Cinema: AMEAÇA PROFUNDA (Underwater, 2020).

“O ataque do remake ruim que fingia que era uma produção original”…

O 20th Century Fox, como muitos outros estúdios e produtores de conteúdo em geral, parece ter percebido a popularização cada vez maior da obra de H. P. Lovecraft na cultura pop – ao que parece, ouviremos falar cada vez mais de Lovecraft nessa década que se inicia. Será que o Nas Montanhas da Loucura do Guillermo Del Toro finalmente vem aí??? – e faz nessa produção o seu movimento para capitalizar em cima deste boom vindouro, mas com bastante autoplágio de outras produções do estúdio como Alien, O Oitavo Passageiro (1979) e O Segredo do Abismo (1989).

Arte de The Call of Cthulhu, por François Baranger

Confesso que a produção só entrou no meu radar por conta dos rumores que diziam que Cthulhu, a criatura mais popular do legado literário de Lovecraft, seria mostrada no filme. O cuidado com a parte visual, de iluminação e de som é evidente, bem como as referências aos já citados filmes, que vão dos corredores claustrofóbicos da estação subaquática, muito semelhantes aos corredores da nave Nostromo de Alien, os altamente tecnológicos trajes submarinos, que remetem aos trajes espaciais e até mesmo a obrigatória cena em que a equipe está reunida em torno de uma das criaturas, analisando a ameaça que surge para dar fim à rotina na estação.

Parece que o diretor, o ainda desconhecido William Eubank sentou com sua equipe técnica, estudando por horas o longa de Ridley Scott, tentando capturar o espírito de Alien, O Oitavo Passageiro. Visualmente foi bem sucedido,embora isso seja uma ‘simples’ questão de orçamento, mas um filme não se faz somente com cenários, efeitos especiais e ambientação. Há muito mais elementos envolvidos na receita, e um diretor menor simplesmente não dá conta de controlar e administrar todos esse aspectos para entregar algo de alto nível. Mais especificamente, sente-se falta da mesclagem cuidadosa de ficção científica, ação, horror e até mesmo algum drama, todos presentes no Alien original. Sendo direto e reto, o saldo final é um ato de auto canibalismo da Fox que deu errado, muito errado.

Enredo

A produção é um embuste desde o início, quando tenta nos enganar, já nos minutos iniciais, com uma crise catastrófica na estação de mineração submarina de onde os protagonistas precisam escapar. A estrutura começa a se romper por motivos desconhecidos, e quando as primeiras pistas de que algo não humano está à espreita lá fora, no fundo das Fossas Marianas, o ponto mais profundo dos oceanos de nosso planeta, até mesmo nosso presidente da república é capaz de fazer a correlação entre os acontecimentos e perceber a causa e efeito: Criaturas atacam os trabalhadores da base de mineração que ainda não conseguiram fugir para a superfície nos módulos de fuga que a empresa disponibiliza na instalação. A situação catastrófica instalada logo no início do filme tenta nos distrair do fiapo de história. Aliás, uma tática desonesta que muitas produções atuais têm utilizado, entre elas o último Star Wars – Episódio IX, dirigido pelo embusteiro-mor de Hollywood, J. J. Abrams.

Daí se segue aquela dinâmica de perigo e fuga, embalada em um sci-fi claustrofóbico, fórmula já batida que de vez em quando uma ou outra produção Hollywoodiana tenta resgatar como se tivesse inventado. Mais um indício da crise criativa que acomete Hollywood há um bom tempo…

No elenco nada funciona, desde o subaproveitado Vincent Cassel (Dobermann, Irreversível) e seu arco dramático que envolve um segredo triste, ou o alívio cômico desempenhado por T. J. Miller (Deadpool) que acaba sendo fora de tom e até mesmo irritante de tão sem graça. Mas o destaque – negativo – fica por conta de Kristen Stewart, a eterna Bella da ‘saga’ cinematográfica Crepúsculo, a menina que sempre atua com o olhar blasé e a boca aberta. Dentro do raciocínio de plágio de Alien, Stewart equivale à Ellen Ripley do filme. Mas a Norah de Kirsten Stewart NÃO É a Ellen Ripley de Sigourney Weaver, mesmo que a cabeça raspada ou o figurino básico de top e calcinha em todas as cenas em que a atriz não está vestindo o traje submarino sugiram o contrário. É preciso muito, muito mais que isso para se construir uma personagem feminina forte, à altura da situação em que ela é colocada no roteiro.

O background da personagem é desempenhado de maneira vaga pela atriz, e se conecta de forma frouxa com os insossos arcos dramáticos dos outros personagens, que não geram identificação alguma com o espectador, fazendo com que não nos importemos com ninguém ali, além de oferecer um fiapo de trama, no contexto geral. Há também os comentários sobre ecologia e um discurso anti corporações que são pífios, tímidos, quase que pedindo desculpas por estarem lá.

Escola de atuação Kristen Stewart: Olhar blasé…
… e boquinha semiaberta.

Os efeitos especiais são outro embuste, já que o efeito de “água turva” nas cenas externas passa a impressão preguiçosa de que aquilo nada mais é do que um recurso para ocultar a má qualidade dos efeitos visuais. Em alguns momentos, principalmente na cena do ‘monstro final’ bateu raiva de ter que forçar a vista pra poder enxergar direito o que estava acontecendo. Covarde, para dizer o mínimo.

Mas é inassistível???

É mais divertido e empolgante se jogar em uma piscina sem saber nadar e tentar chegar na superfície. Pra molecada que tá chegando nos 16, 17 e nunca assistiu Alien, O Oitavo Passageiro, talvez seja uma produção impactante. Talvez até mesmo as pessoas mais velhas que porventura nunca assistiram Alien possivelmente curtam o clima opressivo, a lenta e progressiva revelação das abomináveis criaturas subaquáticas, bem como o plágio do recurso que James Cameron lançou mão na continuação Aliens, O Resgate (1986), a revelação do monstro maior por trás dos já terríveis monstros originais, elevando o nível da ameaça no ato final. Ou talvez seja mais uma daquelas superproduções atuais, que apesar dos efeitos multimilionários se mostre uma película sem muita, digamos, presença, daquelas que são esquecidas no ano seguinte, quando o próximo blockbuster chega e mata qualquer memória do blockbuster anterior.

Eduardo Cruz
Eduardo Cruz é um dos Grandes Antigos da Zona Negativa, ou sejE, um dos membros fundadores, e decidiu criar o blog após uma experiência de quase-vida pela qual passou após se intoxicar com 72 tabletes de vitamina C. Depois disso, desenvolveu a capacidade de ficar até 30 segundos sem respirar debaixo d’água, mas não se gaba disso por aí.

Ele também tem uma superstição relacionada a copos de cerveja cheios e precisa esvaziá-los imediatamente, sofre de crises nervosas por causa da pilha de leitura que só vem aumentando e é um gamer extremamente fiel: Joga os mesmos games de Left For Dead e Call of Duty há quase 4 anos ininterruptos.

Eduardo Cruz vem em dois modos: Boladão de Amor® e Full Pistola®.

4 comentários em “Cinema: AMEAÇA PROFUNDA (Underwater, 2020).”

  1. -Tendo em vista que não teremos nada parecido com o que foi o Alien, este filme foi o que chegou mais perto do agradável, mesmo mamando direto da fonte, vendo os filmes novos da franquia “Alien” que são um desrespeito o legado do que chamamos de Terror Sci-fi.

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      • ambientação foi maravilhosa ao meu ver, só achei a estória realmente uma merda ao ponto de não sentir nada nas mortes dos personagem, e algumas cenas irritantes como por exemplo, ela quebrar o helmet feito para aguentar altas pressão com facilidade.

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        • Os caras desenvolveram mal os personagens, não me importei nem com a protagonista, que aliás, é péssima! Tenho curiosidade em saber se a Kristen Stewart já entregou alguma atuação realmente boa. Ela é muito inexpressiva!
          Ah, e o capacete projetado pra ser usado no fundo das Fossas Marianas quebrar como uma casca de ovo? Não faltam insultos à inteligência nesse filme, apesar dos cenários serem nota 10.

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