Clássicos do Cinema Dodói #001: SINGAPORE SLING, de Nikos Nikolaidis.

Numa história, um dos maiores clichês que se pode cometer é começá-la com o batidaço “Era uma noite fria e chuvosa…“. Histórias boas foram escritas sob esse lugar comum, histórias ruins, mais ainda. Mas hoje eu vou focar numa história bizarra que se passa em uma noite fria e chuvosa, o filme Singapore Sling, do diretor Nikos Nikolaidis, um longa inclassificável, que foi concebido por seu diretor para ser, segundo suas palavras: “uma comédia com elementos de tragédia grega“, mas que saiu um pouquinho dos trilhos heheheh.

“É nojento, mas eu gosto.”

Singapore Sling, o drink, é uma bebida feita pela combinação de gin, licor de grenadine, licor Bénédictine, soda e licor de cereja, entre outras variações. Sem sombra de dúvida, parece delicioso e inebriante. Já Singapore Sling: The Man Who Loved a Corpse, o filme, com sua mistura de elementos envolvendo humor negro, exploitation, erotismo, thriller, crime e horror psicológico pode ser um pouco mais desconfortável de se assimilar e deglutir, já que para alguns essa experiência de um filme visualmente belo e bem montado, mas conduzido por um enredo tão insano pode ser… desorientadora, pra dizer o mínimo. E assim como o drink, também é inebriante.

Prepara um drink e continua lendo, porque você vai precisar!

Sua história se passa em uma noite de tempestade, com um modesto elenco de três pessoas – quatro, se for contar o pai mumificado (!!!) – onde acompanhamos um detetive bebum e decadente (Panagiotis Thanasoulis) seguindo uma pista de uma moça desaparecida chamada Laura, por quem ele se apaixonou. O homem acaba parando em uma villa habitada por uma família de aristocratas: A mãe, sádica, dominadora e insanamente perversa (Michele Valley); sua filha, ainda mais dodói que a mãe e para completar, ninfomaníaca e o pai, morto e mumificado em um cômodo qualquer da mansão. As malucas têm o péssimo costume de atrair homens para a sua mansão, e depois de se satisfazerem sexualmente, os matam e enterram no canteiro, para “fertilizar as flores“.

O pobre coitado, sem nome, acaba caindo nas garras das mulheres, que o apelidam de Singapore Sling, e o submetem a vários joguinhos de poder e torturas, tanto físicas quanto psicológicas, envolvendo muita escatologia, bondage, castigos físicos e até mesmo eletrochoque! Agora Singapore Sling provavelmente vai sofrer o mesmo destino das outras vítimas das burguesas dementes. Ou será que dessa vez vai ser diferente?

Coisa rara de se ver, essa evocação da beleza e do horror com tanto equilíbrio e competência. A atmosfera noir do filme, a belíssima cenografia, assim como certos recursos narrativos utilizados por Nikolaidis, como por exemplo, a quebra da quarta parede, onde as personagens volta e meia falam com o espectador, e ainda o curioso recurso narrativo de Singapore Sling só se comunicar em grego, enquanto a mãe fala em inglês e francês e a filha, apenas em inglês, fazem do filme algo (muito) mais do que um exploitation ordinário feito com o mero intuito de chocar. Por outro lado, seu roteiro, que nos fornece momentos onde, por exemplo, a filha conta para nós, espectadores, como foi deflorada pelo próprio pai aos onze anos de idade ou uma cena onde mãe e filha evisceram uma de suas vítimas, logo no início do filme, geram desconforto o suficiente para não ser considerado um filme de arte convencional.

“Que diabo de filme é esse???”

A trama é recheada de bizarrices como incesto, tortura, canibalismo, necrofilia, vômito induzido, golden shower, uma cena de masturbação envolvendo um inocente kiwi (!!!) e o nosso velho conhecido recorrente aqui na Zona, o B D S M! É o mais ofensivo que dá pra chegar sem cruzar a linha da pornografia. Singapore Sling é uma produção que habita solitária em uma zona cinzenta e um tanto quanto indefinida dentro da classificação de gêneros cinematográficos. Aquelas madrugadas de sábado para domingo, onde não há planos e você acaba não saindo para lugar nenhum (o que, atualmente, são todas rsrsrs) são a hora perfeita pra botar um filme pra rolar às duas da manhã, na insônia da Sessão Coruja, mas não pode ser qualquer filme, e esse é beeeeeeeeeem adequado a momentos assim, para ser visto no escuro, em silêncio, sem interrupções heheheheh…

Tão perturbador quanto belo, Singapore Sling é uma experiência única, um filme inclassificável, sem similares, uma obra de arte tal qual uma Mona Lisa pintada com fluídos e restos humanos e exposta em uma vernissage organizada em um açougue no purgatório. O lado bom de esse filme nunca ter sido lançado oficialmente no Brasil é que eu posso postar ele aqui. Depois de tudo que eu falei, alguma curiosidade deve ter despertado, né? Mas acho que por mais que eu descreva, ilustre ou explique, não chega nem perto da experiência de realmente assistir o material em si. Então que tal vocês mesmos conferirem e, se estiverem a fim, comentar o que acharam aí embaixo? Uma dica: Só por segurança, assistam de estômago vazio…

Senhoras, senhores e afins… Agora a atração principal: Singapore Sling, completo e legendado!
Eduardo Cruz
Eduardo Cruz é um dos Grandes Antigos da Zona Negativa, ou sejE, um dos membros fundadores, e decidiu criar o blog após uma experiência de quase-vida pela qual passou após se intoxicar com 72 tabletes de vitamina C. Depois disso, desenvolveu a capacidade de ficar até 30 segundos sem respirar debaixo d’água, mas não se gaba disso por aí.

Ele também tem uma superstição relacionada a copos de cerveja cheios e precisa esvaziá-los imediatamente, sofre de crises nervosas por causa da pilha de leitura que só vem aumentando e é um gamer extremamente fiel: Joga os mesmos games de Left For Dead e Call of Duty há quase 4 anos ininterruptos.

Eduardo Cruz vem em dois modos: Boladão de Amor® e Full Pistola®.

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