Leitura da Quarentena #24: JÚLIA – AVENTURAS DE UMA CRIMINÓLOGA 4, 5 E 6

Tenho nas mãos a edição nº 4 de Júlia Kendall. Agora temos a impressão de que a verdadeira serialização começa, pois os 3 primeiros números foram uma abertura digna. A partir desse próximo número eu, como leitor, imaginei que a emoção fosse diminuir e de fato, é difícil repetir a tensão dos números iniciais. Neste número, temos Júlia e o corpo policial atrás de um especialista em bombas que tem posto fogo na cidade. Mas engana-se quem pensa que é apenas um amador que vai fugindo enquanto pode. Ele tem alvos policiais, dada sua insatisfação com a própria corporação. O homem vai longe e como no filme Velocidade Máxima ele programa uma série de atentados nos quais a polícia tem que descobrir os locais onde foram plantados os explosivos antes que eles explodam. Júlia como sempre tem um papel importante em desvendar a identidade do criminoso através do chamado perfil psicológico. Isso é algo que a gente se acostumou a ver em séries investigativas. O final tem um clímax emocionante e uma justa compensação. Afinal, o vilão dessa história teve origem em uma injusta decisão da corporação sobre indenização, algo que Alan Webb (o detetive coadjuvante) e amigos corrigiram no final com o filho de uma dessas vítimas do incendiário; Webb e os demais não poderiam deixar que outro injustiçado pudesse crescer amargurado e vir a se tornar o mal que eles acabaram de combater. Outro mote que esse número trouxe foi política. Basicamente um político pressionou a polícia a resolver o caso rapidamente afim de se eleger. Não que Júlia e os policiais apressassem o trabalho, mas obviamente o figura se beneficiou como abutre na carcaça.

Edição nº 5: Aqui temos uma trama que traz ação, mas traz também o drama do trauma pós-guerra. A história começa com um grupo de bandidos, ex-militares que fazem de refém a família do dono de uma joalheria enquanto planejam rouba-la. O esquema dá errado por uma casualidade e a polícia cerca o local e tem-se início uma trama na qual é dada início a uma negociação para que os reféns sejam libertados. O que ninguém sabe é que esses bandidos tem traumas de guerra nas costas e são altamente instáveis psicologicamente. Júlia assume o protagonismo mais uma vez, porém, ela é humana e frágil como qualquer um de nós e se põe numa situação de risco se oferecendo para ser a negociadora do caso (Amigos, isso é licença poética, na vida real isso nunca iria acontecer OK?) Quando ela entra na joalheria e começa a negociar com os bandidos ela identifica que um deles é mais instável que os outros e com uma certa síndrome de Estocolmo (sob controle, claro), ela consegue se aproximar do bandido afim de entender o seu lado da história e assim ela salva o dia. Talvez seja forçado mencionar a síndrome de Estocolmo (quando a vítima de um sequestro simpatiza com seu sequestrador achando que ao criar um elo, ela estará a salvo) nesta situação, dado que Júlia é uma criminóloga versada em psicologia, sobretudo criminal. Não que ela sucumbisse à síndrome, mas ela certamente fez uma aproximação do criminoso afim de que psicologicamente ela o dominasse. Um drama terrível para um homem horrorizado com os terrores da guerra.

JÚLIA SALVA O DIA E O BANDIDO TAMBÉM

Na sexta edição temos uma trama cheia de reviravoltas na qual o clichê aqui é… Bom, você não espera que uma certa pessoa seja o criminoso até que no final tudo se revela! A trama trata-se de um sequestro de uma criança em um parque. Um clima a princípio de terror, pois você automaticamente se coloca na posição da mãe da criança, desesperada, e com os outros frequentadores do parque se organizando para tentar achar a criança, um verdadeiro caos emocional. A todo momento você pensa: “A criança sumiu agora, num intervalo em que a mãe foi comprar um sorvete, o bandido não pode estar longe…” mas aí a realidade te atinge. Nós, como leitores, sabemos que a criança não será encontrada rapidamente, pois este é o mote da história. A trama se condensa e leva dias de investigação profunda, que vai desde os casos amorosos da mãe que teve o filho sequestrado até um caso de incesto mal resolvido na família. Júlia como sempre tem o papel decisivo no caso que não tem final feliz. A parte mais legal (se é que podemos dizer isso a partir dos fatos ocorridos) é o final da história, enquanto Júlia confronta “o/a” (Vamos deixar no artigo indefinido) responsável, ao passo que recebe um sonoro: “Você não pode provar nada…”, Júlia habilmente conta uma mentirinha que “o/a” fez confessar. No texto final Júlia diz: “Quando Webb (o Detetive) chegou, “ele/ela” contou tudo num extremo ato de liberação. Nem precisei repetir minha mentira…”.

Nestes três números não tivemos sequência da história, foram arcos fechados de histórias com início, meio e fim. Alguns clichês investigativos é claro, mas como não ter isso dado que há vários meios de entretenimento com esta temática tão extensa. Filmes, séries, quadrinhos… Mas os clichês investigativos ao meu ver não constituem problemas, pois Júlia tem algo de original: sua humanidade, fragilidade e também sua coragem. Algumas situações vão se ‘empilhando’ de uma história para outra, como os constantes entreveros entre Alan Webb (O Detetive) e Júlia, que vêm desde o primeiro número, e que uma hora ou outra, tenho a impressão de que a admiração que um tem pelo outro, pode render um caso amoroso. Nestes 3 últimos números tem rolado uma química entre os dois, uma abertura iniciada pela Dra. Kendall, mas Alan Webb não ficou atrás e já contra-atacou, mas tudo ainda é flerte não assumido, está tudo nas entrelinhas. Para um bom entendedor…

Texto por Conde.

Mythos Editora
Capa cartão, Papel Off-set
Preços de Capa: R$ 28,90 (132 Páginas)

#mythoseditora #sergiobonellieditore #bonelli #fumetti #giancarloberardi #mauriciomantero #pietrodall’agnol #laurazuccheri #marcosoldi #instacomics #zonanegativa2014 #resenharelampago

Curtiu essa resenha? Então siga essa Zona nas redes sociais e não perca nenhum conteúdo! Textos todas as quartas, quintas e sextas.

Instagram: @zonanegativa2014
Facebook: Zona Negativa
Site: zonanegativa.com.br

Minuteman ZN
De vez em quando, um minuteman convidado aparece aqui na Zona Negativa para resenhar um quadrinho, ou para publicar a próxima matéria que irá, por fim, explodir sua cabeça, subverter a realidade e nos levar ao salto quântico para o próximo nível dimensional. Não sabemos exatamente quem são essas pessoas, a não ser que elas abram mão do anonimato e decidam assinar seus verdadeiros (??) nomes ao final do texto. Mas francamente, 'quem' elas são não é o preocupante. Preocupe-se com as palavras delas, que rastejam lentamente para dentro da sua cabeça. Todos são minutemen. Ninguém é minuteman.
O grande irmão está de olho em você. Aprenda a ser invisível.

Deixe um comentário