Leitura da Quarentena #10: MARTIN MYSTÈRE #14 e #15 – John Dee, Magia Enochiana, Senhores do Tempo, Leap babes e a sedução de Java!

Mais MM para conta! O Detetive do Impossível está lidando com uma seita que pretende controlar o tempo, usando a famigerada Magia Enochiana de John Dee nesse processo. Vamos de dose dupla de Martin Mystère!

Arte da capa por Giancarlo Alessandrini

Em MM #14, “29 de Fevereiro“, Martin está em Londres para o lançamento de um livro, de sua autoria, sobre a forma como o homem lida com o tempo desde seu surgimento. Essa é, inclusive, uma ótima adição à história. Como se trata de um livro de trívia sobre o tempo (tem esse exato título, aliás), todo o clima de curiosidades sobre o assunto, nos monólogos de Martin citando o livro, são usados para explicar a trama conforme alguns eventos são apresentados. Ao invés de inserções engessadas e difíceis de digerir na trama, tudo funciona como uma visão adicional ao leitor sobre tudo o que está ocorrendo. E isso é, para mim, uma das qualidades em inúmeras histórias do Detetive do impossível.

Já no aeroporto conhecemos uma personagem muito importante para a trama, Sarah Moss, uma jovem atuante da área de relações públicas que foi indicada a cuidar da estadia de Martin, Diana e Java. Logo de cara, podemos perceber uma afeição da jovem pelo neandertal carismático. Eles são apresentados a um refinado clube onde são aceitos apenas membros que tenham nascido no dia 29 de fevereiro. Os Twentyniners são uma espécie de sociedade discreta, onde seus frequentadores se reúnem para conversar e se sentirem parte de algo. Sarah é a mais jovem entre os membros e também se destaca no seu jeito menos aristocrático de agir.

Antes que possa sentir o clima da cidade e curtir seu dia livre na agenda, nosso protagonista é convidado pelo inspetor de polícia local para auxiliar em um caso de assassinato. Uma jovem, nascida num dia 29 de fevereiro, foi assassinada na virada do ano e tudo o que a polícia tem, além de parcas provas, é uma suspeita, a jovem Sarah Moss! Desse momento em diante, Martin precisa ficar de olhos bem abertos com Sarah e os Twentyniners, e ao mesmo tempo se manter fora das suspeitas dos possíveis assassinos.

Todo o desenrolar da trama é bem interessante, envolvendo a questão do tempo, a cultura desse nicho dos aniversariantes de 29 de fevereiro (que são conhecidos como Leap Babes), magia, o romance de Java e as curiosidades sobre as diversas formas que a humanidade já adotou para mensurar e controlar a passagem de tempo. Além de reviravoltas que tornam o final mais gratificante para o leitor.

Arte da capa por Giancarlo Alessandrini

Já a edição #15, “O dia que não existia“, Martin volta para Londres onde lida diretamente com as consequências dos acontecimentos da edição anterior. Indo a lazer para Londres, o detetive resolve encontrar com seu amigo de longa data, Dylan Dog. Ao chegar no local do encontro, antes mesmo que pudessem apertar as mãos, Dylan e Grouxo somem, juntamente com todas as pessoas em toda Londres, e no resto do mundo, com exceção de Martin, Diana, Java e um bêbado curioso e hilário.

Enquanto temos praticamente toda a população terrestre desaparecida, um grupo de magos tenta recriar o ritual de invocação de John Dee, no qual ele convocava um “anjo” à sua presença e se comunicava com ele através da Linguagem Enochiana. Dee (1527-1609) foi um matemático, astrônomo, astrólogo, geógrafo e conselheiro da rainha Elizabeth I, que passou boa parte de sua vida dedicado ao estudo da alquimia, divinação, hermetismo e ocultismo no geral. Durante sua vida teve alguns ajudantes, mas de longe o mais célebre deles foi Edward Kelley, um médium que era visto por muitos como um charlatão, mas que ajudou Dee com os estudos sobre o que ele passou a chamar de “língua dos anjos” ou “língua adamica” numa referência a Adão, o primeiro homem segundo as escrituras cristãs. Dee teve uma trajetória fascinante e merece um texto só para ele num futuro próximo…

O texto de Andrea Pasini é muito gostoso e cheio de referências a história e magia. Um prato cheio para quem curte esses assuntos. A arte fica por conta de Giovanni Romanini, que tem um traço excelente, manda muito bem no detalhismo dos cenários, mas me incomodou algumas vezes na hora de retratar o Martin, o que é apenas um detalhe dentro de todo o resto, sem causar dano algum ao conjunto. As edições #14 e #15 de MM se completam de maneira orgânica e são uma delícia de leitura. Ótima pedida nesses tempos de isolamento.

Texto por Pedro Rodrigues – Instagram: @prodrigues27

Martin Mystère #14 – 29 de Fevereiro
Capa cartonada, 100 páginas, R$ 26,90
Martin Mystère #15 – O Dia Que Não Existia
Capa cartonada, 100 páginas, R$ 26,90
Editora Mythos

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Pedro Rodrigues
Perdido na vida há trinta anos, sem vocação pra ser "cult" e fã dos escritores britânicos. Estuda tarô, cabala, hermetismo, magia do caos e teoria da Mãe Piruleta que traz seu amor em três dias em território nacional. Em meio a tudo isso descobriu seu animal de poder, uma lontra albina. Lendo de bula de remédio a Liber Null e Necronomicon, seu propósito com a escrita é esvaziar a mente e evitar com isso a perda do seu réu primário.

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