Meu primeiro contato com Júlia foi com as antigas revistinhas fininhas, na época eu lia Tex, também das fininhas e pensei, “Poxa, que tal ler algo contemporâneo?” Cheguei a comprar umas 3 edições, quando me dei conta de que não era a leitura que eu queria, estava muito aquém de Tex. Essa foi a primeira impressão. Mas minha vivência sempre me alertou sobre dar segundas chances. Isso sempre trouxe boas surpresas no que quer que eu estivesse prestando atenção: Gibis, músicas, seriados, filmes… E nada como pegar uma história do início, para sorver o processo de desenvolvimento do personagem, coisa que eu sempre prezo ao começar a ler um novo gibi serializado. Fiz com Tex, fiz com Hellboy, fiz com Conan, curiosamente todos da Mythos (Obrigado e aguardo que algum dia façam com Juiz Dredd) e agora, é hora da Júlia. Nesta resenha, farei uma compilação dos 3 primeiros números, porque as histórias são interligadas e não seria condizente falar de uma e deixar em aberto, essa história não pode ser deixada em aberto sob hipótese alguma. Uma história noir, como o próprio autor define, com aquela pegada visceral de ficção policial bem pesada. Sim… É uma história pesada com algumas nuances de terror… terror verdadeiro.
A trama se concentra numa assassina serial que mata mulheres (de início e depois, passa a matar pessoas de ambos os sexos). Quando uma das alunas de Júlia é morta, o caso torna-se pessoal, a fazendo entrar no caso. Mas engana-se quem pensa que Júlia não sabe separar o joio do trigo. Uma profissional muito competente. Não sou criminólogo, mas Berardi escreve de uma forma que faz parecer que aquele homem é um criminólogo experiente, no mínimo ele estudou muito do assunto, sorvido dessa literatura didática ou mesmo ficcional, ele vai fundo com a Júlia, não poderia ser menos, pois a profissão exige um grau de conhecimento técnico, teórico com nuances de psicologia/psiquiatria, enfim, bote todos as patologias de uma vida social misturadas com os casos policiais mais severos; é por lá que Júlia caminha, mesmo sendo ela uma personagem extremamente humana. Sim, a única parte sobre-humana nesta mulher é seu cérebro, porque nos outros aspectos, ela é tão vulnerável num mundo de psicopatas como qualquer um de nós, leitores (Eu sou normal, você é também, eu sei…. ou pelo menos é o esperado rs). Todas essas nuances são identificadas nos números 1 e 2, na qual a personagem principal é apresentada e alguns coadjuvantes marcantes como o detetive Alan Webb que não fica por menos em perícia no exercício da profissão e que traz um certo alívio cômico na série com os entreveros que rolam entre ele e Júlia. Temos também o Detetive Particular Leo, que é o “Pau pra toda Obra”, um cara que age por debaixo dos panos e sempre consegue chegar num bom resultado para ajudar sua amiga.
Myrna, a assassina serial, tem um capítulo à parte no nº 3. Aqui nós vemos a mente do criminoso, como chega a ser deturpado o pensamento de um delinquente. Ao observar a personagem por fora, ela tem todos aqueles traços clássicos de psicopatia que estamos cansados de ver nos filmes, séries ou mesmo na vida real, um sujeito que consegue se passar por normal, mesmo em momentos que seus pensamentos são tão densos e perversos. A forma como ela manipula a situação ao seu bel prazer é digna de nota. Em uma das partes ela consegue ser a mulher normal e vibrante com um relacionamento até certo ponto saudável – tudo para garantir seus objetivos – e no outro ela pode ser a víbora, pivô de enlouquecer um homem no melhor estilo femme fatale para provocar uma cisão no relacionamento da mulher que ela “ama”. Ao ler sobre Myrna, seus pensamentos, suas “aspirações”, você pensa… “cacete, tem algo muito errado com essa mulher…”, e quando você a vê agir de forma fria, calculada, você pensa… “cacete, que monstro de mulher!”. A personalidade dela é magnética e todos os 3 desenhistas diferentes que a desenharam (Nº 1: Luca Vanini, Nº 2: Corrado Roi – Este o que mais me agradou – e Nº 3: Gustavo Trigo), trouxeram essa característica em um olhar, bonito, intenso, vibrante, sobrenatural de tão lindo… “como pode?” Você se pergunta. E as mortes, uma mais cruel que a outra, o escritor parece não ter apreço algum pelas vítimas, não são simples mortes, são mortes horríveis! Você vê o horror, e aqui entra o terror que eu mencionei lá em cima, as vítimas imploram, mas num gesto rápido, intenso, frio… mais uma vida se esvai, e foram muitas até que o monstro fosse pego. A captura de Myrna encaixa bem num roteiro de filme, onde protagonista e antagonistas estão envolvidas e a vida de Júlia fica por um fio, mas como em todo bom roteiro cinematográfico, o bem sempre vence no final, porque convenhamos, com Myrna, se terminasse mal, Júlia não protagonizaria mais história nenhuma, porque todo mundo que cruzou o caminho desse monstro morreu de uma forma bem horrível.
Para finalizar, gostaria de falar sobre a inspiração do autor para a personagem, trata-se de um modelo fiel a Audrey Hepburn, uma paixonite de infância (segundo o autor). A trama tem um tom de novela serializada. Quando o autor escreve os pensamentos de Júlia, tem-se a impressão de estar lendo um livro, tal é o detalhismo da transcrição dos pensamentos da personagem, o que aproxima esse fumetti da literatura clássica. Não conheço o outro trabalho do autor (Ken Parker), mas posso dizer que a criação de Júlia é sim a menina dos olhos dele. As edições da Mythos estão lindas, modernas com capa cartão e extras que acrescentam informações à experiência de leitura. Todas as edições vêm com um belo cartão postal, que achei bem legal, pois evoca o tal clima nostálgico que o tipo de história traz.
Texto por Conde.
Mythos Editora
Capa Cartão, Papel Off-set
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