Quando vemos histórias dos anos 30 ou 40, nós pensamos logo nas tramas de quadrinhos da era de ouro, de super-heróis como Superman e Batman, acredito que muitos aqui já tenham lido as primeiras histórias destes heróis, e tenham tido uma impressão datada, mas vai por mim, ler uma história do Fantasma da mesma época não é a mesma coisa. Lee Falk mostra-se um ás da escrita, tecendo sua arte com paixão. Falk escrevia o Fantasma como se aquilo fosse a meta de vida dele. É importante dizer que antes do Fantasma, o mesmo autor já escrevera Mandrake, também criação sua, e que deve tê-lo amadurecido para o bom nível com que estreou as histórias do Fantasma, que é esta que tenho em mãos.
Um adendo: Meu primeiro contato com o Fantasma foi na coleção que a editora Pixel estava trazendo, cheguei a comprar os 4 primeiros volumes, mas curiosamente, nestes volumes não tinha a 1º história do Fantasma. Eu tenho um certo complexo a começar a ler uma história sem que seja do início. Gosto de pegar a gênese do personagem, pois é ali que está (geralmente) a essência do personagem. Com essa 4º edição de Crônicas do Fantasma pela Editora Mythos isso foi possível. (Mas porque raios a 1º história do personagem só veio a sair na edição 4??? Mistérios do mundo editorial que nunca iremos desvendar).
Lembrando que a HQ do Fantasma foi publicada em tiras semanais. Esta história em específico, que tem 151 páginas, demorou cerca de 38 semanas para ser concluída. Então, nos dias de hoje é impensável acompanhar uma história desta maneira, contudo as histórias do Fantasma seguiram uma publicação continuada de 1936 até 2006 neste formato. Pense na fidelidade com que o jornal manteve essa tradição…
Mas e a história? Bom, a história versa sobre piratas, amores e uma boa dose de ação/aventura a la James Bond. Como essas histórias saíram antes do 1º livro de Ian Fleming (O Criador do 007), é possível que este tenha sorvido das histórias do Fantasma para inspirar-se nas histórias do agente mais infame da história. Pois pensa comigo, nesta primeira trama do Fantasma, nós temos um personagem principal que é um autodidata em tudo que se propõe a fazer, nas lutas, no conhecimento, o cara é quase que a soma de todos os conhecimentos de sobrevivência (Apesar de ainda ser humano). O Fantasma desbaratando redes de pirataria e beijando a mocinha no final. É ou não é o James Bond da selva? E olha, as coincidências não param por aí: nesta história do Fantasma, os piratas Singh tem uma fortaleza subaquática que só é acessível por um submarino, tal qual no filme 007 – O Espião que me Amava (1977), no qual o vilão tinha uma base subaquática de onde ameaçava destruir o mundo para erigir uma civilização sob a água. (Que louco, não?). Há até uma nervosa luta na borda de uma piscina cheia de tubarões famintos. Há também uma vilã que se apaixona pelo Fantasma, capaz de trair o vilão principal para salvar seu amado. Também temos uma fuga dramática, após destruir a base subaquática, onde o Fantasma escolheu salvar a sua amada colocando-a num submarino que só cabia uma pessoa (Pouco heróico não?), enquanto ele – um simples humano – terá de escapar de uma profundidade de 150m usando apenas o capacete de um escafandro. Ok… Isso é impossível, mas isso também é uma HQ, entra aqui a licença poética hehehehe.
Ahhh mais a história é muito mais do que tiros, porrada e bombas em bases submarinas. Os piratas Singh, tinham um interesse em um depósito de âmbar gris, um subproduto orgânico das baleias usado para fazer essências e perfumes, uma espécie de OURO dos oceanos. Nesta trama, Falk demonstra que escrever uma história de quadrinhos não é tão fácil; aqui ele emprega conceitos econômicos ao colocar o Fantasma como um conselheiro, quando este diz a sua amada: “Não colocar todo o âmbar no mercado, pois a demanda cairá e ele perderá valor“. VEJA, quando uma história tem uma estrutura inteligente por trás, isso não é apenas SOC, BUM, PAF. Tem mensagens inteligentes, valores a serem passados. Nesta trama também temos amores, e amor de uma forma romântica, com beijos de cinema e motivações indeléveis. É dito que o Fantasma só pode revelar sua história para a mulher que irá se casar com ele. E sim, ele faz isso a sua amada Diana Palmer nesta história.
Espero que com o tanto de elementos descritos aqui, vocês possam ser tomados por curiosidade sobre o início da saga do Fantasma e compre esta HQ, pois ela fatalmente acabará tornando-se um item histórico para sua coleção. Essa edição contou com um brinde, uma moeda do Fantasma muito bacana. Lá na frente, você vai poder se orgulhar de ter a 1º história do Fantasma na sua estante, se por um lado você não tem a tirinha histórica de jornal publicada em 1936, por outro você tem um compilado de tirinhas que trará orgulho com certeza.
Texto por Conde.
Mythos Editora
Papel Off-set, capa mole
Preços de Capa: R$ 39,90
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