RESENHA: Doutor Estranho no Multiverso da Loucura

Doctor Strange - A review by a Marvel Newbie at Geek Girl Authority

Que o Sam Raimi é um dos maiores diretores do cinema mundial, todos sabem (ou pelo menos deveriam), mas o que acontece quando a dona Walt Disney está pagando as contas? Será que um orçamento gigante e tecnologia de ponta serviram para agregar no trabalho do homem ou será que tudo isso acabou por prejudicar sua criatividade e transformou a experiência de assistir o filme num ESTRANHO momento?
Desculpa o trocadilho. Não resisti.

Confesso que minhas expectativas para o filme estavam um pouco altas, o que eu sempre tento evitar porque quase nunca dá certo. Mas veja, tivemos Wandavision, What If…?, Homem-Aranha: Sem Volta Pra Casa e tantas outras produções precedendo esse filme. Tudo isso somado aos trailers instigantes, me deixou, inevitavelmente, pilhado.

Quanto ao filme, preciso destacar todos os aspectos técnicos que pude notar ao assistir. Claro, existem outros, mas vou destacar os que mais me chamaram a atenção: A montagem do filme, por exemplo, é excelente, trazendo uma cena inicial frenética que captura a atenção do público facilmente e o ritmo do filme em si cai apenas nos momentos em que isso é necessário de fato. Os efeitos visuais estão deslumbrantes (Inclusive quero reassistir ao filme em 3D, pois acredito que vai valer a pena!). A trilha sonora de Danny Elfman, como sempre está na medida. Danny inclusive já trabalhou com Raimi antes, na trilogia do Homem-Aranha de 2002. Misturando sons mais limpos e eruditos com sons sujos e agressivos, a trilha consegue fluidamente ir da música Clássica ao Heavy metal em instantes sem deixar isso ESTRANHO. Tem até um momento onde rola uma, pasmem, batalha LITERALMENTE musical no filme. E o mais impressionante é que não ficou nem um pouco brega ou desencaixado.

Sam Raimi e Danny Elfman

Eu sei que vai soar como puxa-saquismo pro meu diretor favorito de todos os tempos, e talvez seja mesmo, mas cara, o Raimi ficou anos sem dirigir e não perdeu o fôlego de forma alguma. O maluco tá sinistro nesse filme e tá tudo ali: seu estilo de dirigir pessoas, sua forma de contar uma história através de planos simples e rebuscados, a forma de iluminar os objetos de cena (isso inclui os personagens), os enquadramentos e tudo que tange na maneira de como contar uma história. Alguns podem virar pra mim e falar: “Ah, mas a maioria disso daí não tem nada a ver, você falou um monte de coisa que é função do diretor de fotografia.” e essas pessoas poderiam estar até certas, pois existem diretores de fotografia que de fato impõem seus estilos ao filme ou que fazem com que cada projeto tenha uma cara diferente, mas há alguns diretores – e Raimi está incluído nisso – que fazem com que seu estilo pessoal tenha peso sobre as decisões dos outros departamentos criativos do filme.

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E estamos falando do cara que sabe muito bem como utilizar luzes de baixo para cima, distorções de imagem, desfoques, planos holandeses, planos de lado, câmeras chacoalhando, contraplongées, steadycams e outros recursos mirabolantes para contar suas histórias. Mas que diabos são essas coisas? Vamos lá, de forma resumida: Planos holandeses são enquadramentos de câmera tortinhos, com até 45º de inclinação, usados para estilo, enquadrar mais coisas na cena ou causar algum sentimento especifico, que foi o caso no filme. Contraplongées são enquadramentos com a câmera baixa, voltada para cima. E steadycam… Cara, é simplesmente aquela câmera estabilizada que caminha livremente por aí simulando a visão de uma pessoa. Recurso esse que foi inventado pelo próprio Sam Raimi em Evil Dead, de 1981!

Raimi ainda usou o orçamento enxuto para misturar comédia, drama, ação, terror e até um pouquinho de gore sem cair numa armadilha comum de quem tenta fazer isso, que é deixar o filme sem uma unidade criativa, ficando uma verdadeira bagunça sem um gênero próprio. E de alguma forma ele consegue equilibrar tudo isso junto pra fazer um projeto sólido, que pertence a todos os estilos cinematográficos citados acima sem se perder no caminho. Então obrigado ao ratão capitalista por confiar nesse cara incrível que soube deixar sua impressão digital de diretor bem gravada em cada frame do filme.

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OK, essas foram as minhas impressões gerais do filme SEM Spoilers. Mas a partir de agora eu quero entrar em um pouco mais de detalhes da trama pra conseguir explicar melhor o que eu senti assistindo esse filme. Então pra eu não ser um Spoilador maldito, aviso que a partir de agora, tudo o que estiver escrito em negrito contém spoilers. Então se você ainda não assistiu, corre lá pra assistir e depois corre aqui pra terminar de ler.

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SPOILERS A SEGUIR

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Bem, vamos começar a sessão de spoilers com a Vilã do filme. Elizabeth Olsen está impecável e sua personagem, apesar de megalomaníaca tem uma motivação completamente tocante, humana e compreensível até certo ponto. Em seu plano, a Feiticeira Escarlate persegue a jovem América Chavez a fim de absorver seu poder de atravessar dimensões para poder se mudar para uma onde seus dois filhos – vistos pela última vez em Wandavision – existam. E a revelação de que ela era a vilã desde o início foi apresentada de uma forma tão delicada e sutil que eu nem consegui captar de início. Em um simples diálogo tranquilo tudo fez sentido e os porquês de tamanha maldade foram revelados.

Doctor Strange 2': Wanda's Journey Is a Wild One | The Mary Sue

E ainda bem que existe o Doutor Estranho para impedi-la. Ou melhor… Os Doutores Estranhos, né? Pois conhecemos várias versões do Herói mágico aqui, uma melhor interpretada que a outra, diga-se de passagem. Benedict Cumberbatch soube dar vida a cada uma de suas versões com diferenças sutis na interpretação. Aliás, VIDA e morte, né? Por que, para mim, um dos pontos altos do filme é o momento em que o Doutor possui o corpo putrefato de outra versão de si mesmo de outro universo para lutar contra a Feiticeira. Cara, o bichão tinha uma capa toda feita de demônios e aparições. Sei que isso e a quantidade de participações especiais são, em boa parte, para vender bonequinho, mas não ligo e acho que tá tudo bem lucrar com isso também. Adoraria ter todos esses bonequinhos e inclusive, Hasbro, se estiver lendo isso, eu quero um boneco do Dr. Estranho Defensor zumbi com capa de capeta da linha legends pra ontem, ok? Por favor, produzam isso!

Kevin Feige Says DOCTOR STRANGE IN THE MULTIVERSE OF MADNESS "Will Make  EVIL DEAD II Fans Very Happy" — GeekTyrant

E falando nas participações especiais, que não foram poucas, tivemos o John Krasinski como Senhor Fantástico (como os fãs tanto pediram), Lashana Lynch (Maria Rambeu) como a Capitã Marvel, Hayley Elizabeth Atwell (Capitã Carter ), Anson Mount como o Raio Negro (sim, o ator da série fracassada dos Inumanos, mas com uma roupa bonita), Sir Patrick Stuart como o Professor Xavier (com uma cadeira de rodas igual a do desenho da década de 90) e o Barão Mordo (e assopro também) todos de outra dimensão. Com exceção do último, todos aparentemente morreram nas mãos da Feiticeira Escarlate de formas bizarras.

Inclusive, com essas mortes, o filme realmente termina de cumprir com todos os pré requisitos para um filme de terror e inclusive podemos até considerar que agora a Marvel fez um filme do gênero. Ele tem todos os elementos de um, é claro que de uma forma mais contida até por que o filme não pretende se vender como um produto 100% de terror e ainda tem classificação etária de 14 anos.

Why Doctor Strange & Scarlet Witch Become Zombies In Multiverse of Madness

Mas mesmo assim é impressionante a quantidade de momentos pesados no filme. A sequência inteira onde a Wanda persegue o Dr. Estranho, América e a Dra. Palmer é completamente assustadora. Tanto no trecho em que ela sai de uma superfície reflexiva no melhor estilo Samara, quanto no que ela, mancando, se aproxima do trio através de um corredor escuro. Antes disso ainda temos o Raio Negro tendo sua cabeça implodida pelo próprio poder, a Capitã Carter sendo cortada ao meio e outras coisas realmente impressionantes, mas é claro que só a violência gráfica não faz um filme de terror. Pois se fosse assim, Deadpool seria mais terror que “O Exorcista”. Pra se fazer um filme de terror, não há necessidade de violência e tampouco de sangue, e sim da junção de outros elementos, que garantem a Dr. estranho a vaga de primeiro filme de terror do UCM e tenho dito.

Olhando para as HQs consigo ver alguns cenários se desenhando como o futuro do UCM. Vejo facilmente os Jovens Vingadores, guerras Multiversais, e sagas cada vez mais grandiosas e perigosas, se aproximando talvez de um “Guerras Secretas”. As próximas fases do Marvel Studios prometem, resta executar bem executado.

Obrigado Sam Raimi por ter voltado a fazer filmes, especialmente esse, que com suas duas horas conseguiu trazer milhares de easter eggs e fan services dos seus filmes passados. Essas auto referências até seriam egocentrismo nas mão de outro diretor, mas nas suas viraram ouro, realmente foi lindo ver novamente o mal se locomovendo em primeira pessoa enquanto se prepara para atacar pessoas inocentes, ver o Bruce Campbell, o eterno Ash novamente tendo que lidar com a fúria dos próprios punhos. E ainda nos trazer novamente um protagonista tentando destruir um livro do mal que tem o poder de aniquilar mundos.

Bruce Campbell as Ash Williams and his possessed hand in #EvilDead (1987).  | Evil dead movies, Evil dead book, Fight movies
Bruce Campbell em Evil Dead 2 (1987)
Evil Dead Rise: novo filme da franquia ganha mais detalhes; veja! - TecMundo
Necronomicon, outro livro maligno que pode acabar com mundos.

Isso me lembra de agradecer ao lindo e barbudo Alan Moore por ter introduzido o conceito de Multiverso nos quadrinhos da Marvel. Sem você, nem isso aqui e nem o espetáculo que foi Homem-Aranha – Sem volta para casa seriam possíveis.

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Os únicos pontos negativos do filme pra mim foram: Não pesquisar certinho qual universo o UCM é, afirmando em certo momento que se trata do 616, quando já sabemos que este número é o do universo regular dos quadrinhos e o do cinema ocupa o número de 199999. E uma cena curta de luta mano-a-mano entre o Dr. Estranho e o Barão Mordo, onde os planos são confusos e parecem tentar esconder uma luta aparentemente não tão bem coreografada assim. Mas claro, não são detalhes desse tamanho que vão ofuscar toda uma experiência de assistir a um filme tão bem trabalhadinho.

Ah, ainda a tempo… O filme tem algumas coisas em relação a mães e isso me lembra de desejar um feliz dia a todas as mães que virariam um monstro pra proteger seus filhos.

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João Garaza
Bacharel em publicidade, ator, diretor e escritor que não se destaca em nenhuma dessas áreas.
Garaza tem um senso de humor exótico. (Algo entre tio sukita e pessoa que devia estar internada) Começou a ler HQs em 2006 e desde então acumula pilhas e mais pilhas de celulose superfaturada.
Fã do Capitão América, Deadpool, Batman e Lobo. Apreciador de autores e histórias despretensiosos.
Gosta também de passeios ao pôr do sol, andar de mãos dadas e está a procura de um novo amor. Joga a foto pra direita pra gente dar match!
;)

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