ATENÇÃO: Você está entrando no território dos Warriors, de Coney Island! Prossiga por sua conta e risco!

Este filme de 1979 de Walter Hill (que também nos trouxe em 1982 o filme 48 Horas, com a estréia de Eddie Murphy no cinema e Ruas de Fogo em 1984, com Willem Dafoe), acabou virando um sucesso cult e foi ganhando cada vez mais fãs ao longo dos anos.

Numa época muito antes de Netflix, PirateBay, YouTube… Não, espera… Muito antes da popularização do VHS, fomos apresentados ao filme The Warriors, ou Selvagens da Noite, se preferir. Filme este que foi responsável por fazer uma molecada ficar acordada até tarde (sem que os pais soubessem, claro) para acompanhar a saga de um grupo de Coney Island (os Guerreiros), lutando por suas vidas, acusados injustamente pela morte do lider da gangue dos Riffs, Cyrus.


Os Riffs, além de possuírem um verdadeiro exército são os mais organizados, contando com uma eficiente rede de informações, que inclui a DJ de uma rádio que monitora a movimentação dos nossos Guerreiros. Por falar nisso, lembrei de uma coisa: (Costinha mode ON) Esse recurso, de utilizar um DJ “acompanhando” um personagem, foi utilizado antes, no filme Vanishing Point, de 1971, que foi chamado em Terras Tupiniquins de “Corrida Contra o Destino” (que acabou virado base para o videoclipe “Show Me How To Live” do Audioslave). Mas deixa eu voltar ao assunto antes que me perca (Costinha mode OFF). Voltando a falar dos Riffs: eles são, claramente, uma referência aos Panteras Negras (Não, amiguinhos. Não estou falando do personagem da Marvel), que nos anos 60, era o principal grupo de luta pelos direitos da população negra. Com seus membros armados e uma organização quase militar, chegaram a ser considerados pelo FBI a principal ameaça à segurança interna dos Estados Unidos.

Voltando ao filme: Cyrus propõe uma trégua e reúne 9 membros das principais gangues de Nova Iorque. Com seu discurso quase messiânico, conclama a união de todas as gangues, pois assim, dominariam não só o crime organizado, mas também toda a polícia. No auge do seu discurso, Luther – líder dos Rogues – atira em Cyrus, no momento em que a polícia chega ao local (Coincidência? Furo no roteiro? Nada disso! Leia a Teoria Warriors, do nosso amigo Eduardo Cruz e você entenderá). Uma confusão generalizada toma conta do local e Luther acusa os Guerreiros pela morte de Cyrus. “Olha ele ali! É o Guerreiro. Ele atirou em Cyrus!”. A partir desse momento, começam os problemas para o grupo de Coney Island.

Assim como todas as gangues da cidade, os Rogues também resolvem perseguir os Guerreiros para que ninguém descubra quem foi o real responsável pelo atentado. A cada esquina, um novo perigo. Uma nova gangue para enfrentar (exceto os Orfãos. Eles não oferecem perigo algum…rs).

Os órfãos, uma turma da pesada…. só que não.

Numa jornada pela sobrevivência a caminho de casa, vamos sendo apresentados aos personagens que nos fascinavam (e ainda fascinam). Como não amar odiar o Ajax, com seu jeito explosivo e rebelde? Como não ficar fascinado com o carismatico Cyrus? Como não acreditar que, SIM, o Cisne era agora o verdadeiro lider dos Guerreiros? Como não ficar ansioso para ver como eles iriam enfrentar os Baseball Furies correndo pelo parque, ou os Punks no banheiro do metrô (para mim, a melhor luta do filme) e ainda conseguir fugir da fúria dos Riffs?

Nem todos os Guerreiros chegam ao seu destino. Algumas baixas ocorrem no caminho. Mas Nada disso é spoiler. É somente o plot do filme. Mesmo que considere spoiler, não vai estragar a sua experiência em assistir o filme. Afinal de contas, já assisti tantas vezes e ainda me empolgo e me divirto.

Ok…. Toma um spoiler então: Ajax vai preso!

A editora Dynamite lançou em 2009, uma HQ que é uma continuação direta do filme. Com a presença de algumas gangues conhecidas do filme, além de outros membros que haviam ficado em Coney Island, “The Warriors, Jailbreak” é dividida em quatro edições, em que os Guerreiros vão se organizar para tirar Ajax da prisão. “Ajax é um de nós. Nós somos tudo que temos”. Afinal de contas, como Cisne aprendeu com Cleon: “Nós nunca deixamos outro Guerreiro para trás”.

Vale a pena ler e revisitar os personagens que assistimos por tantas vezes. É fácil de encontrar para baixar, digo, comprar.

Por mais que você já conhecesse bem a história e os personagens, esse é um daqueles filmes que sempre nos deixava com um gostinho de “quero mais”. Até que, em 2005, a Rockstar lança o game The Warriors para o Playstaion 2.

Sim!! Estava acontecendo!! Você finalmente podia se tornar um Guerreiro e explorar mais daquele mundo. Quando vemos a roda gigante de Coney Island, já sentimos logo: opa!! Isso está legal! Mas quando entra a abertura do jogo tocando a música tema, somos imediatamente catapultados diretamente para o meio daquele universo.

Entre pixações, roubo de toca-fitas, uso de drogas e brigas com outras gangues e a polícia, você vai avançando e ganhando respeito no grupo. O trabalho cuidadoso de ambientação da produtora do game, nos proporcionou uma imersão completa na vida de um Guerreiro.

Desperte o guerreiro em você!

Nos lembrando em muito o estilo GTA, o game vai nos apresentando fatos que antecedem o filme, indo até o enredo original. Esse é um jogo que ainda hoje me diverte bastante, me prendendo por horas e horas.

Ainda assim, a experiência não estava completa.

Na abertura do filme víamos nos créditos iniciais “Based on The Novel by Sol Yurick”. Ou seja, ainda tinha uma peça faltando. Era um livro que nunca havia saído no Brasil e as esperanças de te-lo nas mãos era zero. Se não saiu antes, porque alguém resolveria lançar agora?

Mas surpreendentemente, a Darkside Books nos presenteia com essa pérola esquecida no tempo.

Com uma belíssima edição e com uma capa que lembra o couro dos coletes dos personagens do filme, o livro traz ainda, um prefácio de 36 páginas escrito pelo autor.

O autor, Sol Yurick, trabalhou no Departamento de Bem Estar Social de Nova Iorque e teve contato com uma realidade que não lhe era familiar. Pessoas que viviam na extrema pobreza e que viviam excluídos e marginalizados pela sociedade. Algumas das crianças dessas famílias eram delinquentes e pertenciam a gangues de brigas, em uma quantidade tão grande, que se assemelhavam a verdadeiros exércitos. Com essa realidade na cabeça, surgiu em sua mente a ideia de escrever sobre o assunto.

Apesar de serem personagens de de ficção, não podemos negar que trata de uma realidade muito mais próxima que gostaríamos. A projeção de uma vida sem futuro, acaba com qualquer tipo de “humanidade” em uma pessoa; levando-a, muitas vezes, a encontrarem na violência uma forma de revidar tudo que sofrem, alimentando ainda mais o ódio da sociedade e entrando num círculo vicioso de violência infinita.

Mesmo os nomes dos personagens e do grupo sendo diferentes, conseguimos identificar cada um através de suas personalidades. O livro se passa, principalmente, entre a noite do feriado de 4 de julho e a madrugada do dia seguinte.

Ismael queria que todas as gangues se unissem e mostrassem sua força. Afinal de contas, unidos, eles eram cerca de cem mil, enquanto que na cidade, só haviam vinte mil policiais. Se eles permanecessem desunidos, lutando uns contra os outros, isso ajudaria o sistema. Sendo uma coisa só, eles poderiam dominar tudo e cobrar impostos da cidade e do crime organizado.“Quem liga para nós?” “Os inimigos são os adultos, que nos humilham” – Ismael possuía um ressentimento abaixo da superfície e conseguia manter seus “soldados” sempre carregados de ódio.

Depois de um discurso que motivou a todos, um grande mal entendido ocorreu no meio da multidão, causando brigas e um caos generalizado. Descobrimos então, que nem todos cumpriram a promessa de comparecer sem armas. Ouve-se um tiro e Ismael é atingido. A partir desse momento, acompanhamos a luta dos Dominadores para chegar em casa, em Coney Island.

Por favor, não faça isso no seu exemplar!

Enquanto o filme traz um aspecto quase romântico para a existência das gangues, no livro vemos essa realidade muito mais crua e cruel. Os membros de gangues não são homens adultos. Elas são formadas por adolescentes e pré-adolescentes, tentando mostrar força dentro do grupo, ganhando respeito e provando que não eram mais crianças. Parecia que a qualquer momento apareceria alguém falando como o Dadinho em Cidade de Deus: “Criança? Eu fumo, eu cheiro, já matei e já roubei. Sou sujeito homem!” A violência é algo catártico para eles. Não importando o tipo de violência, nem contra quem é cometida; nos lembrando, por muitas vezes, Alex DeLarge e seus druguis, em Laranja Mecânica.

Sem me aprofundar nos acontecimentos do livro, posso garantir que você pode mergulhar de cabeça na história. Você será envolvido pelo livro e terá sentimentos antagônicos em relação a alguns personagens e suas atitudes. Sem dúvida, uma leitura que vale muito a pena. Principalmente por ser a última peça que faltava no “universo” The Warriors, pelo menos aqui no Brasil.

Obs.: Hollywood já sinalizou algumas vezes que pretende fazer um remake do filme. Obrigado, mas não quero! Definitivamente, vai ser um filme que eu não vou querer ver. Prefiro ficar com o trailer feito por fãs:

Se você não assistiu o filme, não jogou o jogo, não leu o livro e não sabe por onde começar, pode fechar os olhos e escolher qualquer um sem medo. Você estará certamente muito bem acompanhado. Afinal de contas, os Guerreiros não são só bons, ou muito bons… eles são os melhores!

Então, vista seu colete de couro, coloque “Nowhere To Run” bem alto na vitrola e tente chegar à salvo em casa.

COME OUT TO PLAY!!!



ZonaNegativa
A Zona Negativa existe, e é o espaço onde cada um de nós guarda e explora nossos universos fictícios, onde nos encontramos, debatemos, sugerimos e conhecemos outros mundos, para que nossa missão continue interminável. Há uma infinidade de beleza e horror na Zona Negativa. Vamos explorá-la juntos?

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