dos Estados Unidos, e lá se depara com uma grande conspiração envolvendo esse político. Desde uma mulher que usa sua “caridade” pra encobrir crimes, desde jornais aliados a políticos que nem sequer o denunciam e policiais locais corruptos, mostrando que o “mundo selvagem” do qual Poe fugiu na verdade é muito mais brutal e selvagem do que o de seu amigo nativo. Aqui vemos a influência forte que Mágico vento carrega de fantasia, pois apesar de ser ambientada num período histórico existente com vários eventos que realmente aconteceram, a obra é carregada de magia e fantasia, o que deixa a trama ainda mais divertida de se ler.
Na quarta edição, na história “A besta” nosso herói e seu amigo Poe encontram uma trupe de dançarinas itinerantes que estão procurando a casa do irmão de uma das garotas, que agora está refinando petróleo em território mórmon. Esse volume além de discorrer um pouco sobre a fé mórmon também informa muito sobre o início da corrida pelo petróleo, dando a origem aos monopólios que conhecemos até hoje.
As mulheres da trupe são fortes e algumas possuem até um passado triste, porém não as tomem por “donzelas indefesas”, muito pelo contrário; são belas jovens armadas até os dentes e que sabem revidar! Aqui temos mais uma vez o nosso toque de fantasia quando a própria “besta” aparece, mostrando claramente o crime do “homem civilizado” de roubar os recursos naturais e incentivar ainda mais a exploração do homem pelo homem.
Nesta quinta edição temos uma crítica social bem mais direta ao machismo estrutural, Manfredi mostra a partir de uma lenda dos nativos de Dakota uma criatura chamada Whopi, que é uma figura feminina, também conhecida como Mulher Bisonte, que responde com violência dobrada a qualquer ato que homens inflijam a ela, e que acaba salvando outra mulher de um acidente terrível. Aqui a história escancara o machismo caduco daquela época e que infelizmente perdura até hoje, com a nativa sendo quase abusada diversas vezes por apenas não ter roupas, mostrando assim toda a violência da colonização feita pelo homem branco, e não só criticando a colonização, mas toda a estrutura da sociedade falso moralista cristã americana (e mundial), já que a personagem branca que é salva, chamada Clarissa, é de uma cidade muito conhecida por nós chamada Salem, que condenou várias pessoas, a grande maioria mulheres a serem queimadas vivas ou enforcadas por simplesmente tentarem ajudar as pessoas com medicina natural, assim como várias nativas, sob o pretexto de estarem praticando bruxaria. Aqui temos uma grande história não só pela riqueza de mostrar a cultura nativa, mas de também condenar ainda mais o machismo.
Para mim, ler Mágico Vento foi como desbravar as aldeias e a América ao lado do indígena e de seu companheiro Poe. Foi ficar muito perto não só dos mistérios, mas de toda a cultura indígena, ler os conselhos do Cavalo-manco pra Poe ou para o nosso protagonista e guardar muitas lições para mim mesmo. Como fã de faroeste eu me sinto muito feliz de ver um quadrinho e histórias do tema dando não só espaço à cultura nativa dos verdadeiros americanos, mas também dando espaço a personagens mulheres fortes, sem aquela sexualização íncômoda e outras coisas que ainda vemos ser tão comuns nos quadrinhos. Espero em breve ler mais Mágico Vento e continuar desbravando os Estados Unidos com a fé no “Grande Espiríto”!
- Capa comum : 100 páginas
- Dimensões : 21 x 15.2 x 1 cm
- Editora : Mythos (20 março 2020)
- Idioma: : Português
- Preço de capa: 28,90
Texto por: Matheus martiniano @martinianofromars