O dia em que conheci o viajante de outra realidade foi algo completamente inesperado. Era noite alta e ele apareceu bem na minha frente, atravessando um rasgo de luz na membrana entre esse universo e o outro de onde ele havia acabado de pular. Ele era exatamente como eu: Dois braços, duas pernas, uma cabeça. Alienígena apenas no sentido de que era oriundo de outra Terra. Disse estar procurando um mundo melhor, e ainda não havia conseguido encontrá-lo. Todas as Terras para onde ele havia se lançado até então tinham algumas… incongruências que não favoreciam sua permanência, por isso ele estava sempre saltando de uma para outra. Em algumas dessas Terras alternativas ele havia chegado anos depois de eventos cataclísmicos que só deixaram para trás cinzas, ruínas e fantasmas de uma existência impossível de ser retomada. Em outras ele mal havia conseguido escapar, pois chegara no ápice de eventos terríveis: Desastres naturais, eventos de extinção, invasões por criaturas indizíveis, infecções linguísticas de idiomas alienígenas que a tudo consumiam sem distinção ou coisas ainda mais estranhas e incompreensíveis decretando o fim de mundos inteiros. Em outras realidades ele se deparara com distopias terríveis, que sob o falso pretexto de promover a igualdade entre os povos, escravizara e oprimira a todos com seus sistemas insanos. Na maioria das Terras paralelas os eventos mais corriqueiros haviam ocorrido de forma tão diferente que ele defrontou-se com culturas impossíveis de se compreender. E por isso, para ele era impossível se imaginar fazendo parte daquelas realidades.
Era preciso continuar procurando. Saltando pelo multiverso.
“Mas por que você abandonou sua realidade em busca de uma melhor? O que havia de tão detestável na sua Terra?“, perguntei. Ele respondeu que seu mundo havia sido destruído por seu próprio povo, que havia abandonado o escambo eras atrás e iniciado um destrutivo ciclo baseado em comércio e moedas. A princípio o sistema fazia sentido e era regido com sensatez e equilíbrio, porém, com o passar das eras seu mundo havia alcançado tamanho grau de fetichização deste sistema de compras e vendas que por fim, tudo se tornara mercadoria. Absolutamente TUDO. E em seguida tudo se tornaria um inferno. A moeda mandava em todos e quem tinha mais dela acumulada impunha sua vontade autoritariamente. Pessoas morriam por capricho ou entretenimento. Pessoas eram compradas e vendidas. Sua realidade havia se tornado deplorável. Frente a esse insano raciocínio de que tudo era comercializável, os recursos de seu mundo logo se esgotaram. O ecossistema morrera. Tudo que restara em sua Terra natal era o dinheiro. E o dinheiro não pode ser comido. A vida se tornara insustentável. Era preciso fugir e recomeçar, encontrar um lugar onde a humanidade ainda fosse de fato humana.
“E aqui, vocês são regidos por algum tipo de sistema econômico onde os que acumulam a moeda ditam todos os rumos sem levar em conta qualquer outro fator? Sem considerar a saúde do planeta onde vivem, sem considerar as necessidades das outras pessoas? Ou minha busca chegou ao fim?“, o viajante perguntou, a exaustão à mostra em seus olhos lacrimejantes.
Sem respondê-lo, dei-lhe um murro certeiro que o desorientou, derrubando-o no chão. Ainda atordoado, bati mais algumas vezes e arranquei-lhe todos os equipamentos. Tudo parecia muito fácil de usar, e acredito que em questão de minutos devo conseguir saltar para outra Terra. Um mundo melhor do que esse aqui.
Eu sabia que não estava no melhor universo possível. Mas eu iria encontrá-lo.
<Final alternativo: Eu lhe respondi que nessa Terra acontecia exatamente a mesma coisa que em sua Terra de origem. Tudo pode ser comprado. Tudo pode ser vendido. Ele me encarou com lágrimas nos olhos e choramos juntos pela única coisa que tínhamos em comum em todo o multiverso. Depois lhe dei um murro e roubei seu equipamento de qualquer forma. Certos resultados não variam nunca.>
Eduardo Cruz (@eduardo_cruz_80)
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Mais um conto genial!
Mais uma vez muito obrigado! Nosso leitor mais fiel!
Obrigado por seu carinho e apoio sempre!