O Post Punk (ou Pós Punk) é um gênero musical que originalmente surge como uma sequela da primeira geração do Punk, uma das primeiras bandas do gênero inclusive, o Joy Division, cita que o que atinou a criação de uma banda foi um show dos Sex Pistols. Apesar da inspiração, o gênero não é pautado na música rápida e agressiva de cunho político que dominou as bandas dos anos 70. A inspiração foi importante, e talvez a característica mais marcante seja o domínio de bandas inglesas e americanas na composição de bandas de post punk dos anos 80, década do qual o gênero se firmou no mundo da música, mas rapidamente perdeu grande parte de seu destaque. Mas o post punk como música é fundamentalmente inglês (como língua) e está fadado ao auge dos anos 80?
Inicialmente é importante saber que o post punk nunca acabou, porém suas características foram consideravelmente alteradas com o passar do tempo. Tendo elementos de new wave, música eletrônica e Gothic Rock cada vez mais presentes nas composições, existindo assim bandas cada vez mais originais dentro do mesmo pacote do que foi considerado o post punk. Portanto, a tradição de músicas do gênero não desapareceu e várias bandas famosas foram surgindo como a banda soviética Biokonstruktor e Depeche Mode. Já o The Cure, por exemplo, acrescentou vários elementos de outras bandas do mesmo gênero.
É perceptível que o post punk sempre esteve vivo, inclusive tendo ótimos discos recentes de bandas clássicas como o já mencionado Cure que em 2008 lançou o aclamado 4:13 Dream. Porém, nos últimos anos é perceptível um levante ainda maior do post punk com bandas recentes do mundo todo, que inclusive têm se organizado para se apoiar e de fato revitalizar uma nova cena.
O movimento é mundial e gostaria de destacar a banda brasileira The Completers, que faz um post punk com uma qualidade pouco vista na história da música. Algumas bandas europeias como o Soviet Soviet, post punk Italiano, somado ao movimento russo e do leste europeu em geral que inclui bandas como Numberg, Brandenburg, Human Tetris, Ploho e Molchat Doma, que têm se organizado para a conquista de um público e criação de uma cena.
As letras dessas bandas englobam discussões sobre as novas gerações, suas depressões e melancolias, envolvendo também questões existenciais e uma certa esperança com um tom levemente festivo. Cada banda vai apostar em algum dos aspectos do post punk, da new wave e até mesmo na música eletrônica para criar uma identidade e passar sua mensagem. Já as músicas e apresentações têm utilizado toda a tecnologia e redes sociais disponíveis para se firmarem no mundo, inclusive com estéticas bastante originais aparecendo.
Talvez a banda que melhor capitalize e resuma todo este movimento seja o Molchat Doma, banda bielorussa de Minsk fundada em 2017. E composta por: Egor Shkutko — Vocais, Roman Komogortsev — Guitarra, Sintetizadores e bateria eletrônica e Pavel Kozlov — Baixo e sintetizadores. A banda consegue ser versátil em seus discos, tendo seus dois primeiros álbuns С крыш наших домов / S Krish Nashih Domov (LP, 2017) e Этажи / Etazhi (LP, 2018) um clima muito mais soturno com músicas lentas. Já em seu último álbum, chamado Monument eles apostam ainda mais nos sintetizadores e criam músicas que são quase que unicamente pensadas para festas, como a incrível Discoteque.
A banda, apesar dos três excelentes álbuns, se destaca principalmente por suas apresentações ao vivo. A banda interpreta as músicas e é visível a entrega e emoção dos três integrantes nos shows, incluindo também a voz do vocalista Egor, que possui um destaque muito maior ao vivo, voz grave que casa perfeitamente com a banda e dá um novo “gostinho Ian Curtis” para quem gosta do post punk. O Molchat Doma também possui uma assinatura visual muito específica com suas danças e o bigode do vocalista, que eles citam já ter virado um ponto característico da composição do grupo em uma entrevista para a Belsat TV.
O Molchat Doma já fez música junto da banda russa Ploho, também recente e que também possui excelentes discos. Outra característica são os encontros das bandas, covers entre si e a utilização de camisetas do Ploho pelos integrantes do Molchat Doma e vice versa. Essas bandas estão de fato se apoiando para levantarem juntas esse movimento artístico que tem explodido em qualidade a partir da cooperação.
Portanto, vale a pena acompanhar essas bandas e conhecer as novas que aparecem na cena e se apoiam, o show do Molchat Doma pelo Tasksirat Festival é um dos melhores shows que já acompanhei e vale a pena entrar um pouco na cabeça da banda e compreender melhor o que eles queiram passar (mesmo sendo cantado em um idioma tão distante do nosso). O post punk possui um histórico incrível com as várias bandas que serviram de base e inspiração, como a ‘santíssima trindade’ composta por The Cure, Depeche Mode e Joy Division, que fomentaram uma arte e uma ideia que hoje está sendo repensada por uma geração de novos conflitos e tempos.
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