Leitura da Quarentena #11: CARNIFICINA – MENTE ASSASSINA

Fui tapeado! Quando às vésperas da saga Carnificina Absoluta uma edição com o nome do Carnificina na capa, eu só esperava que fosse um prólogo ou que estivesse ligada a ela de alguma forma, mas não. Acho que a Panini só se diverte enganando os colecionadores trouxas mesmo. O engraçado é que quando eu dei uma olhada aleatória nas páginas achei que parecia ser algo saído diretamente dos anos 90. E olha, meu radar de década não me enganou. Se trata realmente de uma HQ de 1996. Só não fiquei puto por que: 1- Eu ganhei esse quadrinho de presente de um amigo meu (Valeu, Eduardo!); 2- O conteúdo me agradou bastante (adoro sangue, maluquice e ação desenfreada) e 3- Eu gosto pra caralho do Carnificina, né?
Inclusive tô maluco pra ler essa minissérie nova.

Ambas as histórias dessa edição são sobre profissionais da saúde mental tentando entrar na cabeça podre do hospedeiro do carnificina para, quem sabe, conseguir compreendê-lo, ou até melhor, curá-lo. Não preciso nem dizer que ambas as tentativas são em vão, pois isso é completamente óbvio. O grande lance aqui é o como isso ocorre. Nas páginas assinadas por Ellis, um psiquiatra faz uma visita ao instituto Ravencroft com um plano mirabolante nas mangas. Para entrar na cabeça do monstro ele recorre a métodos arcaicos e físicos, o que gera uma reação de iguais proporções, ajudando o psiquiatra a conseguir concluir seus objetivos e entender a psique do Carnificina de uma forma que imagino que ele não queria.

Na segunda história, a Drª. Kafta Kafka se desespera com a situação de seu local de trabalho e tenta entrar na cachola do biruta vermelho tomando alguns instrumentos do psiquiatra das últimas páginas. Porém, dessa vez os resultados foram bem diferentes pois, por um acaso do destino, ela e o filho do Jonah J. Jameson entram na cabeça do assassino de forma literal! E já que estão presos lá dentro por quê não tentar combater essa maldade dele de dentro pra fora? Enquanto Kafka tenta uma abordagem verbal e psiquiátrica, John recorre a boa e velha violência para o deleite de Cletus Kassady. Mas estar dentro da cabeça de um psicopata superpoderoso pode se mostrar um desafio cruel e realmente é o que acontece. Então ela e seu colega sofrem várias crueldades a medida que vão avançando rumo a uma conclusão.

O grande destaque dessa edição é finalmente mostrar o Carnificina fazendo suas maldades de modo mais surreal, por não precisarem se ater a nada mais que a criatividade do assassino. Então no meio desses castigos mentais, ele transforma John Jameson em um lobisomem (Porque o personagem é um dos lobisomens da Marvel…) e a Dr. Kafka em uma porra de uma barata gigante. (Sério, você entendeu essa referência, né? Diz que sim. Foi genial.)

Quem poderia desenhar melhor um conto do Carnificina senão o Kyle Hotz? Seu traço marginal, cartunesco e sujo consegue não só casar perfeitamente com a psique do personagem, mas também traz elementos próprios que conseguem complementar perfeitamente os roteiros de Warren Ellis e de David Quinn. E olha que os roteiros dessa edição estão bem caprichadinhos, heim.  A edição apresenta duas histórias meio soltas de cronologia que se passam um pouco depois de Carnificina Total, saga que eu amo e que gostaria muito que houvesse uma republicação. (Vamo lá, Panini, quebra essa!) O nome do Ellis na capa é certamente uma tentativa de vender essa edição para os fãs mais cultizera da Marvel, mas é Quinn quem rouba a cena aqui, trazendo uma segunda história muito mais sangrenta, bizarra e confusa.

Confusa? E isso é bom? Bem, no contexto em que essa confusão é trabalhada, sim! Então é um elemento que vem a calhar, pois estamos dentro da mente de uma pessoa “super” perturbada. E mesmo que, dentro de sua razão, ele tenha uma lógica, para nós, meros leitores isso se traduz em uma insanidade literária completa.

É evidente em alguns momentos que David Quinn perca um pouco o controle do descontrole que ele mesmo estabeleceu, mas não é nada que seja suficiente para estragar a imersão da leitura. Por outro lado, a História assinada por Warren Ellis é boa e só. Não há nada muito surpreendente ali, ou mesmo desafiador para a imaginação do leitor, pois todos os próximos passos, inclusive a grande reviravolta, podem ser facilmente previstos, o que não me agradou muito, pois se o personagem é completamente maluco, ele não deveria tomar decisões tão previsíveis. Mas mesmo assim, considerando o precinho da edição e sua exclusividade no Brasil, acredito que é um item que vale a pena de ser colocado na estante de qualquer colecionador que se preze do Homem-aranha ou do Venom.

Sobre o escândalo sexual do Ellis: Assediadores obviamente merecem ser punidos então, caso ele seja mesmo responsável por essas violências a ele atribuídas, que seja dado à César o que lhe é devido. Foda-se!

Texto por João Garaza (instagram: @joaogaraza)
Editora Panini. 
Compila as edições Carnage: Mind Bomb e Carnage: It’s a Wonderful Life
 72 páginas. 
Capa cartonada. 
R$12,90

João Garaza
Bacharel em publicidade, ator, diretor e escritor que não se destaca em nenhuma dessas áreas.
Garaza tem um senso de humor exótico. (Algo entre tio sukita e pessoa que devia estar internada) Começou a ler HQs em 2006 e desde então acumula pilhas e mais pilhas de celulose superfaturada.
Fã do Capitão América, Deadpool, Batman e Lobo. Apreciador de autores e histórias despretensiosos.
Gosta também de passeios ao pôr do sol, andar de mãos dadas e está a procura de um novo amor. Joga a foto pra direita pra gente dar match!
;)

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