CONTOS DA ZONA: Os Fluminenses – O Punheteiro da Vila Rosali

Cristiano Barbosa, bancário de uns 45 anos, barba por fazer e acima do peso, usava sempre jeans, camisa polo e tênis olímpicos. Morava em uma típica casa do subúrbio, mesmo estando na baixada. Casa quadrada, com uma pequena varanda, porta de ferro e grades em forma de estrela. Uma beira de telhado rodeava toda a casa que era coberta de azulejos creme. Na parte central, acima da beira uma lampadinha vermelha iluminava quatro azulejos que traziam São Jorge Desenhado. 

Barbosinha, como seus amigos de trabalho o chamava, era solteiro. Teve uma noiva antes, mas ela o deixou. Parece que ela encontrou seu HD secreto que continha pastas com todo tipo de pornografia. Jenifer, sua ex noiva, o chamou de doente, nesse episódio, descompensada saiu gritando pela rua dele “O Cristiano é um punheteiro!” e simplesmente desapareceu de sua pobre vida. 

Barbosinha, caixa bancário respeitado diuturnamente, a noite um pervertido inveterado, conhecido na internet como Barbosa25. Alimentava esse nome desde os tempos áureos do ICQ, e mantinha arquivos baixados desde essa época, a duras penas , desde fakes da Sarah Michelle Gellar a fotos da Tiazinha. 

Asiáticas, europeias, brasileiras, americanas, latinas, scat, peludas, peladas, inter-racial, tinha de tudo. Mas Barbosa tinha um carinho especial mesmo era por pornô amador. Ao mesmo tempo em que se sentia pleno, de clique em clique, durante horas de masturbação frenética na madrugada, estava infeliz, pois não tinha com quem gozar tamanha felicidade. 

Mas pera lá, não pense você leitor que Barbosa não tinha escrúpulos. Nosso querido personagem era um punheteiro honrado e não aturava revenge porn, ou fotos vazadas sem consentimento, ou pior ainda, as mazelas da pedofilia. 

O tempo ia passando, o serviço no banco servia para lhe sustentar, mas era enfadonho. Eu mesmo não tenho coragem de descrever aquela rotina de notas sujas e novas, tentativas inertes de vendas de títulos de capitalização, ou o almoço da turma da firma cujo papo rondava sempre em fofocas e traições conjugais. O que Barbosa gostava mesmo era o mundo da pornografia amadora. Encabeçava um novo projeto, montou um blog, no qual as fotos e vídeos eram de contribuições anônimas de seus leitores. Os contos, ele mesmo escrevia, sempre com uma pitada doce de perversão sexual, fetiches e cotidiano. 

Foi quando conheceu Irene, cliente ativa e contribuinte de seu espaço recreativo na web. Ela falava da necessidade de um parceiro, que aceitasse dividi-la com os fãs da internet, e oportunamente algumas vezes de forma presencial. E como vocês podem bem estar pensando, era o par ideal para Barbosa, que não só aceitava de bom grado, como sentia prazer nas imposições da moça. Mesmo ela sendo de São Paulo, não tardou para que Cristiano pedisse suas férias e lá foi encontrar a sua amada.

Uma química perfeita aconteceu ali, e de um primeiro encontro sexual, logo produziram fotos que rapidamente alimentaram o blog. O encanto foi tamanho que ao acabar o período de férias, Barbosa estava noivo, com data de casamento marcada. 

Barbosinha estava radiante, e até mais tratável com seus colegas bancários. Era sexta feira, o casamento aconteceria no domingo vindouro e ao invés de fazer uma despedida com seus poucos amigos, fez uma sessão de arranca tudo em uma depiladora próximo ao trabalho. Só deixou a barba pois iria fazer no ‘Seu Mário’, barbeiro que cortava seus cabelos desde a infância. Sexta a noite e mais uma vez estava no Skype com amada que chegaria de São Paulo domingo pela manhã, já arrumada e perfumada para o casamento na paróquia da Vila Rosali. 

Ambos não viam a hora. A lua de mel seria em uma pousada em Búzios. Já sonhavam com todas as fotos que poderiam tirar, quem sabe até se aventurar no voyeurismo. Barbosinha acordou sábado pela manhã e se dirigiu ao ‘Seu Mário’. O barbeiro ficava em um estabelecimento de uma porta comercial dessas de correr, cor zarcão, com uma tonalidade de poeira, rajada de manchas de graxa nas extremidades. Chegara pouco antes de abrir e parou no bar do Paulinho à frente. Pediu um cafezinho enquanto folheava um jornaleco barato quando percebeu sua ex noiva passar pela calçada no outro lado da rua. Seu coração titubeou, pois não entendia o fato de antes ser tão íntimo de alguém e agora passaram a ser simples estranhos. 

Jenifer o percebeu, e pareceu se irritar, forçando uma visualização a frente dando passadas fortes, a ponto de tropeçar, praguejar um “putaquepariu” e continuar andando. Cristiano à acompanhou com os olhos por cima do jornal. Sua ex noiva, muito branca e de cabelos negros ondulados a altura dos ombros, estava com uma camiseta cinza colada em seu corpo um pouco acima do peso exigido pela sociedade, um short branco, grande o suficiente para ser considerado de respeito, e curto a ponto de arrancar atenção dos homens asqueroso às portas das mercearias e farmácias. Chinelos ‘filipinas’ brancos para combinar com o short. Jenifer saiu do campo de visão de Barbosinha, a essa altura era já deveria saber do casório, pois ela era sobrinha do marido de sua tia, um dos convidados, e com ela se foi a lembrança de um passado feliz de final triste. 

Enquanto Cristiano Barbosa estava distraído em um misto de leitura desinteressada e devaneios passados, o ranger de uma porta pouco lubrificada anunciava que ‘Seu Mário’ tinha chegado, acabava de levantar a porta. As paredes internas se revelavam bege e verde musgo. Os aparatos de barbeiro pareciam ter vindo dos anos oitenta. Seu Mário tinha uns oitenta anos e não tinha cabelo na parte de cima da cabeça, restando pelugens laterais e bigodes brancos. Barbosinha era o primeiro e já conhecendo o trâmite sentou na cadeira de barbeiro.

– O mesmo de sempre, Cristiano? – perguntou o Seu Mário.

– Sim, Seu Mário.

O velho lentamente alisava os cabelos de seu primeiro cliente, com um pulverizador molhava os fios, passava entre os dedos e cortava um pouco, repetidamente. O barulho da tesoura próximo aos seus ouvidos sempre lhe dava sono, então se permitia relaxar e fechar os olhos. 

– Barba também, Cristiano?

– Sim, Seu Mário.

O barbeiro procurou uma lâmina nova em sua gaveta, mas não encontrou. Coçou a careca e disse:

– Cristiano, vou ter que pegar uma caixa de giletes novas lá dentro. 

A casa do barbeiro ficava ao fundo da barbearia, que era ligado ao estabelecimento por uma porta interna. Logo Seu Mário tinha atravessado o portal que ligava a sua casa e Barbosa mais uma vez relaxado recostou a cabeça e fechou os olhos. Ouviu passadas leves, mas ignorou, deveria ser mais alguém para cortar os cabelos. Ouviu alguém mexer nas tesouras, mas imaginou ser “Seu Mário” que tivera retornado, mas quando abriu os olhos, viu no reflexo do espelho Jenifer, bem em sua traseira, parada com uma tesoura na mão. Não houve tempo para reação, apenas uma frase saiu da boca de sua ex noiva. “O Punheteiro fez outra feliz e não foi a mim”, seguida de três golpes abafados em seu pescoço. Jenifer se retirou com a arma do crime nas mão. 

“Seu Mário” retornou e encontrou o corpo de Barbosinha, com violentas lacerações no pescoço, o sangue escorria pelo corpo e pingava no assoalho, e o assassino não estava mais lá, graças a Deus. o Barbeiro então disse “Putaqueopariu”.

Jessé Ofício Do Amor
Quem eu sou interessa menos que meus textos, pois em essência, eu sou o que eu escrevo. 27 anos é a minha idade, pois os bons se foram nela, mas o melhor nos deixou aos 33. Com sorte, e se deixarem, eu chego lá também.

Você deve estar confuso a eu fazer uma referência ao cristianismo lendo essa pequena autobiografia, mas cristão de fato eu sou, com todos os meus pecados e os tormentos que escrevo aqui. Mas sou diferente dos convencionais que são respeitáveis publicamente e intimamente, mas que representam o próprio satanás. Eu escrevo coisas normais, que por mais que pareçam sujas, são humanas e verdadeiras.

Um último aviso: Eu não consigo escrever nessa parafernália eletrônica, que até mesmo Neil Gaiman elevou ao status de divindade, por isso só estou publicando agora porque esses degenerados que se afeiçoaram a mim fizeram a caridade de me transcrever aqui.

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