Leitura da Quarentena #41: BATMAN ANO 100

Antes de mais nada, esse foi meu primeiro contato com a arte e o texto de Paul Pope em uma história longa. Quer dizer, exceto por algumas histórias curtas em antologias que li por aí. Sei que ele é um artista muito reverenciado no meio e agora eu entendo o porquê (Mas continuo sem entender porque só agora estou vendo sobre esse artista. Será uma negligência das editoras nacionais em ignorar o trabalho dele?). Uma rápida análise superficial pelo que pude perceber nessa HQ e vejo uma história suja, tanto no roteiro quanto na arte, há uma dificuldade inata em existir dentro das histórias do Pope, é como se ele transmitisse uma realidade difícil para todos, é como sobreviver em uma selva de concreto, pelo menos foi essa a atmosfera que ele deu a Gotham. O Batman de Pope tem dificuldades em manusear equipamentos, “quilômetros” de cordas, a cada puxão, a cada arremesso, a cada utilização desse equipamento, fica claro nos desenhos que o Batman tem que ter muita habilidade para não se enrolar nas cordas e cometer um erro que pude custar sua vida. A todo momento a trama mostra uma realidade muito cruel para o vigilantismo. Não é fácil se esgueirar por ai, não é fácil escapar de tiros… Mas há um elemento (aparentemente) sobrenatural aqui e isso fica pela magia dos quadrinhos: como é que alguém que toma um tiro sai gargalhando dos seus algozes? Pois é… esse é o Batman do Paul Pope, com todas as adversidades ele ainda consegue acessar a mente dos adversários e incutir terror. Assim como o Batman é mortal (???) como qualquer ser humano, seus adversários também o são e dotados de superstições. Oras, como um homem leva um tiro e sai gargalhando? rosnando? (Com direito a uma tétrica dentadura usada para amedrontar os adversários 😲)
Fica uma dúvida na cabeça do leitor: Será este Batman realmente humano? Se fosse no mundo real, como você reagiria a isso? É essa a impressão realista que Paul Pope traz.

CÃES POLICIAIS PERSEGUINDO O BATMAN
BATMAN FUGINDO DOS CÃES. ESFORÇO FÍSICO EVIDENTE.
PAUSA PARA TOMAR FÔLEGO. UFA UFA…

A história também gira em torno de um misticismo sobre a idade do personagem. Se passa no futuro onde desde a 1º aparição do Batman até os dias de hoje, configuraria que o indivíduo teria mais de 100 anos de idade. Pelo menos é um dado histórico dentro da HQ. Pope não deixa claro se houve mais de um Batman nessa cronologia, mas também deixa claro que o Batman desta HQ é alguém velho. A idade não é revelada, mas a impressão que temos é que o Batman é velho, mas ao mesmo tempo está esbanjando força física (Poço de Lázaro? Imortalidade? aprimoramentos cibernéticos? quem sabe???), ou seja, não há nenhum vislumbre de parar. Seu pupilo, Robin, está ali na trama dando suporte nos bastidores mas nota-se que ele não chega a altura do Morcegão, ‘procês’ ter uma ideia do mito que é o Batman do Pope.

A história também conta com grande participação do Gordon (Neto do Comissário Gordon original), já que a trama principal trata-se de uma conspiração envolvendo uma força de elite federal que encobre um assassinato que tem implicações políticas para todas as nações do globo. Uma arma biológica. Nesta HQ existe também um viés do futuro que Miller propôs em O Cavaleiro das Trevas, ou seja, o vigilantismo foi criminalizado de vez e o Batman é uma resistência que incomoda – e muito – o governo. Aqui o Morcego não enfrenta Coringas ou Charadas, e sim uma força de elite da polícia, pessoas normais e não menos perigosas e traiçoeiras. Um adversário incomum é um telepata capaz de entrar na mente das pessoas, mas ainda assim, não se compara à loucura de enfrentar os vilões de praxe. Pope trouxe para este universo algo que permeia as teorias de conspiração, a idéia que o governo tem em suas folhas de pagamento indivíduos com capacidades psíquicas dignas de filme, mas ainda assim, abordado de uma forma realista.

QUEM É O VERDADEIRO INIMIGO MESMO?

Vamos falar um pouco da arte do Pope? Não é uma arte acessível, ela não é limpa, não tem o visual heróico de Byrne ou as poses sensacionais de Jim Lee aqui. Paul Pope traz uma arte suja e ao mesmo tempo com uma pegada… pulp. Não é pra menos, uma história policial acima de tudo está em andamento aqui e a cidade é suja também, afinal é Gotham! Em outras palavras, a arte de Paul para esta HQ traz poluição visual e muito sangue sujando tudo também. As poses que o Batman faz são dignas de uma pessoa normal tentando se equilibrar em situações que seres normais não conseguiriam, vide a capa da edição 1, onde vemos ele equilibrado sobre duas pontas de cano, então ele tem que estar agachado para fazer com que o equilíbrio do corpo resista ao atrito do vento, e a posição não é das mais confortáveis, e todo aquele equipamento dá um peso extra a suportar e equilibrar etc etc… deu para entender? E quando o Batman está pendurado por cordas, como uma pessoa normal ficaria nessa situação? Será que é confortável? Claro que não, pombas, é dificultoso e essa é a impressão passada. A impressão de que o Batman, nas suas diversas dificuldades de se pendurar por ai, não está sempre belo e formal como numa HQ convencional, depois de cada salto de um prédio ao outro, a gente vê um Batman ofegante, que faz careta sobre a máscara, que sente dor a cada distensão muscular decorrente do esforço físico que ninguém jamais passou. Pra mim esse é o maior mérito do Pope nesta HQ, mostrar essa dificuldade que as HQs de heróis nunca mostram. Aqui a suspensão de descrença foi suspensa.

A arte de Pope também traz muita ação em sequências de desenhos fluidos, ou seja, é aquela arte que você percebe toda a movimentação acontecendo, não é um desenho estático; se a moto passa numa poça d’água, o carro que vem atrás tem respingo dessa água no para brisa, por exemplo. O farol dos veículos passeia pelo desenho tal qual passearia numa película de filme. Fora o fato que as cenas de fuga do Batman são dignas de filmes como Missão Impossível ou James Bond, porque convenhamos, não é fácil um homem escapar de uma caçada humana com direito a cães, drones que mapeiam calor, helicópteros… Enfim, não é fácil, mas o Batman consegue, sempre! Sua habilidade é incrível dentro de seu limite humano, sempre. Pope conserva o conceito de Batman mesmo trabalhando sob condições muito mais, digamos, adversas.

VISUAL LIMPO
ESFORÇO DE SE PENDURAR POR CORDAS. EXPRESSÃO FACIAL.
AGARRANDO-SE A TUBULAÇÕES NO TETO. EMBAIXO UM INCÊNDIO, EM CIMA OS SPRINKLER DE INCÊNDIOS ESGUICHANDO ÁGUA POR TODO CANTO.
BALÉ DE LUZES. BATMAN SEGURA UM LASER E ENQUANTO EXECUTA OS MOVIMENTOS, A LUZ ACOMPANHA. SENSACIONAL.

Para finalizar, não dá para dizer que é uma história que se diga que entrou para os anais da história do Batman, porém não há como ignorá-la também. A HQ tem cenas de ação bem vibrantes, empolgantes, angustiantes… Aqui a gente tem um vislumbre muito autêntico de um Batman na visão de um artista contemporâneo.

ROSNANDO PARA A POLÍCIA.

Texto por Conde.

Editora Panini
Capa Dura
Preço de Capa: R$ 92,00 (272 Páginas)

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