É com grande alegria que declaro que a Mythos editora atendeu os meus pedidos ao rezar ao grande bisonte sagrado antes de dormir!!!! temos mais resenha de Mágico Vento, cuja a paixão eu descobri fazendo conteúdo pra o site, uma paixão tão avassaladora quanto um bando de Lakotas atacando os homens brancos terríveis!
Essa edição conta com um visual lindo, capa dura e duas histórias mostrando mais uma vez aquela pegada diferente que o Manfredi traz nas histórias do personagem: Um faroeste diferente, que além de mostrar o povo nativo e sua cultura como protagonistas também brinca muito com o gótico e o terror, histórias dignas dos pulps ou Weird Tales da vida.
A introdução já nos dá o contexto e referências de cada história com aqueles textos clássicos que a Mythos sempre dispõe antes do começo de cada edição. A primeira história se chama “A teia da Aranha” e contra a história de Iktomi, um espírito antigo que, segundo a tradição Sioux, vinha anualmente para tentar dividir e destruir as tribos, e que segundo a própria lenda conseguiu fazer isso com os Lakotas fazendo com que eles se espalhassem pelas pradarias. Iktomi é uma figura mitológica que representa o famoso “espírito da trapaça” assim como temos o Anansi, Loki, Exu, que consegue confundir as pessoas utilizando-se de formas femininas e até de aparência de pessoas que já morreram.
Nessa história temos o nosso Heyoka favorito (Heyoka é o nativo da cultura Sioux que que possui uma visão altamente espiritualizada e por consequência disso tem um comportamento diferente, como por exemplo sempre serem cômicos e falarem tudo ao contrário), o Mata-a-si-próprio, tendo visões sobre Iktomi e os nossos heróis Ned (Mágico Vento) e seu amigo Poe indo ajudar o Heyoka e concluir a cerimônia chamada Hunka, onde cada membro da tribo adota um outro prometendo ajuda recíproca, escolhendo um membro para sua família. Porém essa cerimônia só pode ocorrer quando Iktomi está adormecido, senão a cerimônia dará errado. Agora não posso soltar mais spoilers, leia e se surpreenda, a cena do sonho do Mata-a-si-próprio é digna de filme de terror!
Agora vamos para a segunda história, “A dança dos Espectros”!
Aqui percebemos a influência do colonialismo e do terrível massacre que o povo nativo sofreu nas pradarias e territórios dos EUA, e vemos uma introdução absolutamente ao estilo terror cósmico em que a aldeia toda está sob uma grande tensão, como se a própria natureza estivesse tentando enviar um aviso sobre algo muito ruim que irá acontecer com os indígenas. Logo a aldeia é visitada por um homem chamado Bisonte Jovem, que além de mostrar que a situação entre os homens brancos está tensa, com massacres sendo provocados em larga escala contra o povo nativo, fala que todas as tribos terão que se reunir para fazer um novo ritual chamado “dança dos espectros”, que foi criada por um homem que, quando bebê, foi colocado em uma espécie de manjedoura por sua mãe (nessa história temos muitas referências bíblicas até pra explicitar o papel da colonização dos nativos). Ele foi criado por monges num monastério católico e durante uma oração ele descobriu sua origem indígena e que ele será o homem que trará uma nova esperança pros nativos, misturando tanto a cultura antiga nativa com a cultura cristã que aprendeu no monastério, e para que o seu povo não seja exterminado nesse massacre que ele mesmo prevê, ele decide fazer a chamada dança dos espectros tanto para fortalecer o povo indígena como para fazer com que os reais pecadores paguem por derramar sangue do povo nativo inocente. A trama é cheia de referências bíblicas e mostra muito o modo como o cristianismo alterou e distorceu muita coisa da cultura indígena, introduzindo ideias extremamente díspares entre suas crenças, como crer num inferno ou num apocalipse onde os pecadores seriam punidos, com muita influência da bíblia muito lida pelos monges e padres ao tentar colonizar os nativos e tentar fazer com que abrissem mão de sua própria cultura.
Além de toda essa crítica ao pensamento colonizador e ao massacre que os povos nativos sofreram na América do norte, também temos uma trama secundária do nosso grande amigo Poe, onde para avisar aos representantes do governo que a reunião das aldeias será apenas para fins de ritos religiosos e não provocar um conflito maior, acaba caindo no meio de malucos extremistas que querem usar a desculpa para dizer aos seus superiores do exército que os índios querem fazer guerra. Uma trama muito boa, cheia de críticas e também do clássico bang-bang que amamos nos faroestes, recomendo muito!
- Editora : Mythos (15 janeiro 2021)
- Preço: 79,90
- Capa dura : 200 páginas