CONTOS DA ZONA: Tantranscendental

Uma monja em estágio final de evolução espiritual estava prestes a realizar o derradeiro ato sexual/espiritual da sua vida. O ato final de sua existência sexual, o nível mais elevado que transcendia a carne. Para tanto, outros monges aprendizes serviram-lhe de consortes sexuais. Todo o ato fora feito em uma caverna abafada, à luz de velas com os participantes observando de um ponto acima, todos olhando com muita atenção para o derradeiro ensinamento da monja tântrica.

O ato começa com uma seção de toques sensuais pelo corpo da monja e ela os toca também, mas estes atos estão longe de serem considerados masturbatórios, são apenas trocas de carícias, olhares, ações sutis, para ativar a alma, avivar o desejo… Daí então começam os toques sexuais, com seções de massagem yoni e lingam, algo com o qual os praticantes já estavam muito habituados, pois cada um dos participantes era mestre nestas artes e inclusive já lecionavam tal prática. Em um dado momento todos os participantes daquela orgia entraram numa espécie de transe, do qual nada mais ao redor fazia sentido; não havia quem os interrompesse a concentração do ato e então se deram as penetrações; entre gozos e orgasmos, passaram-se 72 horas ininterruptas de sexo, os corpos, no auge de suas condições físicas, pareciam não se cansar de tanto transar.

Estavam belos, suados e no apogeu do êxtase carnal, cada nervo, cada terminação e corpúsculo da epiderme gritava de deleite. Passaram-se mais 72 horas e a orgia seguia ininterrupta. Os que estavam lá para observar recebiam refeições. Eles sabiam que aquele ato final da monja não tinha hora ou dia para terminar. Quanto prestes a completar exatos 7 dias de sexo ininterrupto, a temperatura corporal dos praticantes começou a elevar-se a um nível perigoso, e quando um dos monges começou a soltar fumaças internas, a monja o separou e com um olhar contemplativo agradeceu-lhe por participar de tal ato. Este monge, ao ser afastado da orgia, caiu em sono profundo. Tempos depois, soube-se que aquele monge dormiu por exatamente uma semana e ao acordar ficou mais uma semana em meditação sobre o que aconteceu.

Desse monge, diz-se que ele se isolou até que sua ereção baixasse.

Voltando ao ato da monja, um a um os participantes iam soltando fumaças de seus corpos, momento em que a monja os liberava da venerável cerimônia venérea e com serenidade no olhar os agradecia. Isso se sucedeu até o último homem, e então a monja continuou sozinha num ato contínuo de masturbação até que ela mesma começou a soltar fumaças de sua pele. Sua expressão antes contemplativa deu lugar a uma expressão de prazer tão intensa que seus gemidos passaram a urros de prazer. Repetindo mantras hindus aos berros, ela continuou até que seu corpo começou a ficar vermelho. Era o processo final da Kundalini, a serpente de fogo, energia da vida ativando os 7 chakras do corpo humano. Ela se tornara abrasiva, sua carne estava incandescendo por debaixo da pele. O vermelho, antes sutil, crescera para um tom intenso e brilhante, enquanto os atos masturbatórios continuaram num ritmo constante, nem muito rápidos, nem muito lentos, com a monja continuando incessantemente a emitir mantras até que suas extremidades começaram a pegar fogo de fato. Os participantes atônitos rogavam para que o ato cessasse, mas ninguém podia chegar perto dado o calor emitido.

Era a combustão espontânea mais sensual já vista sobre a face da Terra.

A monja enfim queimou até os ossos e nenhuma cinza sobrou daquele evento ao mesmo tempo belo e aterrorizante, um fenômeno impressionante de ser assistido. Aquela monja, ao atingir a iluminação, fez sexo até o ponto de ignição de sua força vital, de modo a atingir o nirvana sexual além de um ponto em que a carne não suportara, tendo de continuar sua contenda no plano espiritual, onde nenhum participante vivo pôde mais observar ou ponderar sobre o que aconteceu depois disso. Reza a lenda que quando isso acontece, tais monges se unificam e integram a totalidade da energia sexual que emana no cosmos e que todos que transam um dia acessam essa mesma energia.

Unos com o gozo.

Por Conde Vlad (Instagram: @condevlad3)

Os Contos da Zona são histórias escritas pelos membros da Zona Negativa, com o objetivo de expandirem a produção de conteúdo para além das resenhas. Assim sendo, esperamos proporcionar boas experiências de leituras e reflexões. Deixe seu comentário 😁

ZonaNegativa
A Zona Negativa existe, e é o espaço onde cada um de nós guarda e explora nossos universos fictícios, onde nos encontramos, debatemos, sugerimos e conhecemos outros mundos, para que nossa missão continue interminável. Há uma infinidade de beleza e horror na Zona Negativa. Vamos explorá-la juntos?

Deixe um comentário