O Demolidor iniciou uma nova série em 2019 pelas mãos do roteirista Chip Zdarsky. O autor sucedeu Charles Soule, que apresentou uma boa fase, porém não alcançou o patamar esperado pelos leitores do Homem Sem Medo. Isso porque o personagem possui uma série de fases boas dentre diversos roteiristas renomados. Então, ao invés de fazer aqui mais uma das milhares de resenhas de Demolidor: Só Medo, vou discutir se, pelo histórico de histórias excelentes do personagem, a fase Chip Zdarsky vale a pena ser acompanhada.
O Demolidor provavelmente é o herói que possui o maior número de fases icônicas nos quadrinhos (Chupa, Batman!). Tudo isso começou pelas mãos de Frank Miller, que criou e estabeleceu toda a mitologia do Homem Sem Medo, desde os vilões clássicos do personagem até o tom de desgraça iminente, onipresente durante toda a carreira de Matt Murdock. Miller não só fez isso como também criou diversas histórias que são realmente excelentes como “Roleta Russa“, em que coloca a sanidade do herói à prova, e também “A Queda de Murdock“, que não só coloca sua sanidade como também sua identidade civil a prova! Se a Marvel tivesse clássicos, sem dúvidas esses seriam os únicos.
Depois de Miller não dá pra dizer que o quadrinho viveu seu auge. A revista só reviveu alguns momentos de glória alguns anos depois com Kevin Smith no arco em “Diabo da Guarda“. O mais interessante veio em seguida com o roteirista Brian Michael Bendis assumindo os roteiros do personagem.
O Demolidor já havia passado por todo tipo de desgraça em suas histórias: Morte de namoradas, a perda de sua casa, e já inclusive chegou ao ponto de dormir na sarjeta. Então Bendis fez o que restava, revelou a identidade secreta de Matt Murdock ao mundo logo no início de suas histórias. A partir desse fato, Bendis trabalhou vários arcos incríveis do personagem, tanto nos momentos heróicos quanto na vida civil e de advogado de Murdock, levando inclusive o herói a uma confusão completa de seus valores e ideais, com ele assumindo uma postura autoritária dentro da Cozinha do Inferno, e sendo necessário inclusive um puxão de orelha dos outros heróis da Marvel para que ele percebesse a loucura que estava causando em seu bairro. Bendis escreveu o que pode ter inclusive superado a fase de Miller.
Logo em seguida quem assumiu os roteiros foi o Ed Brubaker. A transição de Bendis pra Brubaker é bastante sutil, mantendo não só a qualidade, mas também a coerência de tudo que foi estabelecido por Bendis. Tendo destaque para o arco da prisão, onde Brubaker coloca o Rei do Crime, Demolidor, Mercenário e Justiceiro presos juntos durante uma rebelião!
Por fim temos a fase de Mark Waid, essa que veio como uma mudança gigante dentro do título do demônio de Hell’s Kitchen. Waid foi um roteirista que apareceu com a premissa de criar uma saga um pouco mais leve do Homem Sem Medo. Essa nova fase trouxe cores mais alegres e histórias mais divertidas com um Matt Murdock mais brincalhão e feliz, feliz a ponto de deixar Foggy Nelson em dúvida com relação a sanidade de seu melhor amigo. Mark Waid, dentre todos os roteiristas, é o que possui a fase com maior diferencial entre todas as outras. Além disso, também merece destaque o tratamento gráfico dessas histórias. Waid fez a retratação dos poderes do demolidor como nenhum outro roteirista ainda sequer havia imaginado.
Por fim chegamos a fase do Chip Zdarsky. O Demolidor passa por uma experiência de quase morte ao fim das histórias do Charles Soule. Fato que afeta as habilidades do herói e por decorrência disso em uma de suas patrulhas acaba matando um bandido por aplicar força demais em um golpe. O personagem não aceita e tenta de todas as formas justificar a morte dessa pessoa, seja como parte de um plano do rei do crime ou qualquer outra conspiração que pudessem ter feito contra ele.
Essa premissa é muito interessante. O herói que é um advogado e católico infligido pela culpa de ter assassinado uma pessoa, mesmo que sem querer. E felizmente Chip Zdarsky desenvolve a história bem o suficiente para merecer estar ao lado das grandes fases do personagem. E não fica devendo nada a Bendis ou a Waid: O autor cria uma trama que amarra as culpas de Matt, o universo Marvel e uma discussão apresentada de forma muito sutil entre o Demolidor e o Justiceiro.
Não tenha dúvida! Chip Zdarsky está entregando histórias que não devem nada as melhores fases do personagem. Elas são interessantes e a narrativa de Zdarsky é leve e intrigante, ao mesmo tempo que por cada arco promove discussões interessantes para o leitor. Como um herói matar um bandido por acidente e sua transformação no que mais teme.
Miller, Smith, Bendis, Brubaker, Waid e provavelmente Zdarsky! O Demolidor tem tantas histórias boas que fica difícil recomendar uma em específico. Porém, para leitores que conhecem a origem do personagem e estão à procura de histórias de qualidade com fácil acesso, “Só Medo” e a fase de Zdarsky é altamente recomendada. Além de que os leitores brasileiros possuem o inimigo chamado Panini Comics que atualmente publica várias histórias do Demolidor, e somente as de Zdarsky possuem um preço “acessível” e justamente por isso é a melhor porta de entrada para novos leitores do Homem Sem Medo.
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