O livro 2 compreende as edições 5 a 10 e tem o curioso nome de A Síndrome do Rei Vermelho. Das referências que encontrei sobre o Rei Carmesim, ou Rei Rubro, temos o vilão imortal de A Torre Negra de Stephen King. O livro foi publicado apenas um ano antes dessa história e trata-se de uma figura que buscava dominar os reinos físicos e divinos daquela realidade. Poderia o Moore já estar sorvendo dessa fonte para se inspirar? A história traz sua semelhança, mas investigando um pouco mais a fundo, temos a música “In the Court of Crimson King” da banda dos anos 60, King Crimson, do lendário Robert Fripp. A letra fala sobre tragédias e desgraças atribuídas a um Rei Vermelho, que não é um Rei real, mas sim uma entidade responsável pelas coisas erradas. Investigando um pouco mais a fundo nesse conceito, volto para um personagem de A Torre Negra chamado de Eddie Dean que diz que o Rei Rubro é nada mais nada menos que Satanás. Então acho que dá para trabalhar o título deste livro como sendo uma comparação a Satanás. Daí dá para concluir que a Síndrome do Rei Vermelho é uma Síndrome do Mal Encarnado. Partindo deste princípio a gente começa nossa análise de uma forma mais certeira sobre a trama do Livro 2.
Gargunza, o criador de Miracleman dentro do projeto Show de Horrores, tem planos para o neném na barriga de Liz, o filho legítimo de Miracleman. Algo pelo qual ele esperou por anos. Mais do projeto Zaratustra é mostrado e as ambições paralelas de Gargunza são expostas em um objetivo maligno que é transpor sua consciência para o corpo do filho de Miracleman. Sr. Cream e Miracleman vão atrás de Gargunza para resgatar sua mulher, mas num toque de genialidade, Moore faz com que Gargunza tenha uma carta na manga: Uma palavra que desfaz a transformação de Miracleman por 1 hora.
Algo com o qual nosso personagem não contava e aí começa mais um episódio de terror, pois o que Mike Moran pode fazer ante a mira de revólveres ou de um cão que se transforma em alienígena com a palavra ‘Steppenwolf‘? Só resta correr pela sua vida pela selva, não é verdade? Aqui, Moore nos faz pensar sobre Miracleman estar muito confiante quanto a seus poderes e sua invulnerabilidade, e quando tudo cai por terra, Mike Moran é o alvo. E com a morte de Mike, Miracleman também morre. Então o terror é real: O personagem com síndrome de Superman agora pode ser morto de uma forma tão fácil e bizarra. Isso certamente trará consequências lá na frente. Nesta parte da trama, Mike consegue se salvar no momento final executando o mesmo comando que fez o cachorrinho se transformar. Ufa, Mike está salvo não é mes… Não, ainda não! O cãozinho dócil e inofensivo ainda está vivo. Condição que Mike muda rapidamente, num acesso de fúria, misturado com medo. Em uma cena chocante magistralmente desenhada por Chuck Austen, artista que que substituiu Alan Davis na trama. O terror está nos olhos de Mike Moran! Quando é que você achava que um personagem dito ‘mocinho‘ seria tão cruel em natureza quanto neste momento? O quão longe um ser humano pode chegar em selvageria, ao ser testado ao seu limite? E um ser sobre-humano? Toma aí seu choque de realidade nas HQs de super-herói, fera! A inovação brutal que não havia alcançado os leitores daquela época e naquele nicho de leitores havia chegado.
Ainda nesta parte da história, vemos um Miracleman com um rosto ensandecido e matando todo mundo com requintes de crueldade. Como uma criatura com os poderes que ele tem, pode facilmente estraçalhar a carne humana de uma forma tão brutal e inimaginável. O sangue é uma parte importante nestes desenhos tal qual o rosto insano que Miracleman aparenta ao executar estas mortes. É algo um tanto surreal para um super herói, e te faz pensar, “Terá ele se tornado um vilão?” Essas mortes tão brutais, tão violentas, sanguinolentas… olha a expressão no rosto do que era para ser o mocinho da história! Ao mesmo tempo te faz vibrar com essas cenas catárticas de horror, pois o terror que Mike Moran passou também foi real e o leitor merecia um troco à altura não é verdade? A intensidade dos acontecimentos desde a morte dos capangas até a morte do próprio Gargunza foi algo pensado para ser absurdo, para chocar, para fazer o leitor pensar… Aqui, meu amigo, o Superman é real… E é capaz de atrocidades inimagináveis também.
A síndrome do Rei Vermelho certamente é direcionada ao mal que havia no Gargunza. Quem sabe do que ele poderia ser capaz se obtivesse sucesso em transpor sua consciência para um bebê Miracleman com poderes incalculáveis? Mas a verdade é que nós vemos que o verdadeiro Deus, Miracleman, também é capaz de protagonizar indescritível maldade, pois sua mente quando afetada é capaz de se descontrolar também. E onde entra a humanidade em tudo isso? Estamos prontos para esses super seres? Não somos pequenos demais? Após todo esse horror descrito em palavras, vem o nascimento da filha de Miracleman, feito em um parto normal e explícito com desenhos de Rick Veitch. Uma cena que causou polêmica por mostrar (naqueles tempos) o órgão sexual feminino parindo uma criança em revistas ditas para crianças e adolescentes. Acho que é um tanto desnecessário se observarmos desse ponto de vista, mas um adulto lendo a HQ não deveria se chocar com tal crueza do desenho. Na verdade é um tanto elucidativo.
Em paralelo ocorrem dois eventos de significativa importância que irão preparar o leitor para o Livro 3. O primeiro é Kid Miracleman se preparando para voltar, travando uma batalha mental com seu hospedeiro. Ah sim, ele vai voltar e não será nada bonito. Será apoteótico! E o outro evento é que há dois alienígenas caçando seres como o Miracleman, capazes de acionar seus poderes através de palavras. O livro 3 nos trará grandes emoções.
Os extras uma vez mais são um tanto enche-linguiça, trazendo processos criativos das páginas das HQs, algo que não acrescenta muito em informação para o leitor, é apenas algo para ocupar as páginas e justificar o preço de R$ 7,50 numa revista de 52 páginas. Ao final temos as histórias do Mick Anglo da década de 50, que são horríveis de se ler dado o tipo de escrita da época, porém, também traz algum paralelo com as histórias atuais do personagem, fazendo o leitor entender que o Moore resgatou muitos elementos dessas histórias antigas para seu universo.
Até a resenha do Livro 3!
Texto por Conde.
Panini Editora.
6 Edições lombada canoa. Papel Off-set
Preços de Capa: R$ 7,50 (52 Páginas)
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