CONTOS (ERÓTICOS) DA ZONA: Delícias de um Sargento de Milícia.

O que vemos abaixo é um relato extraído da seção de cartas da revista PlayMacho, ano XXVI, edição nº 37 (abril/2019), enviado por um leitor da Zona Negativa que achou por bem chamar a atenção para essa narrativa. Segundo ele, o sujeito parece familiar, mas ele não conseguiu fazer as conexões, e permanecendo angustiado com essa sensação de que se tratava de um possível conhecido, ele encarecidamente nos pediu para que cedêssemos o espaço para o relato da supramencionada revista, na esperança de que algum outro leitor pudesse ajudá-lo com a valiosa informação. Segue abaixo a transcrição:

“Prezada revista PlayMacho, é uma honra inarrenável inenarrável escrever para essa ilustre publicação pela primeira vez. O relato que eu trago é mais do que compartilhar um ocorrido. A cuestão questão aqui é tirar do peito essa história, que se passou há mais de trinta anos, mas que ainda mexe demais com meu sentimentos, haja visto que foi uma paixão única, e nunca mais me permiti outro arroubo tão intenso florescer do meu interior. Mas é melhor assim.

Nos anos 80, servia como sargento de infantaria em um batalhão no estado do Rio de Janeiro, que por razões bóvias óbvias, não posso revelar. Gostaria que meu sigilo nessa cues questão fosse mantido. Então, no tocante ao sigilo, e prosseguindo: Era sargento e tinha sob meu comando um pequeno pelotão, todos soldados jovens, recém engre ingressados, na flor da idade, o popular ‘pé-preto’. Eu gostava de minha função e achava necessário transformar esses meninos em homens de verdade, porque é como eu sempre digo: Se o menino tá ficando assim meio afeminadozinho, um couro resolve! E eu tinha cerca de vinte e quatro recrutas para ficar de olho. Porém, um deles era particularmente irritante: O soldado Aleixo. O jeitinho afrescalhado daquele rapaz, logo no primeiro dia, já me irritou. Aleixo não era exatamente o que se poderia chamar de homem viril. Com um jeito muito delicado, uma fragilidade enervante e aquelas mãos moles. Sempre aquelas mãos moles e aquela vozinha. Ele tinha que ir embora.

Então esse ano eu já sabia quem iria ser a primeira desistência da nova turma de recrutas. O boiolinha. O rapaz, com aquele comportamento, sem se dar ao respeito, tinha que desistir, e o quanto antes! Aquela manxa mancha não podia desonrar o pelotão nem mais um segundo! Então eu peguei pesado sim! Pagava mais flexão que os outros! Corria mais que os outros! Sempre lavava as latrinas! E ainda levava sabonetada de madrugada no alojamento! Ou virava homem ou pedia pra sair! É como eu sempre digo: Quem é minoria tem que se curvar às maiorias! Aí a essa altura vocês estão se perguntando por quê essa implicância com o boiolinha. É porque esse pessoal tem aquele jeito de civil indisciplinado, de viado escandaloso, promíscuo. E isso a gente não aturava, tá entendendo?

Porque a gente, é o seguinte… vou contar como é. Civil não tem essas facilidades que a gente tem! Civil tem que se arriscar, beijar desconhecido, ir em termas, barzinho, inferninho, corre o risco de ser roubado, esfaqueado. Ou pior, de pegar uma doença. Na caserna não tem nada disso não! Ali é seguro, é limpinho, todo mundo toma banho, você conhece o outro, não tem esses pobremas problemas. Além do mais, ali está todo mundo unido pelo dever cívico, são todos patriotas! PA-TRI-O-TAS! Não é putaria, cachorrada, nem sem vergonhice afeminada! São homens que se dão ao respeito! É uma irmandade! Tudo bróderes cristãos, limpinhos, pais de família, gente de bem! Então essa era a cuestã questão! O problema é a sem vergonhice, ficar transando que nem um bando de comunistas safados, barbudo com glitter na cara se agarrando. Onde já se viu??? Pra que essa frescura, porra?

Então, lá estava eu, firme na minha missão! O soldado Aleixo estava há três meses no curso de formação e nada! A persistência do rapaz começava a me surpreender. Nada do que eu fizesse o fazia desistir! O rapaz tinha mais fibra do que parecia, mais macho do que meus recrutas mais animados! Eu tinha que aumentar a pressão em cima do fresco, ou ele poderia concluir e se engajar! Já pensou, aquilo fardado como oficial, seguindo carreira? Não dá, porra! Então bolei um plano: Coloquei Aleixo no castigo como sempre, dessa vez capinando o matagal sozinho, e enquanto o pelotão já estava no rancho jantando, Aleixo ainda estava nas duchas após o serviço. Entrei, sorrateiro, com uma toalha molhada, e aproveitando que ele estava com sabão nos olhos, o surpreendi com várias toalhadas certeiras, nas coxas, nas nádegas… E gritando “PEDE PRA SAIR, ALEIXO! PEDE PRA SAIR! VOCÊ NÃO FAZ PARTE DISSO AQUI! SAI DO MEU PELOTÃO, DESGRAÇADO!“.

Sim, eu estava inflamado! Eu mesmo não entendia esse descontrole. Nunca havia sentido aquilo. Era como se eu não estivesse no controle das minhas emoções! Mas o pior foi a reação de Aleixo: O rapaz agarrou meu pulso, e me olhando fundo nos olhos (nossa, ele tem olhos verdes lindos) me fez soltar a toalha, passou as mãos pelo meu tórax e, completamente nu e molhado, me deu um beijo que me fez sentir um calor como nunca senti antes em minha vida.

Eu não resisti. Meu coração batia em uma cadência diferente. Aquilo era diferente das brincadeirinhas consentidas entre os rapazes no quartel. Seu beijo era mais passional, molhado. Ele tinha duas cobras do amor: Uma explorando avidamente a minha boca e a outra pulsando junto à minha coxa, dura e morna. Eu sentia as pernas bambas, o rosto pegando fogo, e o sangue rapidamente correndo em direção ao meu órgão viril, fazendo ele ficar estrume intumessi intumescido. Não pensei em mais nada. Apenas arranquei minha farda o mais rápido que pude e me entreguei em uma tórrida sessão de amassos de corpos molhados e suados que só foi interrompida quando escutei os homens do alojamento se aproximando, na volta do refeitório. Me arrumei às pressas e segui meu caminho.

Dali em diante minha vida tomou um rumo diferente: Voltava para casa, para minha mulher e meus dois filhos, mas tudo parecia ser um filme monótono. Mal dormia. Me deitava ansioso pela alvorada, quando estaria de volta ao quartel. Junto de Aleixo. Dali em diante tivemos semanas gostosas de brincadeiras e jogos de prazer, sempre no maior sigilo possível, para ninguém descobrir! Aleixo me ensinou as sutilezas das brincadeiras entre dois homens adultos saudáveis, tá entendendo? Sadomasoquismo, sodomia, chuva dourada, fist fucking… o menu completo, tá entendendo? Palare Pararae Paralelamente a toda essa felicidade carnal, eu sentia alguma coisa crescendo por esse rapaz, uma afeição, um sentimento, que misturado à libido que ele me despertava, me fazia chegar às raias do descontrole. Logo eu, que sempre fui tão centrado, agora estava entregue a uma paixão que consumia como fogo! Mas eu queria mais! Pra mim, aquilo valia mais que todo o Nióbio do mundo! Eu queria o soldado Aleixo só pra mim!

Apesar de continuarmos fingindo a hostilidade na frente dos outros, sempre que podíamos, nos encontrávamos: Nas guaritas mais afastadas, nos chuveiros, no paiol de armamentos… Eu estava apaixonado e senti que era hora de me declarar. Um dia, após mais uma sessão tórrida de sexo selvagem (nunca fui possuído com tanta brutalidade e delicadeza ao mesmo tempo, impossível explicar, só sentir! Que delícia, cara!), tomei coragem e me declarei. Disse que largava tudo por ele. Tudo, tudo, tudo! Menos, é claro, o glorioso Exército brasileiro! Afinal, eu era um combatente! Com o coração ainda palpitando nos ouvidos, apreensivo pela resposta que não vinha, ele solta uma gargalhada debochada e logo diz “Ah, maricona, eu não quero você! Jamais que eu iria namorar com uma bicha horrorosa que nem você. Você é mau! E eu só estava me vingando. Continua trancado dentro do teu armário, da tua vidinha, ô enrustidona! Agora sim eu vou pedir baixa. Eu quero que você se foda! Seu filho de uma puta!“.

Meu mundo havia desabado, se demonst desmantelado à minha volta. Tudo que eu sonhei, as noites sem dormir, os planos para o futuro, o soldado Aleixo transformou tudo em pó com a sua crueldade. Ele era vingativo. Rancoroso. Aquela bichinha. Ele deveria ser torturado pelo que fez. Eu sou favorável à tortura, não sei se já disse isso. Parti pra cima dele, com as lágrimas rolando pelo rosto, queimando minhas faces. Agarrei Aleixo com toda a força que pude, aos berros. Não iria soltar ele. Ele é meu!

A única coisa de que me lembro é de ser agarrado por dois guardas de plantão enquanto não parava de berrar e chorar “ALEIXO, EU TE AMO! QUERO VIVER CONTIGO, TÁ BOM? VAMOS FUGIR JUNTOS! EU QUERO VOCÊ PRA MIIIIIIIMMMMMMM!!!!!”

Confesso que fraquejei. Perdi a linha que nem uma bichinha descontrolada. Tive um surto psicótico e fui afastado. O alto comando do quartel achou melhor criar uma história… ‘alternativa’, bem menos vergonhoso tanto para mim quanto para eles. No relatório, oficialmente, tive uma ‘crise nervosa’. Se a história verdadeira vazasse para cima, talvez eu nem tivesse direito à pensão. Isso sem falar na mancha para a própria instituição. O que eles bolaram foi que eu estava sendo afastado, promovido a capitão e reformado por invalidez. O major Pereira, grande amigo, criou a narrativa de que eu teria ameaçado explodir uma bomba no quartel, com a justificativa de estar insatisfeito com o soldo baixíssimo. Isso preservou tanto minha honra de homem quanto a honra do Exército Brasileiro. Nunca mais vi Aleixo, que foi transferido, e não me disseram para onde. Nunca mais o procurei. Ele que se exploda, viadinho. Poucos anos depois ingressei na política, galgando cargos eletivos e subindo a…. cargos ainda mais elevados. Hoje, sem correr o risco de revelar a minha identidade, posso dizer que sou bem influente no país, principalmente entre a juventude. Deixei o passado pra lá, prometi a mim mesmo que nunca mais vou me permitir sentir uma emoção tão intensa, mas quando vejo um dos meus filhos, sempre de gracinhas e intimidades com um… primo, não consigo deixar de pensar “E se eu seguisse o meu coração?”. Posso dizer, por experiência pópria própia própria, que esse negócio de “Seguir seus desejos” é bobagem, mimimi superestimado. Quer dizer, olha só pra mim! Apesar de tudo o que aconteceu, hoje deu tudo certo na minha vida! Venci na vida, PORRA! Tive vários casamentos, mais de cinco filhos e durmo muito bem à noite com as escolhas que fiz. Melhor ser um cidadão de bem do que um marginal vermelho afrescalhado! Se eu vir dois homens se beijando na rua eu vou bater! O país precisa é de mais gente assim como eu, caso contrário, seremos comandados por VA-GA-BUN-DOS que ficam nessa frescura de fazer as coisas ouvindo o próprio coração! E isso eu não posso permitir! Abraços à redação desta ilustre revista e Brasil acima de tudo!”

Contos da Zona são histórias escritas pelos membros da Zona Negativa, com o objetivo de expandirem a produção de conteúdo para além das resenhas. Assim sendo, esperamos proporcionar boas experiências de leituras e reflexões. Deixe seu comentário 😉

Eduardo Cruz
Eduardo Cruz é um dos Grandes Antigos da Zona Negativa, ou sejE, um dos membros fundadores, e decidiu criar o blog após uma experiência de quase-vida pela qual passou após se intoxicar com 72 tabletes de vitamina C. Depois disso, desenvolveu a capacidade de ficar até 30 segundos sem respirar debaixo d’água, mas não se gaba disso por aí.

Ele também tem uma superstição relacionada a copos de cerveja cheios e precisa esvaziá-los imediatamente, sofre de crises nervosas por causa da pilha de leitura que só vem aumentando e é um gamer extremamente fiel: Joga os mesmos games de Left For Dead e Call of Duty há quase 4 anos ininterruptos.

Eduardo Cruz vem em dois modos: Boladão de Amor® e Full Pistola®.

7 comentários em “CONTOS (ERÓTICOS) DA ZONA: Delícias de um Sargento de Milícia.”

  1. Mais uma vez, outro conto excelente!
    E esse me fez rir demais, pela precisão do estilo de redação do leitor confidente em sua carta de confissão …
    Quem será esse tão misterioso cidadão…?!
    😄

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  2. Kkkkkkkkkkkkkkkk!Acho que conheço essa criatura que está presa em Nárnia!Táokey?Excelente texto! Parabéns!Continuo rindo alto por aqui!Ahuahuahuahua!

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