Leitura da quarentena #25 – APENAS UM PEREGRINO, de Garth Ennis e Carlos Ezquerra, ou “Waterworld sem água”

Nunca escondi e nem vou esconder que sou fã de carteirinha do trabalho de Garth Ennis. Minha HQ favorita de todos os tempos é fruto dessa cabeça doentia, por exemplo. E também nunca foi segredo que eu sou um cara bem humorado e que gosta de piadas sujas, coisas escrotas e de críticas com formato bacana.
E é exatamente isso que esse irlandês maldito faz de melhor. O cara consegue pegar uma piada escrota e surreal e elevar isso até o ponto de se tornar um elemento importante e completamente crível dentro de suas histórias. Muitas vezes algumas histórias dele parecem ter saído de uma piada, de fato, mas tudo isso não significaria absolutamente nada se não fosse bem executadas. Seriam só histórias loucas e aleatórias, mas completamente esquecíveis.

Sobre Apenas Um Peregrino vou ser totalmente franco e dizer que o que me atraiu primeiramente foi a sua incrível capa genialmente desenhada pelo Mark Teixeira. Cara, esse sujeito bad-ass metade Clint Eastwood, metade Santo dos Assassinos, metade Jonah Hex com uma cruz na cara me deixou louco, tão louco que até perdi a noção de matemática básica. E segundamente fui atraído pelo nome Garth Ennis na capa, até porque fanboy que é fanboy vê o nome do seu autor favorito e fica todo feliz. Fui ao caixa e estava tão sem noção de nada que gastei até mais do que devia, tendo que arrumar dinheiro emprestado pra voltar pra casa depois, mas tranquilo, eu havia alimentado o fanboy dentro de mim com essa edição delícia e o que é ficar devendo favores sexuais em troca de dinheiro? Já devo tanto há tanta gente que nem faz diferença mais. (Enfim…)

Ao chegar em casa devorei a edição e não sabia o que era melhor, o roteiro maluco ou a arte suja e fodona do cara que criou o visual do Juíz Dredd. Cara, era quase como ler Preacher (Minha HQ preferida, pra quem ficou curioso) de novo. Só que com outros personagens e outras loucuras.

Sobre a história:

Oito anos se passaram desde que um evento catastrófico de super-hiper aquecimento global dizimou a Terra, evaporando seus oceanos e queimando tudo e todos na superfície do planeta, entre eles, o rosto de um cara muito louco com um passado um tanto duvidoso. Mas esse Peregrino agora vaga pela terra em nome de seu bom Deus à procura de pessoas inocentes que precisam de ajuda para se locomover nesse planeta desolado, lotado de criaturas abominavelmente bizarras (ou bizarramente abomináveis? 🤔) e de gente ruim, bárbaros que querem tomar cada gota do pouco que os outros ainda possuem.

Lembra que eu disse que é em nome de Deus? Cara, esse peregrino coloca o Cabo Daciolo no chinelo e diverte muito com seu fanatismo imparável. Citando Deus até em situações completamente absurdas, como por exemplo, na sequência da “oração pra acertar na cabecinha”. Esse nível de fanatismo religioso parece até algo muito surreal, mas aí nós lembramos das centenas de igrejas que parecem ter saído de Chernobil com seus fiéis exemplares que já viveram mil e uma aventuras viciosas e obscuras no mundo das drogas e do sexo. Será que há uma relação intrínseca entre um passado de vícios ruins e fanatismo religioso? Porque o pastor ou a pessoa que dá os melhores testemunhos sempre é ex-isso ou ex-aquilo, já notaram? Se houver essa relação e obrigatoriedade, isso só faz o protagonista da série ser o mais realista possível, porque passado mais sujo que o desse cara é difícil, hein? E como se não bastasse toda essa crítica à instituição das igrejas em si, Ennis vai um pouco mais a fundo e no final de tudo ainda dá aquela dedada nervosa no meio da bunda ferida da igreja, não deixando dúvidas que os dogmas seguidos de um livro completamente defasado só servem para fazer mal a sociedade.

É muita loucura e eu poderia citar muito mais coisas sem dar spoilers significativos, mas assim mesmo não quero estragar a surpresa. Então recomendo fortemente a leitura e, caso você consiga um exemplar como o meu da Mythos, também aconselho a só ler o prólogo do Mark Waid no final.

Muita insanidade com homens-bola-ninho-de-mafagafos-mutantes, piratas esquisitos, monstros nojentos e aventura sem igual te aguardam SE a sua religião permitir a leitura desse volume herege heheheheh.

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Texto por João Garaza (instagram: @joaogaraza)
Editora Mythos.
Compila as edições #1 a #5 da minissérie Just a Pilgrim e as edições #1 a #4 de Just a Pilgrim: Garden of Eden
244 páginas. 
Capa dura.
R$69,90

João Garaza
Bacharel em publicidade, ator, diretor e escritor que não se destaca em nenhuma dessas áreas.
Garaza tem um senso de humor exótico. (Algo entre tio sukita e pessoa que devia estar internada) Começou a ler HQs em 2006 e desde então acumula pilhas e mais pilhas de celulose superfaturada.
Fã do Capitão América, Deadpool, Batman e Lobo. Apreciador de autores e histórias despretensiosos.
Gosta também de passeios ao pôr do sol, andar de mãos dadas e está a procura de um novo amor. Joga a foto pra direita pra gente dar match!
;)

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