Resenha Relâmpago: MARVEL DELUXE – CAPITÃO MARVEL, ou O Luxo de passar raiva lendo um impostor do Mar-Vell!

Essa resenha aborda a história do Capitão Marvel que se passa durante a mega saga Guerra Civil. Pode ser um spoiler, ou pode ser um adendo para você correr de uma HQ sem sal e mal desenvolvida. Pode ser muita coisa e ao mesmo tempo pode ser nada, e esta foi a sensação ao ler o quadrinho em questão. Mas antes de qualquer coisa, para que se entenda a história e seu contexto será necessário compreender o passado mórbido de nosso protagonista.

Era uma vez…

Era uma vez o caralho! Aqui tudo vai terminar mal, inclusive esta resenha, mas vamos logo ao que aconteceu ao Mar-Vell (o vulgo capitão, o dito cujo). Mas calma, “Capitão Marvel” tem algumas boas ideias, o problema é que não foram bem desenvolvidas, e outras nem precisavam aparecer. Mas de forma resumida para os que não sabem, o Capitão Marvel até então era um super herói morto da editora, em sua derradeira história, o protagonista enfrentou um vilão conhecido como “Nitro”, este tinha roubado um secreto gás do governo. Mar-Vell consegue vencer Nitro, entretanto o nosso super herói foi exposto ao gás e acabou desenvolvendo uma espécie de câncer incurável. Mas prestes a morrer o Capitão foi levado por Thanos às portas do além, e o resto é lenda. Mar-Vell virou objeto de estudo para Erwin Scgrodinger (Vivo/Morto). 

No início da história é mostrado que o Capitão Marvel estava na Zona Negativa (além do espaço e do tempo, o que fazia com que ele não estivesse de fato morto, mas no Planeta ele estava.), só que um incidente fez com que ele voltasse à Terra e ainda com o câncer terminal, e aí caros leitores que a coisa fica tensa, porque de acordo com a lógica da história, Mar-Vell estava morto no passado. Como o câncer ainda está na ativa e é incurável, logo nosso Capitão irá falecer, mas isto criará um paradoxo temporal, porque ele está em uma realidade onde já morreu, e se morrer novamente o que acontecerá com a história gerada e os acontecimentos decorrentes de sua primeira morte? Além de que Mar-Vell está sendo perseguido por tropas Skrulls. Putz…  

Os desafios apresentados na primeira edição do quadrinho realmente são interessantes, mas desde o início o roteiro é desenvolvido de forma confusa, e a partir da segunda edição é que a história vai ficando entediante, com diálogos cansativos que não levam a lugar nenhum. Os personagens foram mal desenvolvidos, o próprio Capitão Marvel que tem sua psicologia abordada de forma mais profunda, ainda assim, é um personagem raso, pois se resume a um ser com pensamentos confusos e sente-se inseguro na própria confusão, de nada seus dramas agregam à história, porque a todo momento o protagonista está a mercê de terceiros, ele não tem independência nenhuma, esta situação poderia ser usada de forma interessante, mas infelizmente não foi. 

A HQ atira pra várias direções, cria subtramas que se resolvem de maneira bem piegas, deixando muito a desejar. Os elementos apresentados não funcionam bem em conjunto, como por exemplo, as investigações e momentos de tímida catarse, além de vermos um Tony Stark moralista dando uma de “bom samaritano” (mas acho que ele sempre é assim, não é?). E o enredo chega ao fim de maneira conturbada, afoita, apresentando soluções bem medíocres e insatisfatórias. Pela primeira vez li uma história que se resolve numa contradição: Temos um desfecho que vai contra a tudo o que foi apresentado inicialmente, vai até “contra a maré” no que diz respeito ao modo como apresentam a história na sinopse. Vai entender, né?

Toma Stark!

Como dito anteriormente, o quadrinho joga vários elementos interessantes, mas que não são bem aproveitados, um deles diz respeito a uma obra de Charles Le Brun sobre “A entrada de Alexandre O Grande na Babilônia”, pintura esta que impressiona o Capitão Marvel, e de alguma maneira ele se sente conectado a ela, e um grande mistério é criado acerca do tema, mas é apenas encheção de linguiça, e tudo tem a ver com o fato de nosso protagonista ser um impostor (não é spoiler, porque não vale a pena guardar segredo sobre algo medíocre, as vezes até suspeito que seja uma solução meia-boca de roteiro).

A misteriosa seita que adota Mar-Vell como um Deus também é um fator que percorre toda a história, e na reta final, acaba por influenciar nosso protagonista, fazendo com ele atue de forma mais heroica ‘virado no Jiraya‘, mas essa tal seita guarda segredos que podem comprometê-la, e isto poderia gerar discussões interessantes na história, só que mais uma vez fica tudo no ar e o desfecho da organização se dá de forma bem tosquinha, não resolvendo nada, deixando aquela sensação de “porra, vão deixar por isso mesmo?“. Por último temos as investigações de uma agente secreta a mando de Tony Stark que sinceramente, não convence nem um papagaio cego. Como falei, os acontecimentos são rasos, ocorrem falsos aprofundamentos dos personagens e da trama. Estes foram apenas alguns elementos, mas a lista seria grande se eu fosse citar todos os furos.

A Equipe Criativa.

O roteiro é fruto da parceria de Brian Reed e Paul Jenkins. Os desenhos ficam a cargo de Lee Weeks e Tom Raney. Não se tem informações detalhadas de como se deu a criação do quadrinho, entretanto a única coisa que me fez terminá-lo de ler, sem sombra de dúvida, foi a arte visual. A narrativa gráfica é interessante, chama e prende a atenção sobressaindo o roteiro. Os desenhos são os elementos de maior valor na obra. A colorização agrega muito, e as cenas de luta são bem legais, empolgam bastante, uma pena que não foram bem aproveitadas juntamente com o restante do enredo.

Capitão Marvel não é dos quadrinhos mais empolgantes e nem dos mais engraçados, ele tenta emular alguns dos bons clichês do gênero, mas não consegue, e a construção dos personagens não é das melhores, mas os desenhos, os cenários, expressões faciais, lutas e enquadramentos são bem feitos e é o que salva a experiência de leitura.

E aí temos aquela famosa pergunta clichê: Vale a pena a leitura? E por mais incrível que pareça, vale sim! Existem perfis distintos de leitores, e nosso dever ao realizar as resenhas aqui é de justamente orientar o tipo de conteúdo da obra em questão, e o que provavelmente pode-se esperar ao lê-la. Se você é um leitor(a) exigente que busca uma história profunda que cause intensa reflexão e traga críticas políticas e etc, com certeza a HQ não é pra ti. Entretanto, se curte leituras mais despretensiosas, se diverte com os desenhos mais do que o roteiro em si, então essa Capitão Marvel poderá ser uma leitura interessante. Aí vai da consciência de cada um(a). Alias, já leu e pensa diferente? Então deixe nos comentários, vamos fomentar um debate bacana. Até a próxima!

Capa Dura
R$ 25,00
138 páginas

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Goes Murdock
Ler e escrever é uma necessidade diária assim como comer.

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