MONSTER EDIÇÃO KANZENBAN VOLUME 1, DE NAOKI URASAWA.

A gente pode até achar que ainda falta muita coisa essencial pra ser (re)publicada por aqui (E falta mesmo!), mas pelo menos nos últimos anos, dentro do nicho dos mangás, não dá pra reclamar: Como otaku ocasional que sou, me limito a buscar só o que a galera recomenda como ‘clássico‘ ou ‘indispensável‘, já que o volume de publicações do gênero é imenso. Blade – A Lâmina do Imortal, Akira, Fullmetal Alchemist, Lobo Solitário, Hokuto No Ken… Meu conhecimento se estende apenas um pouco além desses, mas ainda assim, sempre estou aberto para uma recomendação bacana. Uns anos atrás, algum conhecido me intimou a ler Monster, de Naoki Urasawa, mesmo autor do também sensacional 20th Century Boys.

A OUTRA obra prima de Naoki Urasawa…

A questão era como eu iria ler o tal Monster, obra prima de Urasawa, que consistia de 18 volumes publicados entre 2012 e 2015, tempo mais que suficiente para tornar a tarefa de montar a coleção algo bem difícil, ou como alternativa, sangrar no mercado livre pagando um preço exorbitante pela coleção já completa? Por conta do 20th Century Boys conheci Urasawa, digamos assim, na ‘ordem inversa’: O mangá sempre vinha atrelado ao famoso ‘Do mesmo autor de Monster‘ como referência. Eu precisava preencher essa lacuna, só não fazia idéia de como.

Contudo, parece que dessa vez o santo padroeiro dos reprints deve ter recebido muitas preces, porque no final de 2019 a Panini anunciou a republicação de Monster em edição Kanzenban, que seria o equivalente japa para uma edição Deluxe, com o dobro de páginas em relação à última vez em que foi publicado por aqui: Ao invés de 18 volumes, dessa vez teríamos a obra completa em 9 tijolões de periodicidade bimestral com um acabamento imponente. Além do dobro de páginas, essa edição Kanzenban conta com capa dura, uma sobrecapa que forma um grande painel quando alinhada com todas as outras, fita de cetim para marcar as páginas, páginas internas com papel couchê de altíssima gramatura e um postal em cada edição. O chato disso tudo é que você tem CERTEZA de que isso encarece, e muito, o produto. Mas que está lindão, isso não dá pra negar.

Monstro mesmo vai ter que ser a prateleira que aguentar isso aqui completo. aproximadamente 4000 páginas…
A edição Kanzenban comparada a um mangá comum.

Mas afinal, o que tem de tão especial em Monster? Eu diria que é a sua trama, bastante simples e também muito envolvente, com personagens com os quais o leitor se importa ou odeia com a mesma intensidade, bem como as reflexões que as implicações éticas contidas nas situações carregam. A obra é vencedora do 3º Prêmio Cultural Osamu Tezuka de 1999, do 46º Prêmio Shogakukan em 2000 e do Prêmio de Excelência no 1º Japan Media Arts Festival em 1997.

Publicada originalmente entre 1994 e 2001, o mangá traz a história do doutor Kenzo Tenma, um jovem neurocirurgião muito talentoso e estimado que trabalha em hospital na Alemanha ocidental (A história tem início no ano de 1986, pouco antes da reunificação das Alemanhas). Muito respeitado e prestigiado pelos colegas, inclusive o diretor do hospital, seu sogro, Tenma, além de muito competente, é bastante solícito. Na verdade, solícito até demais, ao ponto de, já nos primeiros capítulos, causar angústia no leitor ao ver como o bom moço é explorado. Apesar disso, as coisas parecem correr bem para Tenma, cujo futuro parece uma promessa brilhante. Até o dia em que ele toma uma difícil decisão: Operar um menino que acabara de dar entrada no hospital, vítima de um tiro na cabeça, ou atender ao prefeito de Frankfurt, que estava a caminho para uma cirurgia urgente que apenas ele estava capacitado a realizar, vítima de um severo AVC. Desobedecendo ordens superiores, Tenma opta por salvar o garoto, o que leva ao falecimento do prefeito.

A partir dali, tudo em sua vida começa a dar pra trás. Tenma paga caro por sua decisão, mas as coisas pioram ainda mais quando, anos depois, um assassino serial está à solta matando várias pessoas. Depois de perceber alguns indícios e evidências, Tenma desconfia que o assassino seja o menino que salvou anos atrás. Agora, subjugado por um sentimento de culpa, o médico se sente responsável pelas repercussões desencadeadas por sua decisão, e a partir disso, tem início uma caçada humana que, a julgar pelos eventos desse primeiro volume, promete!

A narrativa de Urasawa, bem descomprimida, como todo mangá que se preze, tem um andamento cuidadoso que vai nos apresentando os personagens desse drama com pitadas de horror psicológico, e as 400 páginas do volume são rápida e facilmente devoradas. Ainda faltam oito volumes para a conclusão, mas pelo menos eu já consegui compreender logo nesse primeiro volume porque Monster é um mangá tão apreciado pelos leitores. Uma história estilo Efeito Borboleta com tons de crueldade e malevolência, onde decisões ressonam por anos e anos, criando uma sequência de eventos que podem envolver – e arruinar – incontáveis vidas.

Urasawa mais tarde escreveu e ilustrou Another Monster, que detalha os eventos do mangá original a partir do ponto de vista de um repórter investigativo, que foi publicado em 2002. Em outras mídias Monster foi adaptado pelo estúdio Madhouse em um anime de 74 episódios, entre 2004 e 2005.

https://www.youtube.com/watch?v=sZR2xkcBy78&list=PLHHbXC6_jeoZ0_sZcc_Ug7VxqmtInnfCX
Monster, o anime. Completaço-aço-aço…

Ah, pra finalizar, não posso esquecer de deixar aqui esse vídeo incrível dos Quadrinheiros, onde John Holland explica sua interpretação do mangá por um ponto de vista ético e político dentro do contexto atual do país. Impecável e indispensável, exatamente como o próprio mangá!

Excelente vídeo ensaio por John Holland.

Eduardo Cruz (eduardo_cruz_80)

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Eduardo Cruz
Eduardo Cruz é um dos Grandes Antigos da Zona Negativa, ou sejE, um dos membros fundadores, e decidiu criar o blog após uma experiência de quase-vida pela qual passou após se intoxicar com 72 tabletes de vitamina C. Depois disso, desenvolveu a capacidade de ficar até 30 segundos sem respirar debaixo d’água, mas não se gaba disso por aí.

Ele também tem uma superstição relacionada a copos de cerveja cheios e precisa esvaziá-los imediatamente, sofre de crises nervosas por causa da pilha de leitura que só vem aumentando e é um gamer extremamente fiel: Joga os mesmos games de Left For Dead e Call of Duty há quase 4 anos ininterruptos.

Eduardo Cruz vem em dois modos: Boladão de Amor® e Full Pistola®.

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