CONTOS DA ZONA: Os Fluminenses – Esther, a Diarista Alpinista Social de Parque Lafaiete.

(Os nomes dos locais e dos envolvidos foram alterados para preservar o sigilo, mas que é real, isso é!)

Quando Neusa, a mulher de Betinho, faleceu, depois de um relacionamento ininterrupto de 51 anos, todos em volta tiveram a certeza de que ele, sofrendo de saudades, não resistiria e seguiria a amada companheira em seu destino final. Tal presunção era reforçada pelo fato de Betinho, ao longo da vida, ter desenvolvido problemas cardíacos bastante preocupantes. Sua cardiopatia era vista como um estopim para o inevitável, em especial depois da morte de Neusa. As pessoas mais convictas disso eram as filhas do casal, Roberta e Andressa, e também Heloísa, uma prima de Betinho que tendo sido criada junto com ele o considerava um irmão mais velho e que, portanto, eram especialmente zelosas com Betinho, fragilizado pela perda sentida a cada dia. 

Porém, de alguma forma Betinho não sucumbiu ao luto devastador. Apesar da tristeza constante e evidente, fosse pelos netos, que o animavam com suas brincadeiras, pela vida confortável que sua aposentadoria proporcionava ou por sua modesta mas muito bem cuidada casinha de praia em Muriqui, um refúgio de seu bairro em Parque Lafaiete, Duque de Caxias, Betinho se agarrou à vida e seguiu vivendo, contrariando as expectativas de seus entes queridos, o que causava enorme alívio a Roberta, Andressa e Heloísa, apesar da tristeza no semblante de Betinho raramente se dissipar. Contudo, apesar do luto constante, a vida seguia seu curso.

Embora a disposição de Betinho em procurar uma nova companheira fosse nula, interesses no velho aposentado começavam a se manifestar: Esther era uma prima de Betinho, que no passado havia sido casada com um primo do mesmo. A separação se dera pelo mesmo motivo dos outros dois casamentos anteriores de Esther. Ela sempre alegava não haver homem com receita que bastasse para sustentá-la. Reclamava pelo bairro, para todas as clientes, enquanto desempenhava seus serviços de manicure que “Eu só arrumo marido duro”, “Não dou sorte com homem pra me sustentar”, “Nenhum dos meus maridos presta!”, “Quem vai sustentar meus cinco filhos agora?” “Não quero saber de homem quebrado não, meu Deus do céu!”, maldizendo suas próprias escolhas e ressentida com a própria vida. Quando soube da notícia do falecimento de Neusa, um relógio iniciara uma contagem regressiva em seu subconsciente, uma corrida contra o tempo para conquistar o supostamente frágil e carente Betinho. Esther lutaria com todas as armas ao seu alcance para conquistar seu objetivo, um homem que finalmente tivesse uma renda decente o suficiente para assegurar o conforto dela e de seus quatro filhos: Robson e Reginaldo, os gêmeos com 17 anos, Anderson, de 16 anos, Valdízia, de 14 anos e Jefferson, 11 anos.

Muito solícita, Esther abordou Heloísa, lhe perguntando se seu combalido primo, agora viúvo, não precisaria de serviços de faxina, já que agora, sozinho em sua casa, uma manutenção de limpeza seria pesada demais para ser realizada com regularidade por alguém de setenta anos de idade com problemas cardíacos. Uma diarista se fazia necessária para o “coitadinho do Betinho não se estafar demais” e que ela estaria à disposição por valores muito amigáveis. Heloísa, principal membro da tríade de mulheres responsáveis pelo bem estar de Betinho, sem enxergar as segundas intenções, concordou, e combinaram o serviço para o dia seguinte.

Arapuca armada, na manhã seguinte era o Dia D e a Hora H, a hora da ofensiva, e o prêmio era alto e a contagem regressiva não pararia. Esther precisava conquistar seu almejado marido ‘endinheirado’ antes que Betinho olhasse para outra piranha, e a vantagem era que ela estaria bem na casa de seu “alvo”. Não tinha como dar errado! Dessa vez Santo Antônio olharia por ela! Mas só pra garantir, Esther vestiu uma blusinha antiga e apertada que amarrou na altura do umbigo, deixando entrever um pneuzinho ou dois, além de usar o shortinho mais curto que conseguiu achar em sua gaveta, puxando-o bem pra cima, espremendo-o em suas carnes flácidas, cada celulite queimando pela compressão do tecido, as polpinhas das nádegas, sem tônus, escorrendo pelas bordas dos shorts insuficientes para cobrir seus glúteos chapados. Agora ela se via pronta para faturar o prêmio. Essa faxina mudaria a sua vida!

Chegando às 9 da manhã em ponto, horário combinado para iniciar o serviço na casa de Betinho, Esther não esperava ser atendida por Heloísa que, fuzilando-a com um olhar reprovador por causa das roupas da diarista com segundas intenções, abre a carteira, paga a quantia combinada pelo dia de faxina e a dispensa, mandando-a de volta para casa. Esther não passara nem pelo batente da porta.  Betinho seguiria protegido de interesseiras de olho grande em seu patrimônio pois possuía três guardiãs implacáveis do seu bem estar, e Esther foi-se embora de volta para casa ainda indecisa se ficava contente por receber por um dia de trabalho não trabalhado ou se ficava frustrada por seu plano de sedução não ter dado certo.

Eduardo Cruz (@eduardo_cruz_80).

Os Contos da Zona são histórias escritas pelos membros da Zona Negativa, com o objetivo de expandirem a produção de conteúdo para além das resenhas. Assim sendo, esperamos proporcionar boas experiências de leituras e reflexões. Deixe seu comentário.

Eduardo Cruz
Eduardo Cruz é um dos Grandes Antigos da Zona Negativa, ou sejE, um dos membros fundadores, e decidiu criar o blog após uma experiência de quase-vida pela qual passou após se intoxicar com 72 tabletes de vitamina C. Depois disso, desenvolveu a capacidade de ficar até 30 segundos sem respirar debaixo d’água, mas não se gaba disso por aí.

Ele também tem uma superstição relacionada a copos de cerveja cheios e precisa esvaziá-los imediatamente, sofre de crises nervosas por causa da pilha de leitura que só vem aumentando e é um gamer extremamente fiel: Joga os mesmos games de Left For Dead e Call of Duty há quase 4 anos ininterruptos.

Eduardo Cruz vem em dois modos: Boladão de Amor® e Full Pistola®.

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