Resenha Relâmpago de Carnaval: YURI – QUARTA-FEIRA DE CINZAS

E acaba mais um carnaval! Hora de recolher os pedaços, guardar novamente a fantasia e voltar a pilotar o mesmo eu do resto do ano, depois de alguns dias dando vazão a concessões e desejos intensos, após mais de trezentos dias consecutivos de cotidiano dessensitivizante. O frenesi pela festa e celebração, e a satisfação de todo impulso da carne: Comida, bebida, sexo, e o que mais der na telha (contanto que não prejudique ninguém além de você, veja bem!). Férias de si mesmo, de qualquer regra e disciplina que rege sua vida! Sim, o Carnaval é uma deliciosa catarse para quem não o aproveita como ocasião para descanso. É época de deixar o eu de todo dia morrer e liberar uma outra versão sua na folia, para morrer em quatro dias. E assim, o ciclo se reinicia…

Estou escrevendo essas linhas com uma dor de cabeça contínua e persistente que deixa evidente para mim a agressão auto inflingida ao meu fígado nos últimos cinco dias. Comi alimentos não muito saudáveis. Bebi muito acima do meu normal, inclusive testando combinações exóticas – e devastadoras. Fui extremamente libertino (com a mesma mulher, pode uma putaria dessas???). Sendo sincero – em grande parte talvez por conta de toda a intoxicação auto perpetrada – isso fodeu completamente com nosso cronograma certinho de resenha-toda-terça-e-quinta, então safadamente nossa resenha vai ser na quarta-feira…. de cinzas! Tá vendo como a gente é ishhhperrrto? Mas tenho certeza que vocês vão me perdoar, afinal, a ocasião é atípica, e além disso, quantos de vocês também não estão um bagaço nesse exato momento???

Agora falando sério, seria inevitável a Zona Negativa um dia abordar Yuri – Quarta-Feira de Cinzas, que carrega em si uma visão satírica do feriado de Carnaval no Rio de Janeiro, em uma história acima da média dentro da nossa vasta produção nacional. Yuri é um publicitário de saco cheio da vida que um dia decide se matar, por puro tédio! Misteriosamente ele acaba voltando mortos em plena segunda-feira carnaval, mas decidido a retornar para a sepultura definitivamente. No meio do caminho ele conhece Andrei, um ladrão de carros homossexual que decide ajudá-lo em sua busca pelo descanso eterno. No desenrolar da história, os dois passeiam por um Rio de Janeiro inundado de blocos, desfiles, foliões e muitas tretas, inclusive envolvendo brigas de rua com o Rei Momo, passistas que lutam kung fu e picaretagem religiosa. Afinal, depois de tanta auto-indulgência durante quatro dias, a culpa que alguns sentem ao fim da festa é enorme, e sempre vai ter um urubu pra se aproveitar… Daniel Og – ou Dog para os íntimos – conta uma história divertida sem perder a carga dramática ou deixar de criar cenas que geram bons momentos de reflexão. Seu traço minimalista e estilizado é algo único, que em vários momentos lembra o saudoso Seth Fisher. Ah, e Allan Sieber estava certo: A gente respeita muito mais um autor que faz as próprias letras dos balões à mão, junto com o resto da arte!

O que mais posso dizer? Se você está sentindo um décimo do que eu estou sentindo, com a boca seca e britadeiras marretando na caixa craniana e tudo que você quer é sossego, uma rede e água gelada para lavar todos os neurônios mortos aí dentro, por que não engrenar numa leitura agradável pra ajudar na dolorosa transição de folião de volta para o eu normal? Yuri – Quarta-Feira de Cinzas demonstra que não apenas todo Carnaval tem seu fim, mas que todo ciclo precisa acabar, para dar espaço para a reinvenção e o renascimento.

Editora Conrad
272 páginas. Capa cartonada.
R$ 39,90

Eduardo Cruz
Eduardo Cruz é um dos Grandes Antigos da Zona Negativa, ou sejE, um dos membros fundadores, e decidiu criar o blog após uma experiência de quase-vida pela qual passou após se intoxicar com 72 tabletes de vitamina C. Depois disso, desenvolveu a capacidade de ficar até 30 segundos sem respirar debaixo d’água, mas não se gaba disso por aí.

Ele também tem uma superstição relacionada a copos de cerveja cheios e precisa esvaziá-los imediatamente, sofre de crises nervosas por causa da pilha de leitura que só vem aumentando e é um gamer extremamente fiel: Joga os mesmos games de Left For Dead e Call of Duty há quase 4 anos ininterruptos.

Eduardo Cruz vem em dois modos: Boladão de Amor® e Full Pistola®.

4 comentários em “Resenha Relâmpago de Carnaval: YURI – QUARTA-FEIRA DE CINZAS”

  1. Que legal a tua resenha, cara!
    Eu nunca busquei tudo que falaram do Yuri, até por que o tempo passa e surgem coisas novas, mas de tempos em tempos eu preciso fazer alguma coisa me referindo ao quadrinho e é sempre bom encontrar resenhas como a sua! honestas (tomara!) e positivas!
    Muito obrigado cara! Forte abraço!

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