Leitura da Quarentena #29: JÚLIA – AVENTURAS DE UMA CRIMINÓLOGA 7 E 8

Júlia Nº 7 – A Longa Noite de Sheila

O título se refere a uma morta, e está inscrito numa lápide na capa da edição. Mas o que é mais impactante é o início da trama. Tem uma introdução, com uma briga de casal, a mulher indo para o parque à noite, o assassino chegando por trás… corta para o dia seguinte… um homem leva seu cachorro para passear no parque, flerta com uma moça bonita sentada lendo um livro e o cachorro lhe traz um sapato, o sapato de uma morta, decapitada. A mencionada Sheila do título. O contraste chega a ser impactante, como um autor transita de um belo dia num parque para uma cena de um corpo decapitado logo ali, ao alcance de toda aquela gente feliz no parque. Eu fiquei pensando nisso, nessa transição, em como o cara pode ter dois pesos e duas medidas para cada situação específica. Eu como leitor, imagino que deve ser complicado montar um roteiro do tipo. Fico imaginando o desenhista tendo que desenhar um cenário bonito e do nada, PÁ!… toma uma decapitação ai para desenhar, fera! Nessas horas eu fico pensando, será que se essa história estivesse colorizada, o impacto seria maior? Com certeza! (PARÊNTESES: Já tenho o meu Júlia colorido aqui, vai ter resenha também, aguardem!). A trama segue uma linha com reviravoltas, o clássico jogo de adivinhação: Quem é o assassino?

E confesso que tive minhas suspeitas, e o desenhista (Luigi Siniscalchi), teve uma parcela de culpa em fazer eu acreditar em um suspeito mais do que outros, mas ao final da trama a gente pensa, ora bolas, nenhum desses caras em volta da trama principal é o culpado, pois o culpado não arrodeia a trama. AQUI, eu acho que o roteirista (Giuseppe de Nardo com argumentos do Giancarlo Berardi é claro) engana o leitor. E eu não acho isso um artifício legal, pois esta trapaça ilude o leitor. No meu entender uma história do tipo “Quem é o assassino?“, o assassino tem que estar ali desde o início, sendo investigado, mas não é o que se apresenta. O assassino se desvenda somente nas últimas 12 páginas de uma HQ que tem 132 páginas. Veja se isso não é trapaça? É claro que isso é uma frustração minha, é assim que eu encarei essa história, mas quem sabe quantos leitores sentiram o mesmo? Fica o benefício da dúvida…

Júlia Nº 8 – Se as Montanhas Morrem

Esse título parece um daqueles livros de romance clássicos e ele é proposital, aqui temos uma história diferente de Júlia, onde seus dotes de criminóloga não são explorados, mas sim um pouco mais da Júlia como pessoa. A trama tem desenho de Giogio Trevisan, um talentoso e premiado senhorzinho da SBE conhecido por desenhar histórias de faroeste na própria Bonelli, como Ken Parker, Mágico Vento e Tex (Diz o texto introdutório da HQ que por sinal não é assinado por ninguém. Alô Mythos!!) e que contou com a colaboração de Laura Zuccheri (Que desenhou o nº 5). A belíssima capa mostra uma Júlia enrolada junto a um Índio, uma belezura de capa assinada por Marco Soldi (Que é quem desenha todas as capas dessa coleção até o momento e também colaborou no Nº 3 e desenhou o Nº6). A trama começa com uma tragédia pessoal, um atentado brutal que fez com que um índio tivesse pavor da sociedade e fosse viver isolado nas montanhas (Ah, advinha quem é o índio?). Em contrapartida há uma série de homicídios cruéis de indígenas rodeado por mitos da cultura Lakota. Ao investigar esses crimes, Júlia se distancia dos demais e sozinha numa área remota é picada por uma cobra venenosa. Ela encontraria a morte certa não fosse pela ajuda desse índio (Isso, ele mesmo, o cara da capa) que, usando de seus conhecimentos indígenas salva Júlia. Ela acaba se afeiçoando ao belo pele vermelha e ambos têm uma relação. É a primeira vez que o autor, após 8 números, traz esse lado da personagem, de se entregar a uma paixão e exibir isso aos leitores.

É de se esperar que sendo Júlia uma personagem das mais humanas das histórias das HQs, ela tenha lá suas aventuras amorosas, mas quem diria que seria com um índio no meio do nada? Um índio que salvou sua vida. Sim, ela ficou caída de amores por aquele homem, mas não foi uma coisa apenas física, foi porque ela se entregou à beleza do lugar e à pureza daquele homem tão fragilizado pela tragédia pela qual ele passou. Desvendado o crime local ligado a ocultação de produtos químicos dentro de uma montanha, o foco principal sempre foi explorar esse lado oculto de Júlia. Por isso é uma história especial, é uma Júlia desnuda na frente do leitor, isso traz identificação, essa romantização da personagem com um outro personagem tão atípico, um eremita da montanha, alguém que há 5 anos não tinha contato com a civilização. Há de se pensar que houve uma relação intensa, não só de entrega física, mas emocional também. É claro que os desenhos não mostram isso, mas as circunstâncias da história nos fazem pensar o quanto essa relação foi forte e marcante para nossa personagem. Depois disso o homem se curou de seus traumas, voltou a civilização e até se casou novamente, o que sepultou as chances de Júlia reencontrá-lo, tornando-se vivo apenas em suas recordações.

PÁG. 112 – AQUELE OLHO NO OLHO
PÁG. 114 – OS PÁSSAROS VOARAM E UM ARCO-ÍRIS SUBIU, LOVE IS THE AIR.

Texto por Conde.

Mythos Editora
Capa cartão, Papel Off-set
Preços de Capa: R$ 30,90 (132 Páginas) (No site da Mythos tem um desconto de 35%, fazendo as edições custar R$ 20,09 – Imperdível)

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Minuteman ZN
De vez em quando, um minuteman convidado aparece aqui na Zona Negativa para resenhar um quadrinho, ou para publicar a próxima matéria que irá, por fim, explodir sua cabeça, subverter a realidade e nos levar ao salto quântico para o próximo nível dimensional. Não sabemos exatamente quem são essas pessoas, a não ser que elas abram mão do anonimato e decidam assinar seus verdadeiros (??) nomes ao final do texto. Mas francamente, 'quem' elas são não é o preocupante. Preocupe-se com as palavras delas, que rastejam lentamente para dentro da sua cabeça. Todos são minutemen. Ninguém é minuteman.
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