Leitura da Quarentena #20 – DYLAN DOG: ALMANAQUE DO PESADELO

“Já é bastante complicado ser eu mesmo…”
– Dylan Dog em “Um, nenhum e cem mil” de Di Gregorio
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Vocês que acompanham a ZN sabem que estou escrevendo sobre as séries do Investigador do Pesadelo há alguns meses. A cada lançamento temos uma edição da série nova e uma da série clássica. Esse ritmo se mantém desde 2019, quando a Mythos começou a publicar aqui no Brasil a série nova. Tudo ia seguindo uma agradável rotina de leitura quando, de repente, sou surpreendido com uma coletânea de oito histórias do DD em uma única edição. E como era de se esperar, foi uma grata surpresa.

Dylan Dog: Almanaque do Pesadelo, foi trazido pela Mythos em agosto compilando histórias curtas, publicadas originalmente na Itália através do Albo Gigante, um formato que todos os grandes personagens ganham por lá, maior que o formato padrão italiano e, geralmente, com uma história maior e outras curtas, distribuídas em torno de 200 páginas. Aqui no Brasil o Almanaque só mostra o quanto a popularidade de Dylan Dog tem crescido em meio a um mercado que se viu afogado em tiragens de grandes sagas das gigantes americanas, e agora tem mais um título simultâneo do Investigador.

Com a ideia de juntar inúmeros artistas em suas páginas, o AdP já começa nos brindando com a formidável Coração de Zumbi de Alessandro Bilotta (texto) e Daniele Bigliardo (arte). Nesse conto temos a jovem Rory, que é sequestrada no próprio jardim de casa por uma figura estranha, que sua mãe jura para Dylan ser um zumbi! Já em Febre de Gelo de Bruno Enna (texto) e Antonio de Luca (arte) a modernidade e seus impactos nas relações humanas são o pano de fundo para o congelamento das pessoas.

Call Center traz o inferno de qualquer pessoa que odeia telefone, o telemarketing ativo e uma funcionária insistente. Ao mesmo tempo, um assassino está à espreita de nosso detetive. Call Center conta com Giovanni Gualdoni no texto e Stefano Voltolini na arte. Um assassino em série e sem rosto mata mulheres pela região e acaba cruzando o caminho da namorada de Dylan. Esse é o enredo de Um, Nenhum e Cem Mil de Giovanni de Grigorio (texto) e Fabio Celoni (arte).

Baratas lida com o fato de que nem todo monstro é intimidador e violento. As vezes é apenas coletivo e bem organizado. Contando novamente com o texto de Giovanni Gualdoni, agora fazendo dupla com Franco Saudelli na arte, é o mais bem humorado da coletânea. O lindo Por Uma Rosa faz referência direta ao clássico de Antoine de Saint-Exupéry, O Pequeno Príncipe e mostra um garoto com muitas dúvidas e um dever de proteção comovente.

Auto Retrato é uma louca viagem a um mundo solitário após uma fotografia inocente e uma desleixada empresa de cabine fotográficas. Tendo texto de Giancarlo Marzano e desenhos de Piero Dall’Agnol (não confundir com o estagiário de power point lavajatista), é a história mais fraca da coletânea na minha opinião e ainda assim não estraga o ritmo da leitura. E pra fechar com os clássicos plot twists aos quais já estamos acostumados, temos A Confissão, de Giovanni Gualdoni, emplacando seu terceiro roteiro no almanaque e arte de Daniela Vetro. Esse conto fecha muito bem o encadernado e trata da clássica história de viúva suspeita, mas com o toque soturno dos casos de Dylan Dog.

É muito gratificante terminar o exemplar e ver como ainda tem tanto material de boa qualidade da Sergio Bonelli Editore para aterrissar por terras tupiniquins. Com uma curadoria excelente e bons artistas, AdP entrega uma ótima primeira edição e nos deixa animados para o que virá no futuro.

Texto por @prodrigues27

Editora Mythos
Capa cartonada, 194 páginas
R$ 44,90

Pedro Rodrigues
Perdido na vida há trinta anos, sem vocação pra ser "cult" e fã dos escritores britânicos. Estuda tarô, cabala, hermetismo, magia do caos e teoria da Mãe Piruleta que traz seu amor em três dias em território nacional. Em meio a tudo isso descobriu seu animal de poder, uma lontra albina. Lendo de bula de remédio a Liber Null e Necronomicon, seu propósito com a escrita é esvaziar a mente e evitar com isso a perda do seu réu primário.

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