(Inspirado em um singelo sonho narrado por nossa leitora Milena Leal)
Fui pega por uma tribo de canibais.
Eu e meu noivo adoramos turismo ecológico. Trilhas. Caminhadas mata adentro. Muito mata adentro mesmo. Gostamos de nos embrenhar na floresta, longe de todo mundo. Não somos amadores nem curiosos, temos equipamento apropriado, pesquisávamos sobre sobrevivência na selva e não tínhamos medo.
Autoconfiança demais pode te matar de formas horríveis.
Caímos em um buraco que depois percebi que só poderia ser uma armadilha deles. Meu noivo deu sorte. Quebrou o pescoço. Morte instantânea.
Já eu acordei no coração da floresta, cercada de indígenas estranhos – esquisito, a pele deles é clara demais – todos com dentes afiados olhando diretamente nos meus olhos. Nunca ouvi falar de uma tribo com essa aparência, eles devem ser muito isolados. Dei um berro e me levantei, tentei correr, mas apareceram mais cinco deles. Me cercaram. Tentei gritar mas enfiaram um animal morto na minha boca – nunca ouvi falar de nenhuma tribo indígena com esse costume -, a consistência dos pelos molhados e o fedor de podridão me deixaram tonta. Amarraram minhas mãos e pés.
Os indígenas (um deles disse “carne fresca!” ou isso é o pânico me deixando confusa?) começaram a fazer pequenos cortes nas minhas pernas, lambendo o sangue. O sangue escorria dos cortes, mas eles não lambiam ao mesmo tempo, se revezando nessa nojeira um por vez. Cortaram meus dedos e comeram como se fossem aperitivos, se deleitando em chupar a carne dos ossos. Um deles disse “que delícia” ou estou delirando de dor??? Até que se cansaram disso e começaram a cortar pedaços maiores. De baixo para cima. Pés. Canelas. Joelhos. Coxas.
Não sei quanto tempo se passou. Dias? Semanas? Estou aqui, amarrada, sem as mãos, as pernas consumidas e cuidadosamente garroteadas quase na altura dos quadris. Eles me mantêm viva, me alimentam. Esse cheiro vem de mim?
Porque não acabam logo com isso???
Eles realmente falam português. O “cacique” deles me contou de onde vieram: falou sobre a fuga em massa do hospício, falou sobre como se embrenharam na mata, ficando mais selvagens conforme os anos passavam. Também me contou que não vão devorar mais nenhum pedaço meu. Afinal, eles precisam dar continuidade à tribo, e eu seria mãe de vários de seus Filhos da Mata, como eles se denominam, pelos próximos anos que virão…
Eduardo Cruz (@eduardo_cruz_80) e Milena Leal.
Os Contos da Zona são histórias escritas pelos membros da Zona Negativa, com o objetivo de expandirem a produção de conteúdo para além das resenhas. Assim sendo, esperamos proporcionar boas experiências de leituras e reflexões. Deixe seu comentário.
Meu amigo é muito fodaaaaaa!
Ficou perfeito, Edu!
Valeu Mi, mas o sonho é seu rs.
Um pesadelo assustadoramente formidável!
Não tenho como descrever de outra forma como me senti, lendo e avançando na leitura desse conto!
Muito bom!
Obrigado Josias! Stay tuned for more! rsrsrsrsrs