Castlevania – Warren Ellis dando um pulo fora dos quadrinhos.

Após quatro temporadas finalmente se encerra a jornada de Trevor Belmont, Sypha Belnades e Alucard na Netflix, com o fim de Castlevania. Podemos dizer que foi bom? Vamos falar um pouco sobre essa animação roteirizada por ninguém menos que Warren Ellis (Transmetropolitan, Frequência Global).

Em 2017 surgia uma adaptação, em animação, do jogo Castlevania III: Dracula’s Curse, de 1989. Produzido pela Konami, o jogo se baseava na jornada do caçador de vampiros Trevor Belmont, que vinha de uma linhagem famosa nesse sentido. Apesar da alcunha de caçadores de vampiros, a série de jogos nos traz o conceito de Criaturas da Noite, que abrange todo tipo de aberração de Dark Fantasy que você possa imaginar. Então, tanto no jogo quanto na série, Belmont e seus aliados enfrentam desde goblins saltitantes com machados afiados até generais vampiros e múmias intangíveis. Esse conceito torna muito mais fácil trazer uma aventura mais dinâmica pra série e tornar o jogo menos enfadonho e repetitivo.

Symphony of the Night, o mais popular título da franquia no Brasil e meu preferido.

Castlevania fez muito sucesso, o que levou a Konami a ter uma franquia longeva de jogos que tiveram títulos desde o Nintendinho até o PlayStation. Sempre seguindo a mesma dinâmica de enfrentamento de criaturas da noite, com a eventual volta de Drácula do mundo dos mortos. Drácula é uma peça central nessa série, estando ou sendo citado em quase todos os títulos. Um dos títulos de maior sucesso e que consolidou a franquia no Brasil foi Castlevania Symphony of the Night, na qual o protagonista é Alucard, filho do próprio Drácula, que luta contra a figura do pai começando pelo próprio nome.

Quando foi anunciada a animação pela Netflix meu minha maior surpresa e expectativa não foi pelo jogo em si, do qual sou muito fã, mas pelo nome que encabeçava o projeto, Warren Ellis. Era a junção de duas paixões, o jogo e a narrativa de Ellis que é, na minha opinião, um dos maiores roteiristas de HQs de todos os tempos. Fiquei bem ansioso pela série. E, num acontecimento raro, toda minha expectativa foi recompensada.

Alucard, Trevor e Sypha

Apesar de não ser meu jogo preferido, Castlevania III tem uma história muito mais palatável para uma adaptação desse tipo do que o meu queridinho Symphony of the Night. A história começa com o encontro de Lisa com o temido Vlad Tepes, que vive num castelo sombrio e afastado da comunidade de Lupu onde Lisa mora. A jovem que sonha em ser médica busca conhecimentos secretos que o Conde possuiria baseados em ciência e não nas superstições em que os aldeões acreditavam. Logo o vampiro se encanta por ela e eles começam um relacionamento. Ela passa a usar todo o conhecimento existente no castelo para curar as pessoas e aumentar a qualidade de vida em Valaquia.

Vlad e Lisa Tepes com seu pequeno Adrian “Alucard” Farenheit Tepes!

No entanto esse conhecimento raro e estranho para a maioria da população chamou a atenção da igreja, que a condenou por bruxaria e a queimaram viva. Desnecessário dizer que isso desagradou o Drácula, que foi imediatamente atrás de vingança, jurando de morte cada ser humano da região. Em sua sentença, ele dá um ano para que todos os humanos em Valaquia fujam e salvem suas vidas. Nesse período ele emprega todo seu conhecimento em ciências e magia para construir um exército de criaturas da noite que se alimentam de carne e sangue. Bem, vivemos em 2021 e sabemos como o ser humano é completamente imbecil quando se trata de cumprir algo do qual dependa sua existência. Na animação não é diferente. Todos ignoram o aviso do Conde e depois de um ano, pagam com suas vidas por isso.

Drácula putaço com os cristãos. Não vou falar mais nada…

Nesse momento somos apresentados a Trevor Belmont, que vem de uma das grandes famílias da Valaquia. As grandes famílias exerciam controle sobre todos os aspectos da vida em Valaquia, sendo os Belmont os que cuidavam dos conhecimentos e artefatos para enfrentamento de criaturas sobrenaturais. Em tempos de paz quanto a essa luta, a família foi perseguida pela igreja, acusada de bruxaria e caiu em desgraça. Aqueles que não fugiram foram executados, com excessão de Trevor, que tenta fugir do legado da família.

Apesar de sua escolha por viver no anonimato, Trevor é pressionado a tomar alguma atitude com a investida de Drácula sobre a região. Em sua jornada ele encontra com os Oradores, um grupo de ocultistas que viajam recolhendo conhecimento e ajudando vilarejos. Com o conhecimento que eles registram, com o passar do tempo, surgiram magos em suas fileiras. Isso fez com que também fossem alvo da igreja, taxados de bruxos nômades. Num ataque de padres a um orador, Trevor acaba se envolvendo com eles e resgatando uma oradora perdida, Sypha Belnades. Ela se mostra a mais poderosa entre eles, tendo domínio sobre magia elemental de água e fogo.

Juntos, os dois conseguem libertar o fruto de uma profecia, o Guerreiro Adormecido, ser que poderia proteger os homens das criaturas das trevas. Nas catacumbas onde Sypha estava transformada em pedra, eles encontram o Guerreiro Adormecido, que na verdade se tratava de Alucard, filho de Drácula que após se opor ao seu pai, e ser derrotado, se colocou em torpor até que conseguisse enfrentar seu pai novamente. Com a união desse trio, começa a jornada com o objetivo de deter o rei dos vampiros.

Alucard e a espada roubadíssima dele.

E isso tudo é apenas o início da primeira temporada. Ellis é habilidoso em contar muita coisa em pouco tempo apenas com uma narrativa fluída e bons diálogos. Ele sempre fez isso nas HQs e não mudou nessa nova mídia. Tudo o que você precisa saber sobre os personagens é dito de maneira inteligente, sem diálogos expositivos, num roteiro bem construído pra isso. Fora os personagens que destaquei aqui temos vários outros que vão surgindo com o passar do tempo, afinal de contas são quatro temporadas. Os personagens são bem desenvolvidos tendo aspirações concretas e não fogem delas pra facilitar o andamento da história. E o desenvolvimento dos protagonistas é muito bem feito.

Nem só de Drácula vive a noite de Valáquia.

Castlevania é sem sombra de dúvidas uma das melhores coisas que assisti na Netflix até hoje. A arte da animação é boa com ótimas sequências de luta, tão bem feitas que em alguns momentos as peripécias de Trevor com um chicote ou mangual parecem até críveis. A dublagem é ótima. A trilha sonora e a edição de som transmitem bem o clima de dark fantasy que a série merece. Tudo isso entregando um excelente material, repleto de ação e plot twists bem interessantes. Pra quem não jogou os jogos é uma boa animação. Pra quem jogou ela se torna melhor ainda. Resumindo, eu diria que vale muito a pena aproveitar esse período de isolamento social e ficar em casa, cumprindo seu papel cívico em proteger o próximo, bem acompanhado de Trevor, Sypha, Alucard e as Criaturas da Noite.

Texto por Pedro Rodrigues (@prodrigues27)


Curtiu essa resenha? Não perca as próximas! Temos textos todas as terças e quintas!

Pedro Rodrigues
Perdido na vida há trinta anos, sem vocação pra ser "cult" e fã dos escritores britânicos. Estuda tarô, cabala, hermetismo, magia do caos e teoria da Mãe Piruleta que traz seu amor em três dias em território nacional. Em meio a tudo isso descobriu seu animal de poder, uma lontra albina. Lendo de bula de remédio a Liber Null e Necronomicon, seu propósito com a escrita é esvaziar a mente e evitar com isso a perda do seu réu primário.

Deixe um comentário