Them – O soco na cara que você precisa.

“E querem destruir, nos fazer destruir a nós mesmos, mas não vamos deixar!”

Imagine uma dose de Ari Aster, outra de Jordan Peele e uma pitadinha bem pequena, mas bem pequena mesmo pra não estragar, de James Wan. Imaginou? Se está sendo difícil pra você, talvez Little Marvin possa te ajudar com seu mais novo trabalho, Them.

Essa antologia de horror original Amazon traz, em sua primeira temporada, a história dos Emory, uma família negra que, na década de 50, se muda para o bairro de classe média Compton, um lugar habitado unicamente por brancos. A chegada da família logo causa uma reação ácida no coração daquela vizinhança que inflamados pela liderança de Betty, uma personagem persuasiva e que manipula as mulheres do local.

Vizinhança muito receptiva…

A série aborda a temática racista da maneira mais bruta e repulsiva possível, fazendo com que você se sinta frequentemente sujo por ser conivente com tudo aquilo. A tensão é uma constante. A cada interação dos Emory com aquele universo em torno deles, a ansiedade pelo desfecho da cena aumenta. A produção é muito competente em manter um clima de que a qualquer momento uma nova desgraça pode acontecer com a infeliz família.

A família composta pelo casal Lucky e Henry, e suas filhas Ruby e Gracie, que saem de uma Carolina do Norte, ainda com a vigência das Leis Jim Crow na época, para a ensolarada Califórnia. Logo de cara sabemos que algo deu muito errado pra eles no seu antigo lar e isso motivou a mudança. Henry consegue uma vaga de engenheiro numa empresa da região – algo raríssimo pra um negro na época – e isso propiciou a mudança. Com a chegada em Compton, uma série de coisas estranhas começam a acontecer levando a família a duvidar da própria realidade.

Them traz uma ótima construção de suspense e terror, sem muitos clichês e com um recorte bem pesado do cenário de intolerância dos EUA na época. A fotografia é ótima e as atuações primorosas, até mesmo da pequena Gracie (Melody Hurd). O casal de protagonistas é um prato cheio nesse quesito. A interação deles com os eventos que são desencadeados pela nova casa gera atuações incríveis. Menção honrosa para o diálogo da cafeteria entre Henry e outro personagem. Outro ponto forte é a trilha sonora. A música te toma pela mão e te leva para todos os lugares que a produção quer que você esteja.

O que pode ser frisado como um ponto negativo seria a forma como ela se perde em alguns momentos tentando chocar o espectador. Na tentativa de causar um impacto que deixe bem clara a terrível situação da família em meio aquele antro de racistas ignorantes do EUA da década de 50, a série pesa a mão em cenas de tortura, abuso e discriminação. Não é que a situação não fosse realmente MUITO ruim, mas em alguns momentos a produção parece mais focada em causar o impacto do que desenvolver os personagens. Particularmente, esse detalhe não me incomodou ao assistir, afinal de contas o cenário era de fato terrível e a história está aí pra provar, mas pode incomodar algumas pessoas mais focadas no desenvolvimento das relações entre a família, por exemplo. No mais, a proposta da série é te deixar desconfortável mesmo e impactado com o quão nocivo o racismo pode ser. E parabéns por isso.

A invisibilidade.

Them me causou momentos de choque, ansiedade, tensão e revolta. A série tem essa clara intenção. Tudo nela te faz se sentir no lugar dos personagens e isso te traz desde ódio até a sensação de impotência deles. Recomendo que assista apenas se estiver bem tranquilo, com a mente arejada e espírito leve. Them é repleta de gatilhos envolvendo violência, tanto física quanto psicológica. Ela inclusive traz avisos nesse sentido antes de cada episódio e pede para que as pessoas busquem pelos vídeos dos bastidores, onde a equipe relata o propósito por trás de cada cena. Mas depois de todo esse cuidado, se você se sente apto e curte uma boa história de terror, vale muito a pena assistir.

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Pedro Rodrigues
Perdido na vida há trinta anos, sem vocação pra ser "cult" e fã dos escritores britânicos. Estuda tarô, cabala, hermetismo, magia do caos e teoria da Mãe Piruleta que traz seu amor em três dias em território nacional. Em meio a tudo isso descobriu seu animal de poder, uma lontra albina. Lendo de bula de remédio a Liber Null e Necronomicon, seu propósito com a escrita é esvaziar a mente e evitar com isso a perda do seu réu primário.

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