Saudações de quarentena a todos os leitores zonegativeiros. Hoje vamos falar sobre um herói bem antigo das HQs, então se você é fã, fica em casa e lê nossa resenha, afinal você provavelmente já faz parte do grupo de risco.
Devo confessar que iniciei a leitura do terceiro volume das crônicas clássicas do fantasma já achando que não gostaria, pois pessoalmente não sou lá muito acostumado ao ritmo dos clássicos da era de ouro dos quadrinhos. Longe de mim dizer que essa fase é ruim, mas seu estilo é, para mim, muito datado, parado e por vezes autoexplicativo demais. Porém ao ler esse volume não pude ter a certeza de que eu estava ficando velho, acostumado ou se o Lee Falk realmente sabia como escrever uma história. Na dúvida eu vou ficar com a terceira alternativa.
Que grata a minha surpresa ao ler uma história em quadrinhos da era de ouro e gostar tanto. Logo eu que sempre me incomodei muito com o ritmo e o estilo redundante das histórias desse período. Apesar dessa publicação em especial compilar tiras diárias e semanais de jornal da década de 40 e 50, é possível se divertir bastante com as mesmas, pois aqui o roteiro consegue se manter conciso e ritmado mesmo com os limites do formato, que por diversas vezes (em outros quadrinhos) transforma a HQ numa salada confusa e difícil de degustar. E apesar de não parecer se propor a isso, alguns dos temas aqui abordados flertam com questões sociais e filosóficas.
Agora vamos às histórias em si, começando do começo, é claro, onde conhecemos a origem do 21º Fantasma. Nessa primeira parte vemos seu rosto e boa parte de sua vida juvenil, acompanhando o herói até sua chegada a faculdade, passando pelos seus primeiros amores. Infelizmente só vemos seu rosto, até então desconhecido até sua chegada à puberdade (O que me faz refletir que talvez esse mistério envolve uma pele completamente marcada por uma fase altamente acneica. Será?).
Mais pra frente temos uma aventura típica do personagem, onde ele salva um par de donzelas em perigo da morte certa. Nada muito novo para o personagem aqui, mas é interessante ver como alguns elementos nas histórias de heróis permaneceram imutáveis até os dias atuais (Herói sedutor, Vilão arrogante e outras coisinhas mais.).
Num terceiro momento temos uma micro história onde o Fantasma acaba criando uma enorme confusão por causa de uma simples bebida. Causando uma verdadeira tempestade em copo d’água… Ou poderia dizer num copo de leite?
Por último, Falk cria uma narrativa onde o Fantasma precisa ajudar as pessoas ao seu redor a lidar com as consequências do preconceito que a sociedade acabou criando. Mostrando que nem sempre as coisas são preto no branco e que às vezes é preciso analisar as situações minuciosamente para não cometer enganos fatais ou impedir que pessoas que agem de forma errada tenham a chance de se ressocializar. É, parece que pro Fantasma, bandido bom não é bandido morto no final das contas.
Sendo franco, essa última história se mostrou um pouco arrastada e chatinha de ler, mas considerando todas as outras e as limitações do formato de tirinhas, esse detalhe se torna algo completamente ignorável e relevável. Enfim, não é uma obra absoluta e impecável, mas tem lá seus pontos positivos e consegue facilmente se destacar dentre outras da mesma época. Recomendo a leitura fortemente para os que conhecem e para os que não tiveram a chance de conhecer o personagem ainda.
Texto por João Garaza (instagram: @joaogaraza)
Editora Mythos.
100 páginas.
Capa cartonada.
Compila as edições #8, #11, #40 e #50 de The Phantom (Dominical Pages)
R$26,90
Garaza tem um senso de humor exótico. (Algo entre tio sukita e pessoa que devia estar internada) Começou a ler HQs em 2006 e desde então acumula pilhas e mais pilhas de celulose superfaturada.
Fã do Capitão América, Deadpool, Batman e Lobo. Apreciador de autores e histórias despretensiosos.
Gosta também de passeios ao pôr do sol, andar de mãos dadas e está a procura de um novo amor. Joga a foto pra direita pra gente dar match!
;)