O céu atingia uma coloração roxa com traços esverdeados. Desde a hecatombe nuclear, era normal que a radiação causasse efeitos estranhos no céu ao cair da noite.
– A guerra entre as grandes potências mundiais explodiu – explicava um homem negro, com um corte de cabelo quadrado, barba por fazer, óculos escuros redondos, camiseta preta da banda Slayer, jeans e um coturno, para um público de três adolescentes sentados nas pedras do ambiente rochoso em que se encontravam, e continuou – e eu não acredito até hoje que foi por conta de um governante brasileiro que atacou a China em nome de uma família tradicional teoricamente afrontada pela subversão comunista, através de um vírus chinês com nano robôs ativados por 5G.
– Mas Roger, o que diabos era 5G? – perguntou um dos jovens.
– 5G era uma tecnologia de transmissão de dados pela Internet. Vocês lembram que já falamos de Internet né?
– Sim, mas é difícil imaginar como as pessoas se conectavam à distância, enquanto hoje não conseguimos acenar para um indivíduo do outro lado do deserto.
– Estamos desviando do assunto, voltemos a instrução. Mas existia esse negócio de comunismo mesmo?
– Sim, existia e era uma corrente de pensamento econômica diferente da normalmente aplicada ao mundo, mas o comunismo foi apenas uma desculpa para perseguir quem era diferente. Existia um ódio embutido contra a diversidade, que só poderia ser vencido com o amor, mas a sociedade sucumbiu a um instinto animalesco jamais visto. Nem se pode chamar de animalesco, pois tal violência nunca esteve presente entre os animais da selva.
– E pensar que uma bomba atômica na ionosfera ia causar essa bagunça toda…
– Antônio, antes de chegarmos na bomba Russa, temos um longo caminho a percorrer. Voltando, o pensamento ultra conservador foi explorado… – a aula foi interrompida por um trovão que rasgara o céu, que agora atingia a coloração em azul, vermelho e violeta, e anunciava a chuva ácida das 5. – Crianças, continuamos amanhã. Corram para suas tocas, e não comam mais ração do que devem. Nos vemos amanhã!
