Resenha Relâmpago: RENASCIDA

Quem me conhece um pouco sabe que eu gosto de “Nêmesis”, HQ execrada pela galera, roteirizada por Mark Millar e ilustrada por Steve McNiven. Não, é sério! Admito sem vergonha nenhuma! Gosto bastante dessa historinha divertida, apesar de rasa; esse blockbuster safado de 116 páginas. Consigo até ver o Harrison Ford (de 20 anos atrás) interpretando o papel principal nas páginas. Me julguem.

Mas por quê estou me referindo a uma HQ já antiga do Millarword numa resenha dessa HQ mais recente??? Simplesmente por achar que foi uma das últimas HQs autorais do Millar que me entreteu, apesar de admitir todas as falhas e limitações contidas ali, e que não são poucas. Parafraseando um dos dementes aqui da redação durante uma discussão acalorada que gerou algumas lesões cerebrais irreversíveis em outro membro da nossa equipe, “Gibi nem sempre precisa ser profundo e cabeça, às vezes só um bom massavéio já faz o serviço”. Concordo, nem todo gibi precisa ser um “Promethea”, que para além de entreter, se propõe a transmitir profundos conhecimentos filosóficos e espirituais a seus leitores. Agora, quando o gibi não consegue ser massavéio nem divertido basicão sem insultar a inteligência do leitor, aí temos um problema em mãos.

“Renascida” tem uma trama que mistura a crença humana do pós-vida com Fantasia e um toque de Ficção Científica. Aqui acompanhamos a jornada de Bonnie Black, que após partir dessa para melhor, chega a Adystria, um mundo fantástico para onde vão todas as pessoas que morrem na Terra. Lá ela descobre ser a peça central de uma profecia que promete ser ela a responsável pela derrocada do mal local, que divide esse mundo em uma guerra sem fim. É claro que surgem antagonistas para impedi-la de cumprir sua jornada de descoberta e coisa e tal, mas é evidente também que tudo se resolve no ato final, naquele piloto automático que já virou marca registrada do multimilionário roteirista Mark Millar, exausto de boas idéias, com essa trama batidíssima, reviravoltas que não convencem o mais newbie dos leitores e muitos clichês reciclados. Para piorar, a dinâmica do além vida na história, que dita que o status dos personagens em Adystria é condicionado aos seus atos em vida na Terra se assemelha demais à narrativa de “Réquiem – Cavaleiro Vampiro”, HQ de Pat Mills publicada 17 anos antes (e que já resenhamos!! ( ͡° ͜ʖ ͡°)). Desculpem, mas pra mim as similaridades foram o bastante para caracterizar como uma chupinhação tosca. O ranço só aumentou a partir desse momento.

Só não categorizo Renascida como um desperdício total de papel porque a arte de Greg Capullo foi, literalmente, a única coisa que me possibilitou a seguir com a leitura até o fim. Aliás, Capullo deveria ser o santo padroeiro dos roteiristas fracos, já que o Batman de Scott Snyder, em especial o arco “Ano Zero”, assim como “Renascida”, só é possível de se ler até o fim embalado no traço do artista, que desde os áureos tempos de “Spawn” sempre deixou sua marca de “desenhista-que-faz-tudo-parecer-fácil”, com suas diagramações de páginas e ritmo narrativo sempre do mais alto nível. Mas quem é doido de comprar gibi só pela arte nos atuais tempos negros de aumentos insanos das publicações?

Não quero criar nenhuma polêmica gratuita. Sempre curti o trabalho do Millar na Marvel e na DC/Wildstorm e tenho depositado minha boa fé no Millarworld desde sempre, principalmente por causa de ótimas histórias com as quais fomos contemplados no passado, como “Os Supremos”, “Quarteto Fantástico”, “Wanted”, “Chosen” e “Kick-Ass”, mas há muito tempo, muito mesmo, não leio nada do Millar que me agradasse como nessa época. Anos bons que não voltam mais…

Já podemos tornar oficial? Então deixa que eu falo: Mark Millar, o rei do massavéio no fim dos anos 90 e início da década de 2000 perdeu a mão. Talvez eu finalmente consiga me libertar desse impulso de sempre dar um voto de confiança às HQs do Millarworld. E eu que tinha tantas expectativas quando li a sinopse de Renascida….. Que pena… Que pena, amor..

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Eduardo Cruz
Eduardo Cruz é um dos Grandes Antigos da Zona Negativa, ou sejE, um dos membros fundadores, e decidiu criar o blog após uma experiência de quase-vida pela qual passou após se intoxicar com 72 tabletes de vitamina C. Depois disso, desenvolveu a capacidade de ficar até 30 segundos sem respirar debaixo d’água, mas não se gaba disso por aí.

Ele também tem uma superstição relacionada a copos de cerveja cheios e precisa esvaziá-los imediatamente, sofre de crises nervosas por causa da pilha de leitura que só vem aumentando e é um gamer extremamente fiel: Joga os mesmos games de Left For Dead e Call of Duty há quase 4 anos ininterruptos.

Eduardo Cruz vem em dois modos: Boladão de Amor® e Full Pistola®.

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