Depois de muita espera, vemos se formar um grande acervo de um dos maiores autores de ficção pulp de todos os tempos, Robert E.Howard, no Brasil! A editora Pipoca e nanquim tem feito um grande papel ao recuperar todos os contos originais e nos trazer em português, e o melhor… não pararam por aí, hoje lhes trarei a resenha desse rei tombado, dessa representação do grande selvagem tão sonhado desde a infância pelo próprio autor, o rei de um povo pelo qual o criador das histórias teve interesse em pesquisar e escreveu seu primeiro conto com apenas dezesseis anos de idade!
“O primeiro personagem que criei foi Francis Xavier Gordon, El Borak. Não me lembro de sua gênese. Ele ganhou vida em minha mente quando eu tinha cerca de dez anos de idade. O seguinte foi Bran Mak Morn, o rei Picto. Bran foi resultado de minha descoberta da raça dos Pictos quando li algumas obras históricas na biblioteca pública de New Orleans, aos treze anos. Fisicamente ele é bastante parecido com El Borak”
Robert E. Howard
Os Pictos, figuras sempre presentes nas histórias de Howard, o fascinavam por completo. Ele via neles uma resistência e tentativa de sobrevivência de um povo já decadente por séculos e séculos de atrasos e de perseguição. Eram nativos escoceses originais quando foram atacados pelos Celtas, um povo poderoso, vencedor e que mantinha um grande reino, e depois dos ataques Celtas acabaram se dispersando pelas florestas e também se refugiando em cavernas e túneis, se tornando com o tempo um povo de fisionomia fraca, pequena e simiesca, e que embora alguns lembrassem o seu passado poderoso, já não cultivavam mais esperanças de voltar a esse passado de glórias, mas se refugiar na escuridão, perdendo cada vez mais sua cultura e se entregando a barbárie como um todo.
O ÚLTIMO REI
Bran é talvez um dos personagens mais melancólicos do autor: Ele não mais vê aquela sua linhagem antiga de altos guerreiros fortes, e sim apenas bárbaros com estatura baixa e aparência simiesca. Ele tenta mais do que tudo reunir novamente todos os clãs dispersos de Pictos em um só e se tornar o rei de todos e não apenas de um pequeno grupo. Nisso muitas vezes ele tem o auxílio do Gaélico Cormac, o soldado que muitas vezes é como se fosse o próprio protagonista do conto, vendo todos os atos épicos do bárbaro melancólico Bran, que apesar da inevitável extinção de seu povo, luta sem trégua, tanto por sobrevivência quanto pela vontade de restaurar autonomia de seu povo, resgatar suas origens, relembrar de Brule, o Lanceiro, que há muito tempo atrás, auxiliava o Rei Kull, o grandioso, em companhia do sacerdote das trevas Gonar, que aparentemente é o mesmo Gonar que talvez por feitiços permaneça vivo e também auxiliando Bran nas batalhas e aconselhando os seus servos. Nosso herói melancólico é carregado de coragem, porém totalmente desesperada e sempre consciente da extinção iminente de seu povo.
OS CONTOS
Apesar de em vida Howard ter escrito pouquíssimos contos do personagem e também propriamente sobre o povo Picto como protagonista, temos uma diversidade de protagonistas, situações e de linhas temporais aqui. Ora temos Bran lutando pela sua própria sobrevivência e união de seu povo, com uma história épica cheia de sangue e vísceras e estratégias militares que já estamos acostumados a ler com o autor; ora temos outros protagonistas vagando e encontrando o povo Picto; temos os infelizes contos sobre o Bran já falecido, como uma espécie de deus para o seu povo já na ruína, o último da resistência de seu povo já perdido. Um dos meus preferidos é já no século XX, onde um personagem estuda sobre os Pictos e acaba percebendo que ele mesmo é um descendente deles e que precisa voltar às suas origens tribais, um conto que vai de um tom de suspense a um combate violento do modo mais brutal possível. Já nos conteúdos extras também podemos ler um conto que serve basicamente como uma viagem no tempo para todos aqueles que se interessam pela Era Hiboriana. O autor traça uma viagem histórica de um personagem através do tempo, desde as nações caídas de Atlântida e Mu, até a chegada do período feudal e dos seus impérios, do nascimento e do fim dos Pictos, do surgimento dos Cimérios, dos reinos da Aquilônia e todas aquelas nações que amamos ler sobre. Para não estragar as surpresas em diversos contos e também deixar esse gostinho para se surpreender com o livro, deixarei ocultos outros contos e acontecimentos, assim como o encontro de Bran com outro rei muito famoso das histórias do Howard.
A EDIÇÃO
O livro é impecável, seguindo o padrão dos volumes de contos do Conan, também editados pelo Pipoca e Nanquim. Além dos contos traduzidos do original, temos os poemas envolvendo os Pictos e o personagem, podemos ler peças que o autor escreveu, poemas diversos que tanto celebram o povo Picto como também narram histórias de uma forma lírica. Vemos aqui outro lado do autor, um lado lírico, onde cada sangue e membro decepado é uma como uma ária em uma ópera. Pra finalizar ainda contamos com célebres cartas do autor falando sobre a evolução dos seus contos, fazendo críticas e autocríticas sobre seus personagens, estudos sobre a história e várias dicas e trocas de idéias com o famoso H. P. Lovecraft, cartas pra deixar qualquer fã bastante curioso e afim de ter em sua coleção, bastante necessária para entender como funcionava o método criativo do autor. Ah, e não posso deixar de falar que assim como as edições do Conan, Bran Mak Morn conta com as belíssimas artes criadas pelo artista Gary Gianni que te fazem realmente adentrar nesse universo cheio de sangue, glória e brutalidade.
Texto: @Martinianofromars
- Editora : Pipoca e Nanquim
- Idioma : Português
- Capa dura : 364 páginas
- Preço: 72,90
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