Pois é, depois das resenhas dos livros anteriores escritas pelo Eduardo daqui da Zona (Duna AQUI e Messias de Duna AQUI), eu agora assumo a tocha e vos escrevo a resenha do terceiro livro, e último da “primeira trilogia”, e o começo de uma história cada vez mais política e complexa (sim, como se já não bastassem os primeiros livros.)
Temos agora o nosso já velho conhecido Paul não participando da história pela primeira vez, o que já deixaria tudo estranho se não tivéssemos personagens tão carismáticos quanto ele, mas estamos falando de Duna, então adivinhem, temos vários personagens e somos introduzidos pra outros ainda mais complexos. Agora vemos Alia controlando Arrakis sob mão de ferro e com uma fervorosa religião a favor dela e da lenda chamada Paul Muad’dib, que virou uma espécie de Deus para seu povo desde o encontro com o divino Shai Hulud, o gigante verme da areia que é reverenciado no Planeta Arrakis. Porém, ao mesmo tempo que a devoção radical aumenta, se eleva ainda mais a miséria do povo, e os costumes Fremen basicamente são quase que abolidos.
Arrakis, ao invés de ser aquele grande deserto hostil a qualquer vida, agora é um planeta em transição de utopia, finalmente os planos do ecologista imperial Kynes se tornaram materialmente reais, há água em Duna! Agora não só existem torneiras e chuveiros, os Fremen se sentem ultrapassados e jogados fora, já que uma parte do planeta ainda é desértica demais para produzir e comercializar o tão famoso e cobiçado Spice, ou especiaria como na tradução feita pela editora Aleph. Alia se vê dentro desse planeta em mudança, sentindo as consequências de ser uma “abominação”, como chamam as ardilosas e calculistas Bene Gesserit. A presciência não só a atormenta, como a aprisiona e a faz se sentir imóvel perante um universo onde o natural é estar em constantes mudanças, sem falar nas constantes vozes que ela ouve pela consequência de ser exposta à água da vida ainda na barriga de sua mãe, Lady Jessica, que aparece muitas vezes nesse livro e faz parte de tramas ao estilo Bene Gesserit, de planejamento de conspirações e varias de suas ‘doideiras’ políticas a que estamos acostumados em Duna, assim como o personagem preferido de quem vos escreve, o queridíssimo Stilgar.
“Stil” se vê encurralado num reinado onde tudo perdeu seu grande propósito que era marchar para frente, mas como um fiel amigo leal aos Atreides, ele ainda continua tentando ajudar Alia, mesmo percebendo que sua atual regência só está conduzindo não só a decadência de Arrakis, mas com o retorno de eternos erros que nunca são revisados ou consertados, ao mesmo tempo ele vê grande esperança nas duas crianças que aparecem nesse livro e que são as protagonistas que não posso deixar de falar, o grande Leto II e sua irmã Ghanima.
Ambos também foram expostos a água da vida muito cedo, então eles também compartilham da mesma intelectualidade de Alia quando ainda era criança, são crianças que conseguem reviver muitas vidas passadas, enxergar os erros cometidos e enxergando esses erros, o Leto II planeja o tão idealizado Caminho Dourado, porém pra atingir este mesmo Caminho, ele percebe que terá que batalhar muito, porém não é só isso, mas mudar muita coisa dentro dele mesmo e também fora, e com isso terá a ajuda total de sua irmã Ghanima que não só compartilha das suas ideias, mas que também está disposta a se sacrificar se possível para trazer a vida o Caminho Dourado .
Assim como diria Heráclito: “Ninguém nada no mesmo rio duas vezes”, e é isto que o Leto sonha. Com um universo que possa extinguir os Kwizats Haderach, um universo sem Muad’dibs, já que ele percebe (e numa cena épica do livro) que o seu pai na verdade estava preso num ciclo sem fim, a presciência invés de ajudar, fez com que Paul enxergasse apenas um caminho a ser trilhado, e com tanta fé em um só dogma acabou percebendo somente no final de sua vida que o dogmatismo trouxe apenas o universo, e Arrakis a mesma ruína que estava quando os Harkonnen, sim, os temidos Harkonnen, estavam no poder.
Esse livro é cheio de ação e aventura, contendo muitos momentos de reflexão e crítica, principalmente nos capítulos do Leto com a Ghanima e toda a concepção do Caminho Dourado e como o Leto quer cortar com a presciência e na verdade agir de acordo com as condições materiais e atuais daquele seu planeta e universo, porém ele sempre acerta na dose de te empolgar e te deixar sedento para ver o caminho dourado se tornar uma ideia concreta, de ver todos os sonhos do Leto se tornarem reais.
Assim como o titulo do livro, somos agora os filhos de Duna, somos as crianças que nesse período da vida são completamente livres não só pra sonhar, mas pra viver e criar algo novo, a termos sensibilidade e amor sincero com as relações perto de nós, não somos mais os velhos dogmas e velhas religiões como a seita das Bene gesserit ou os leais da Jihad do Paul, somos agora uma folha em branco com todo um caminho lindo ou terrível a trilhar, porém só com a folha realmente em branco é que podemos criar e escrever um caminho novo, e assim como o Leto enxerga esse caminho dourado, nós também enxergamos e o desejamos, agora somos as crianças de Arrakis, porém sobre o caminho dourado, vocês só saberão se vai vir ou não na nossa próxima resenha de O Imperador Deus de Duna.
Detalhes da edição:
Capa dura com 528 páginas com arte de capa e guarda lindíssimas, assim como uma tradução fenomenal.
Texto por Matheus Martiniano @martinianofromars