Leitura da Quarentena #02: O IMORTAL HULK VOLUME 3 – HULK NO INFERNO.

Antes de mais nada, minhas excusas…

Primeiramente preciso pedir desculpas por dois motivos, o primeiro deles é a minha ausência prolongada dos textos da Zona. Cada um processou esses acontecimentos da pandemia ao seu próprio modo. Eu do meu jeito, vocês do seu. Consegui ler e assistir a MUITA COISA mas sem conseguir escrever nada. Alguém mais teve esse tipo de bloqueio? Bem, parece que depois de umas semanas o bloqueio resolveu ir embora, por isso é hora do segundo pedido de desculpas, e esse é por conta de minha empolgação no vídeo do IGTV sobre O Imortal Hulk volume 2. Admito que, após uma releitura do segundo volume para começar a leitura do terceiro com a memória fresca, posso ter elogiado aspectos não tão brilhantes assim dessa fase Al Ewing…

Calma, calma sua piranha, com isso não estou voltando atrás e dizendo que O Imortal Hulk é uma série ruim, mas o que eu achava bom e original ainda precisa ser ressaltado neste volume: O horror! A verdade é que apesar de ter curtido o segundo volume, eu já havia decidido que só leria mais esse volume (Porque como entusiasta de horror eu precisava ver como o Ewing iria desenvolver o Inferno dele hehehehe 😈😈😈) e se continuasse como os dois anteriores, sem as tais mudanças de estourar a cabeça, tão hypadas lá fora, largaria a série. A coisa até que estava acima da média pras histórias atuais da Marvel sim, mas não me animava mais o suficiente pra continuar acompanhando. Com tanta coisa pra ler e tão pouco tempo (e $$$), a gente precisa filtrar as leituras o tempo fuckin’ todo! Mas pra resumir a resenha, isso não vai acontecer. Não vou dropar – ainda – porque Hulk No Inferno é um arco incrível e me fez continuar mantendo minha atenção na fase Al Ewing frente ao Golias Esmeralda (Se você entendeu a referência, parabéns, você é VELHO! Não saia de casa senão o Corona vírus vai te pegar!).

Arte de Joe Bennet

Thaumiel… onde já ouvi isso antes???🤔

Aquela menção no volume anterior, “Thaumiel” pra lá, “Thaumiel” pra cá me deu um comichão na nuca, mas não consegui fazer a associação, até que um amigo percebeu a mesma referência e me chamou a atenção para a menção à Cabala, o estudo místico-filosófico judaico, um sistema milenar de pensamento místico do qual Alan Moore também desenvolveu uma bela e didática investigação na HQ Promethea.

O Thaumiel (gêmeo de Deus), tão citado desde o volume anterior é o nome de um dos Qliphoth na Cabala, que correspondem ao lado sombrio da cabalística Árvore da Vida . É a sombra da Sephirah Keter (a coroa). Enquanto Keter está preocupado com a unidade de Deus, Thaumiel representa as forças em contenda dupla, sempre em confronto, o que é perfeitamente representado nas contendas internas das contrapartes de Banner ao longo da história.

A Árvore da Vida, os caminhos místicos da Cabala. Pense em Thaumiel como o verso da ‘folha’ e entendam a encrenca em que o Banner se meteu dessa vez!

Alguns estudantes iniciantes da Cabala costumam incorrer no erro de que o Qliphoth seria o oposto do Sephirot, quando o mais correto é interpretá-lo como a sua sombra. Ambos são forças caóticas desencadeadas quando um dos Sephirot não está em equilíbrio com os outros. Portanto, embora Keter esteja sempre associado ao conceito de unidade, a dualidade está implícita em sua essência. E é assim que Al Ewing genialmente amarra um monstro criado pelo Stan Lee em 1962 com a profundidade, no máximo, de um “O médico e o Monstro“, obra clássica de Robert Louis Stevenson a um sistema místico milenar de entendimento do funcionamento metafísico Universo e da alma humana!

O governante de Thaumiel é Satanás, que na lenda possuía uma alta posição na hierarquia dos anjos. Segundo a lenda islâmica, depois que Deus criou o homem, Satanás e seus anjos se recusaram a curvar-se diante de Adão. Satã representa o orgulho espiritual e arrogância. Exatamente o que o pai de Bruce Banner encapsula tão perfeitamente na história. Irmão, pra quê Mefisto depois de desenvolver um inferno sob encomenda tão bem construído, com os mortos que Banner conheceu ao longo de sua existência voltando para assombrá-lo como cascas vazias? Ou melhor, como…. sombras????

Nesse volume não vemos nenhuma lutinha com os Vingadores nem qualquer outra bobice que eu possa ter exaltado demais no volume anterior e que já estava me fazendo desistir do título. O encadernado já começa em um tour ao inferno, que serve de pretexto para se aprofundar em uma análise da sombra do pai de Bruce Banner – que é quem está ajudando a misteriosa entidade por trás da porta verde – e o próprio Bruce. Inevitável não associar as referências à Árvore da Vida com a zoada árvore genealógica dos Banner, criando uma mitologia maior por trás do surgimento do Hulk, atrelando um elemento de misticismo à radiação gama em um nível que a falecida Vertigo costumava elegantemente fazer, nos entregando assim, com a mitologia recém criada, um belo retcon que não deve incomodar nem os fãs mais antigos do verdão. De estourar a cabeça!

Finalmente o mistério da Porta Verde é desvendado e com ele vemos uma história de contornos grandiosos: Todas as pistas jogadas nos dois volumes anteriores estavam só preparando o terreno para por fim aqui termos a revelação de alguma coisa maior e muito sinistra por trás de todos que são tocados pela radiação gama… Pequenas peças que escondem uma entidade muito maior e aterradora… Ewing dá um tom quase Lovecraftiano a esse elemento da história! Minha ressalva é somente quanto à resolução do inimigo em questão, que pareceu fácil demais para o Verdão dar conta depois de tanto perrengue no inferno. A não ser que esse formidável Diabo gama volte em um futuro próximo…?

Sigo também elogiando a interpretação do Hulk desenvolvida pelo Joe Bennet, em sua já notória competência para trazer monstros desafiadores, bem como sua visão dos diferentes Hulks que estão no comando em momentos diferentes, apenas com sutis mudanças de expressão facial. Ewing mostrou até aqui que fora o próprio Banner, já sabemos que há dois ou três Hulks diferentes sob a superfície. Então, quem mais vem por aí tomando o controle no volante? O senhor Tira-Teima? O Maestro?

Uma das edições do encadernado traz a arte de Kyle Hotz, também exímio no traço mais grotesco, como se pode atestar em títulos como Billy the Kid’s Old Timey Oddities ou The Zombie Simon Garth, por exemplo.

Arte de Kyle Hotz

Quando alguém comentar que os quadrinhos mainstream estão esgotados, se lembrem de sopros de inspiração como esse. A mídia dos quadrinhos segue evoluindo e amadurecendo, mesmo que não na quantidade e velocidade que gostaríamos. Para isso acontecer, dois fatores são fundamentais: Bons roteiristas e editores que permitam que as idéias apresentadas pelos roteiristas possam se desenvolver e atingir pleno potencial. Claramente vemos que essa combinação se faz presente em Hulk no Inferno.

Atualizando aquele momento clássico de gibi do Hulk onde ele sempre mete o pau na humanidade…

Eduardo Cruz (eduardo_cruz_80)

Editora Panini. 
Compila as edições #11 a #15 da série The Immortal Hulk. 
120 páginas. 
Capa cartonada. 
R$20,90

Curtiu essa resenha? Então siga essa Zona nas redes sociais e não perca nenhum conteúdo!

Eduardo Cruz
Eduardo Cruz é um dos Grandes Antigos da Zona Negativa, ou sejE, um dos membros fundadores, e decidiu criar o blog após uma experiência de quase-vida pela qual passou após se intoxicar com 72 tabletes de vitamina C. Depois disso, desenvolveu a capacidade de ficar até 30 segundos sem respirar debaixo d’água, mas não se gaba disso por aí.

Ele também tem uma superstição relacionada a copos de cerveja cheios e precisa esvaziá-los imediatamente, sofre de crises nervosas por causa da pilha de leitura que só vem aumentando e é um gamer extremamente fiel: Joga os mesmos games de Left For Dead e Call of Duty há quase 4 anos ininterruptos.

Eduardo Cruz vem em dois modos: Boladão de Amor® e Full Pistola®.

Deixe um comentário