Resenha Relâmpago de Natal: KLAUS

Existem cinqüenta tons de Grant Morrison: De roteirista de histórias de super heróis para grandes editoras como Marvel e DC Comics, passando por projetos autorais sem igual como Os Invisíveis (a HQ que inspirou a trilogia Matrix), e alguns projetos que parecem, à primeira vista, fora da curva dentro da bibliografia do autor, mas que podem surpreender o leitor, como Happy, da Image Comics e Klaus, do Boom Studios. Em Klaus, o escocês pirado brinca com as origens pagãs de mitos relacionados ao solstício de inverno, período em que o natal cristão é celebrado, fazendo mashup de mitos e remixes de lendas conhecidas ou não do grande público.

A HQ é uma espécie de Papai Noel – Ano Um, e acompanhamos Klaus, que vive com sua loba de estimação Lilli, na floresta nos arredores de Grimsvig, um vilarejo dominado por um governante opressor e seu filho, uma criança má. O menino e seu pai aterrorizam o vilarejo com mão de ferro submetendo todos aos seus caprichos, impedindo os habitantes de celebrarem as festividades de Yuletime e obrigando os homens a trabalharem como escravos em uma mina, escavando algo antigo e malévolo. Até o momento em que o subversivo Klaus decide que é hora de fazer algo a respeito desses abusos. Após uma visão xamânica, a estratégia de resistência é traçada e ela envolve táticas de guerrilha e brinquedos, muitos brinquedos, resgatando a humanidade da população e fomentando a revolta ao governo injusto e cruel.

A princípio eu ignoraria Klaus, equivocado em pensar se tratar de uma história menor do pirado Morrison, algo que não valesse tanto a pena quanto outros de seus trabalhos mais profundos (Sim, eu vou atrás de encrenca 🤣). Engano meu. A reimaginação do mito do Bom Velhinho traz a assinatura Morrisoniana em cada pedacinho da trama: A insurreição ao sistema estabelecido, inimigos tenebrosos e, claro, a viagem de dorgas que leva o protagonista a fazer contato com inteligências não humanas de dimensões superiores, uma experiência que o autor alega ter tido na vida real em sua autobiografia, “Superdeuses”. Se os tóchico são bons para Grant Morrison, são bons pro Papai Noel👽.

Aos que têm expectativas baixas em relação a essa HQ como eu tive, fica aí o aviso quanto à possibilidade de serem surpreendidos com uma boa história que engrena já nas primeiras páginas, amparada por uma arte ótima, e com um gancho para uma continuação nos moldes daquelas HQs-para-cinema do Mark Millar, e digo isso no melhor sentido possível. Essa abordagem dos mitos de São Nicolau e do Krampus na estética ultra pop maniqueísta do século XXI deu muito certo na HQ. Afinal, se o bom velhinho tal como o conhecemos hoje em dia é um produto da cultura de massas, nada mais adequado do que esta releitura em uma mídia que é desde sua concepção projetada como entretenimento de massas, e vem se tornando cada vez mais difundido. Mesmo assim, esperem a adaptação para TV/Cinema. Nisso Mark Millar fez escola…

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208 páginas. Capa dura.
R$ 98,00

Eduardo Cruz
Eduardo Cruz é um dos Grandes Antigos da Zona Negativa, ou sejE, um dos membros fundadores, e decidiu criar o blog após uma experiência de quase-vida pela qual passou após se intoxicar com 72 tabletes de vitamina C. Depois disso, desenvolveu a capacidade de ficar até 30 segundos sem respirar debaixo d’água, mas não se gaba disso por aí.

Ele também tem uma superstição relacionada a copos de cerveja cheios e precisa esvaziá-los imediatamente, sofre de crises nervosas por causa da pilha de leitura que só vem aumentando e é um gamer extremamente fiel: Joga os mesmos games de Left For Dead e Call of Duty há quase 4 anos ininterruptos.

Eduardo Cruz vem em dois modos: Boladão de Amor® e Full Pistola®.

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