CONTOS DA ZONA: Positividade Total.

Minha mãezinha, que Deus a tenha, sempre me dizia para eu ser uma pessoa positiva. E eu sei que vai dar tudo certo, hoje é meu dia. Eu acordei cedo, tomei um banhozinho caprichado e já estou na rua fazendo uma caminhada matinal.
Claro, eu não saí exclusivamente para caminhar, mas poxa, “se a vida te der limões…”, basicamente estou sendo positivo. E isso é tudo que eu preciso nesse momento.

A minha vida começou a ficar negativa um pouco depois do meu casamento. Mas não por causa da minha esposa, nem por causa do casamento em si, mas sabe como é, né? Quando a gente cai na rotina é foda. A gente acaba enjoando daquela pessoa que sempre achou que seria para sempre. Sorte que éramos um casal com a mente aberta, positivamente falando, e depois de um certo tempo, a gente começou a tentar algumas alternativas, só pra ver no que ia dar, saca? Nem todas davam certo… Ok, quase nada deu certo, mas só a tentativa já é algo válido.

A gente tentou velas, mas isso acabou me custando uma sobrancelha, algumas roupas de cama e quase nos custou a casa inteira. Sorte que conseguimos conter as chamas rapidamente.
Tentamos também acessórios de BDSM, mas acho que ela exagerou na força, talvez com raiva reprimida por algo, o que tornou a experiência péssima pra mim. Recentemente fizemos até uma viagem pra China, mas tivemos que voltar mais cedo, o que acabou estragando toda a viagem.
Enfim, vamos falar de coisa boa. Vamos falar da única vez que essas nossas aventuras deram certo de verdade.

Marcaram com a gente 9 da manhã. Não eram nem 8:10 e a gente já tava no endereço marcado. A gente chegou lá e é claro que só tinha a gente. Um casal ansioso numa portinha no centro de Rodilândia.
Com o passar do tempo, as pessoas foram chegando. Pessoas de todos os sexos, cores, tamanhos e formas. Às 8:45, um careca mal-encarado abriu a porta por dentro e nos disse para entrar. Subimos com uma ansiedade digna de crianças no natal.

Lá em cima, um gordinho estranho começou a tirar de dentro de uma maleta pequena uma infinidade de consolos, lubrificantes, cintos e mais um monte de coisas que nunca vi na vida. “Meu Deus.”, eu pensei. “Nós já tentamos essas coisas e não deu certo. Tamo fudido.”. Mas lembrei da minha mãe e fiquei tranqüilo. Ser positivo sempre! Outro gordinho com outra maleta. Essa bate na altura da barriga dele. O pânico tomou conta da gente, mas eu fui positivo novamente e adivinha? Era só um violão. Ele começou a tocar e todos começaram a conversar. O careca começou a distribuir drinks e drogas. Todos sabiam exatamente o que fazer. Eu e minha esposa, fingíamos que também sabíamos para não nos destacar negativamente.
Pontualmente às 9:00 um sino tocou e todos tiraram as roupas, nós seguimos a onda, claro. Em poucos segundos estavam todos se beijando e introduzindo coisas em buracos e buracos em coisas. Eu e minha esposa aos poucos fomos tocando em outras pessoas e nos distanciando…

Estranho falar assim da minha esposa após tudo que aconteceu… Essa quarentena maluca que colocaram ela só por causa de uma tosse. Tudo bem, evoluiu para uma pneumonia rapidamente, mas se eu pudesse ter cuidado dela pessoalmente isso não teria acontecido. “O risco de contaminação do coronavírus é alto, senhor… Você não pode vê-la, senhor. Volte para sua cama…”. Não fode! Bando de médico incompetente, nos enfiando um monte de remédio e nos separando…. E falando em enfiar e separar…

Estávamos na suruba há horas. Já não tinha mais noção de onde meu corpo começava e onde o próximo terminava. Não tinha ar-condicionado lá, é claro. Mal tinha um pano no chão… Mal tinha um piso na porra do chão, caramba. O calor era enorme e uma gota de suor era recorrente. Ela vinha da minha nuca e escorria preguiçosamente até entrar no meu rego, eu me incomodava muito no começo, um pouco mais pra frente e quase nada no fim. Fazendo com que o meu reflexo de limpá-la demorasse cada vez mais a se realizar. Eu já não aguentava mais. Parecia que aquilo nunca ia acabar até que o sino tocou novamente e todos, religiosamente, se separaram. O careca vestiu agilmente uma cueca, um avental e começou a servir as pessoas com aquelas quentinhas de presidiário. Minha fome era tanta que não tinha como não ser positivo. Após comer tanto, eu só precisava comer. E esta era bem parecida com a refeição anterior, com as mãos – alguns com uma colher improvisada com a tampa da quentinha – e no chão. Alguns até dividiam com outros. Eu dividia com minha esposa.

Após alguns minutos algumas pessoas, incluindo eu, já haviam terminado de comer, comecei a reparar então que desde o inicio da suruba, um violão era tocado. Ao procurar a origem do som, dou de cara com aquele gordo maldito, completamente vestido. Ele não parou de tocar nem durante a suruba e nem durante o almoço. E só comeu a refeição tradicional mesmo. Sua função ali era apenas de entreter. Quando mostrei à minha esposa, nós morremos de rir.

E por falar em morrer… Foi bem triste quando ela partiu. Foi doloroso vê-la naquele estado, branca, parada e morta. Assim que tive alta fui embora daquela bosta chorando. Nunca mais a veria. Nunca mais sentiria seu abraço e seu perfume. Maldito vírus. Pegou carona com a gente e ficou escondido esse tempo todo. Hoje meu resultado sai. Mas vou ser positivo… Vou ser positivo. E vai dar tudo certo, eu sei que vai.

Voltando à suruba: Pontualmente à uma hora o sino tocou, o careca ficou pelado, todos se enfiaram em todos e o cara do violão… Só ficou tocando mesmo.
Lá pelas tantas, após limpar várias gotas de suor do cu, para a minha surpresa, dei de frente com minha amada esposa, transamos loucamente mesmo enquanto ela chupava três caras que estavam com a bunda na minha cara. E adivinhem o que escorreu para dentro do meu rego? Sim, uma rola tamanho família. De início relutei um pouco e tranquei, mas lembrei da minha mãe naquele momento sublime e fui positivo enquanto relaxava as pregas. Cara, até que é gostoso quando você se deixa ir. E fomos nessa até às 19:00, quando mais um sino tocou e todos automaticamente pararam tudo que estavam fazendo novamente, vestiram suas roupas e foram embora sem dizer uma palavra uns com os outros. Nem um “Tchau!”, nada.

Cheguei no consultório e minha ansiedade estava lá em cima. “Seja positivo, seja positivo, seja positivo!” Pego o exame e lembro do diagnóstico da minha esposa. A coitada teve uma pneumonia causada por uma imunodeficiência adquirida. Como eu era seu marido, as chances de eu estar infectado também eram altas, segundo eles. Mas só nós dois sabíamos que desde aquele dia eu nunca mais consegui ficar excitado com uma vagina. Então nós abrimos o relacionamento e éramos mais como amigos casados para manter as aparências.
Eu pego o papel e não abro de cara, pois estou com medo, é claro. Vou até uma sala reservada para ler seu conteúdo sozinho, não quero ninguém perto na hora que eu souber o diagnostico. Eramos só eu e o exame naquela sala fria, mas apenas um de nós estava positivo naquele momento.

João Garaza
Bacharel em publicidade, ator, diretor e escritor que não se destaca em nenhuma dessas áreas.
Garaza tem um senso de humor exótico. (Algo entre tio sukita e pessoa que devia estar internada) Começou a ler HQs em 2006 e desde então acumula pilhas e mais pilhas de celulose superfaturada.
Fã do Capitão América, Deadpool, Batman e Lobo. Apreciador de autores e histórias despretensiosos.
Gosta também de passeios ao pôr do sol, andar de mãos dadas e está a procura de um novo amor. Joga a foto pra direita pra gente dar match!
;)

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