Um psicólogo de super-heróis? Isso se faz mesmo necessário? Pois, com grandes poderes vêm grandes ansiedades, angústias e expectativas… Certo?
Super Ego é um quadrinho que brinca com o estado psicológico dos super-heróis, enfatizando uma realidade tanto nas HQs quanto aqui no mundo real: Todos precisam de terapia. Seja por conta de obrigações judiciais ou por ser filho dos seres mais poderosos do universo e sentir insegurança para cortejar uma garota.
Esse é um quadrinho independente criado por Caio Oliveira e publicado via Catarse pela Quinta Capa. Artista talentosíssimo que nos últimos anos tem produzido diversas tiras e quadrinhos envolvendo paródias, como “Alan Moore – O Mago Supremo” e mais recentemente “João de Santo Seiya”, paródia que mescla Legião Urbana e Cavaleiros do Zodíaco. Caio possui um traço característico e satiriza diversas tretas, inclusive de caráter político, e ironias na internet com um bom humor bastante característico.
Portanto, essa história possui uma série de paródias de super-heróis já conhecidos. Somos apresentados ao Dr. Eugene Goodman, o próprio Dr. Ego. Quando uma espécie de Homem-Aranha recomenda o Dr. Ego ao “Batman”, o aranha inclusive cita episódios de namoradas mortas ao suposto Batman e diz que ele deveria ver o Dr. Ego para tratar seus excessos de violência, já que o médico conseguiu ajudá-lo.
A trama acontece entre consultas envolvendo alguns personagens em específico e um incômodo por parte do avô que mora com o Dr. Ego. O personagem claramente não gosta da profissão do neto e isso só vai ficar claro no encerramento do quadrinho.
O caso mais interessante no quadrinho é sobre Lester, filho do “Superman” com a “Mulher Maravilha”, o garoto é rejeitado pelas pessoas da vida do alienígena, pois ele é fruto de uma traição, já no caso de sua mãe, é rejeitado pela família dela pois a ilha de onde ela veio não aceita homens e o garoto teve a má sorte de vir com o sexo masculino. Isso somado com ter nascido o ser mais poderoso do universo só poderia ter resultado em uma mente frágil e fragmentada.
Em determinado momento da história, Lester chama uma garota para sair. Fato que inclusive o leva mais de uma vez ao consultório do Dr. Ego que o incentiva a falar com a garota da qual ele se sente apaixonado. A frustração amorosa do rapaz, aliada a uma humilhação sob certo ponto de vista contribui para um desespero poderoso que deixa o ser mais poderoso do universo fora de controle.
Super Ego vai trabalhar com alguns outros heróis que remetem a personagens conhecidos do público. Como uma espécie de “Gavião Arqueiro” que parou de atuar desde que sua esposa que o acompanhava nas aventuras foi assassinada. Vários desses casos são explorados de forma divertida e com respostas que se adaptam bem quando transpostas para os personagens que nos são comuns nos quadrinhos de heróis norte-americanos.
O quadrinho é curto e depois de apresentar alguns desses casos parte para um encerramento catártico, digno de Garth Ennis em algumas cenas de violência e no ódio aos encapuzados. Toda a família de Dr. Ego tem origens na vilania daquele mundo e Eugene Goodman resolveu seguir por outro caminho, o de ter uma profissão ajudando justamente os heróis.
Não vou revelar a solução do quadrinho, porém ela é bastante original e resolve o conflito familiar que era o mais acirrado nessa reta final. Inclusive revelando um ponto de comunhão entre neto e avô; ambos só escolheram caminhos diferentes para um mesmo objetivo. Esse final inclusive explicita o quão maluco alguém precisa ser para vestir uma roupa e sair socando pessoas, e o Caio teve uma solução inesperada que deixa o leitor meditativo sobre a questão por algum tempo.
Super Ego é um quadrinho recomendo a todos que possam ler, ainda mais apoiando um artista tão inventivo e divertido como o Caio. É um quadrinho curto, mas que apresenta sátiras engraçadas e uma solução narrativa que vai te deixar pelo menos meditativo sobre questões psicológicas e seu impacto no mundo, além disso estar diretamente aliado a super-heróis.
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