Resenha Relâmpago – A COZINHA: Rainhas do Crime.

Se tem um assunto que me prende em histórias esse assunto é máfia. Desde a adolescência filmes como O Poderoso Chefão, Bons Companheiros e Infiltrados me fazem perder horas no sofá. Não poderia ser diferente com quadrinhos. Assim que li a sinopse de Cozinha: as Rainhas do Crime, eu decidi que iria comprar. A HQ narra os acontecimentos gerados por três mulheres irlandesas que tem seus maridos presos e resolvem tomar conta dos negócios no lugar deles. Levando em consideração que a HQ se passa na década de 70, podemos imaginar como isso impactou os demais jogadores do cenário criminoso local.

Na década de 70, Nova Iorque vivia em dois mundos diferentes que se encaixavam de maneira peculiar. De um lado a onda Disco invadia as boates e dava cores as pistas de dança, com roupas extravagantes e muito brilho. Do outro, a periferia explodia em índices de criminalidade e consumo excessivo de crack, a nova onda naquele momento. Era um estado de alegria depressiva que consumia a cidade, falida na época. Muita música, muita droga, muita violência, muito preconceito e muitas, muitas gangues. A situação era tão caótica, que existia um mercado de piromanos que recebiam para queimar casas, dos próprios proprietários, visando receber o dinheiro do seguro, por conta da desvalorização de várias áreas da cidade, principalmente o Bronx.

Em meio a todo esse caos, as gangues tomavam conta de toda a cidade, demarcando territórios e o controle de vendas de tudo que era ilegal. E como se tudo isso que falei até agora não bastasse para criar um cenário efervescente de violência, tinham as máfias. A máfia irlandesa, em 70, já não tinha nem metade do poder que deteve em tempos anteriores. Devido as ações de uma organizada, e hierarquicamente mais desenvolvida, máfia italiana, os irlandeses eram uma sombra do que haviam sido restando células familiares que detinham acordos quase que de subserviência com famílias italianas, principalmente com a Gambino.

É nesse contexto todo que se passa a história de Cozinha – As Rainhas do Crime. As três personagens centrais da história decidem dar continuidade aos negócios criminosos de seus maridos presos. E infelizmente é só isso. Num cenário tão rico como a Big apple de 70, Ollie Masters (Sons of Anarchy, Snow Blind) resolveu focar tanto nas personagens principais e seus conflitos que deixou toda essa gama de possibilidades de fora do seu roteiro. Compreendo que essa foi uma atitude consciente para manter um ritmo proposital na trama, mas quem curte esse tipo de história e esse cenário de criminalidade, um tanto quanto romantizada, sente aquele gosto de que poderia ser melhor. Apesar de uma boa história, você termina de ler com aquela sensação de “já acabou?”. A história é tão fechada e autocontida nas personagens principais que já virou filme que teve sua estréia esse ano.

Outra coisa que me incomodou foi a falta de profundida na pauta sobre o empoderamento das mulheres na HQ. Mesmo com os desafios enfrentados por elas com esse pano de fundo a questão em si não é tão bem elaborada como poderia. A arte de Ming Doyle (Batgirl, Constantine: The Hellblazer) é boa, compreensível mesmo nas cenas de ação, traz bem o clima da década em seus cenários e vestuário, mas derrapa muito em detalhes, como mãos e outros elementos que exigem um pouco mais de cuidado e atenção do artista. Então se você, como eu, curte histórias de máfia e filmes clássicos do gênero, isso vai pesar na sua avaliação da HQ, já lhe adianto. Resta dar uma conferida no filme para comparar as mídias, mas sem expectativa.

Editora Panini
Edições 1 – 6 (Completa), capa cartonada.
176 páginas, R$ 27,90

Curtiu essa resenha? Então siga essa Zona nas redes sociais e não perca nenhum conteúdo! Textos todas as terças, quintas e sábados.

Pedro Rodrigues
Perdido na vida há trinta anos, sem vocação pra ser "cult" e fã dos escritores britânicos. Estuda tarô, cabala, hermetismo, magia do caos e teoria da Mãe Piruleta que traz seu amor em três dias em território nacional. Em meio a tudo isso descobriu seu animal de poder, uma lontra albina. Lendo de bula de remédio a Liber Null e Necronomicon, seu propósito com a escrita é esvaziar a mente e evitar com isso a perda do seu réu primário.

Deixe um comentário