Leitura da Quarentena #12: O ÁRABE DO FUTURO VOLUME 1

Quem nunca se pegou recordando daquele cheirinho da primeira casa onde morou na infância? E as recordações dos seus primeiros amiguinhos?

Pois eis aqui essa obra que além de engraçada, e além de seus períodos históricos retratados, será uma obra totalmente nostálgica, por recordar o nosso período mais puro, mais criativo e imaginativo, a nossa infância.

O árabe do futuro vive entre quadrinhos | Cultura | EL PAÍS Brasil
A jornada da infância do Riad é nostálgica até pra nós

Essa obra do autor Riad Sattouf (roteiro e arte), tem como premissa mostrar a infância e outros períodos da vida do próprio autor, este mesmo que passou por vários países em momentos históricos importantes, e claro, tudo isso no ponto de vista de um menino de pai árabe, idealista do pan islamismo e da união dos países e povos dessa grande região, quadrinho muito bem editado e lançado pela editora Intrínseca.

quem nunca foi paparicado por velhinhas fofas quando pequeno?

A história começa antes do jovenzinho Riad nascer, mostrando como o pai dele, que era um imigrante sírio que foi para a França estudar, conheceu sua mãe, uma estudante francesa que não entendia basicamente quase nada que o pai do Riad falava, pelo seu forte sotaque e por ainda estar aprendendo o francês. Esse inclusive é um dos pontos mais cômicos da primeira edição do quadrinho, o modo como eles dialogam e como eles se conhecem, sintetizando bem o choque cultural perante uma língua totalmente diferente.

Assim como o Riad, também sinto falta de ter um cabelo legal…

Depois de alguns anos o jovem Riad nasce, loirinho e fofinho, com características tanto francesas quanto sírias, seu pai é um homem já graduado que sonha num mundo perfeito, cheio de pensamentos super idealísticos em que os árabes possam se unir como um todo e expulsar o grande mal imperialista dos EUA e de Israel, exaltando e comprando a ideia de basicamente qualquer líder que tente sair da aliança da “terra da liberdade”, não sendo nem socialista e nem de direita, mas sempre com os ideais nacionalistas e anticolonialistas.

Depois de sua graduação e doutorado o jovem pai do Riad resolve ir para a Líbia governada naquela época pelo Kadafi, tendo um choque de realidade ao chegar num país em reconstrução depois de uma guerra civil e fazendo o nosso protagonista ainda bem criança estranhar muitas coisas novas que ele vinha aprendendo, seja brincar de imitar os discursos do Kadafi ou ganhar a sua primeira arminha de brinquedo e brincar com seus amigos de “revolucionário”. Ainda nem sequer sabendo a língua ele ingressa numa descoberta de novas amizades, com várias confusões e situações inesperadas que aconteceram na infância, como cada um de nós, como quando depois de um tempo, o pai resolve ir morar na Síria com sua família.

Mais uma vez um caso de um país numa terrível recessão econômica e que tenta se manter, com condições extremamente feudais e pobres, porém é aí que vemos o quanto que a nossa infância é tão valorosa quanto achávamos que era, pois apesar de não conhecer ninguém, e passar a maior parte do tempo em casa, o pequeno Riad deixa a sua imaginação rolar diversas vezes durante suas brincadeiras e de coisas que observa, às vezes nos deixando totalmente nostálgicos com situações parecidas que nós mesmos vivenciamos, assim como nos faz rir quase que a ponto de chorar com ocasiões extremamente cômicas do seu choque de cultura e de não assimilação da língua árabe, sem dúvida é um quadrinho que te faz querer relembrar os seus próprios momentos engraçados e inusitados da infância, é uma história de rir e de momentos que você acha super fofo, seja pelo carinho do pai do protagonista com seu filho, ou da sua mãe que sempre tenta proteger o filho de “comprar” as ideias bem inusitadas do seu pai (como por exemplo, querer caçar e comer qualquer animal que vê hehe).

Não quero focar muito em falar mais sobre a história, pois desejo que você realmente leia e deguste capítulo por capítulo e dê muitas risadas com essa história tão nostálgica e diria que ao mesmo tempo tão “louca” e inesperada, afinal, quem nunca pensou em viajar do nada e recomeçar do zero em outro país? Pois você verá isso acontecer 2 vezes nesse quadrinho!

A edição é bonita, com capa cartão e papel pólen bold, muito bem traduzida e diagramada pela Intrínseca, com as fontes idênticas ao original, mantendo também as transições de cores que o autor coloca em cada parte de seus capítulos, basicamente mostrando a diferença entre cada região e a sua visão na época, a primeira edição é ótima, porém te deixa com aquele gostinho de continuar a história e ir logo pra segunda (que em breve teremos resenha), até agora tem 4 volumes e pelos elogios, parece sempre continuar no mesmo nível de qualidade.

Texto de @martinianofromars

Editora Intrínseca
Páginas: 160
Preço: R$ 31,41

Minuteman ZN
De vez em quando, um minuteman convidado aparece aqui na Zona Negativa para resenhar um quadrinho, ou para publicar a próxima matéria que irá, por fim, explodir sua cabeça, subverter a realidade e nos levar ao salto quântico para o próximo nível dimensional. Não sabemos exatamente quem são essas pessoas, a não ser que elas abram mão do anonimato e decidam assinar seus verdadeiros (??) nomes ao final do texto. Mas francamente, 'quem' elas são não é o preocupante. Preocupe-se com as palavras delas, que rastejam lentamente para dentro da sua cabeça. Todos são minutemen. Ninguém é minuteman.
O grande irmão está de olho em você. Aprenda a ser invisível.

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