O Natal está chegando, e as férias mais o clima natalino contagiam cada um de nós com um calor de 40°, parentes que não desejamos por perto e lugares abarrotados de gente. Nós da Zona Negativa resolvemos falar de algumas HQs que tratam do tema natalino e um dos escolhidos para uma resenha relâmpago foi Batman – Noel, que Lee Bermejo desenhou e roteirizou, baseado na obra de Charles Dickens Um Conto de Natal.
O romance de Dickens (autor do excelente livro Dias Difíceis) conta a história de um homem muito rico chamado Scrooge, que vive isolado em sua bolha e morrendo de medo de que alguém possa se aproveitar de sua riqueza. Dessa forma se torna uma pessoa fria, solitária e fechada. Scrooge acaba recebendo a visita de alguns fantasmas que fazem com que sua percepção sobre o mundo e as pessoas vá mudando.
Essa história já teve diversas adaptações para o cinema, teatro e TV. Entre as adaptações estão Os Fantasmas de Scrooge, uma animação com Jim Carrey, Os Fantasmas Contra Atacam, estrelado por Bill Murray e O Conto de Natal dos Muppets, estrelado pelos…. sim, os Muppets. Por ter se tornado a perfeita personificação de um sujeito mesquinho, mal-humorado, pão duro e ganancioso, acabou batizando alguns personagens com essas características, como o Tio Patinhas (que em inglês é Scrooge McDuck) ou o tio rico do Pica-Pau, o Tio Scooge (aquele do “um mergulhinho, dois mergulhinhos..”).
Você deve estar se perguntando como fazer uma HQ do Batman com um tema natalino? A história de Batman Noel (não consigo ler sem pensar em Batmanuel) se passa na época de natal, enquanto o Cavaleiro das Trevas tenta encontrar o Coringa ao mesmo tempo que tem que lidar com sua saúde meio debilitada enquanto toma algumas atitudes, no mínimo, questionáveis. Os fantasmas que visitam o Scrooge na obra original são personificados pelas figuras do Superman, Mulher Gato e o Comissário Gordon.
Em busca do Palhaço do Crime, o Morcego persegue Bobby, um cara que, movido pelo desespero (a angústia e o medo estão estampados em seus olhos), aceita fazer um trabalho para o Coringa a fim de sustentar sua casa e seu filho pequeno. Mas o Batman não se importa com isso, nem se incomoda com a possibilidade de colocar em risco a vida do filho de Bobby, afinal de contas é uma “guerra” contra o Coringa (talvez seja como a guerra de George W. Bush para pegar o Bin Laden: Finge que procura para justificar a continuidade da caçada ao “grande inimigo”). Segundo a lógica do “Bruce Wayne Cidadão de Bem Que Paga Seus Impostos”, mesmo sem conhecer Bobby, sua vida e seus problemas, considera que o crime é só uma questão de escolhas. Outra coisa que Batman não leva em consideração também é o fato de que Bobby estava em uma situação limite e uma sucessão de dias ruins poderiam facilmente levá-lo à loucura, como aconteceu com o próprio Coringa, criando mais um psicopata em Gotham.
Mas essa é uma história de natal e o que acontece nessa época do ano? Pessoas tocadas pelo clima natalino estendem a mão em solidariedade para aqueles que são ignoradas durante o ano todo, para logo em seguida voltar a ignorá-los pelos próximos 364 dias do ano. (Porra, Batman! O peru para a ceia e uma árvore de natal enfeitada não vai resolver os problemas do Bobby e seu filho!).
Este foi o primeiro trabalho em que Bermejo escreveu e ilustrou e ele não fez feio. Falar da arte incrível dele é chover no molhado. Quem o acompanha no Instagram tem a oportunidade de ter um contato maior com o seu trabalho. Como em outras obras suas, cada quadro merece ser emoldurado e colocado numa parede. Em Batman – Noel, Bermejo contou com o suporte da excelente colorista Barbara Ciardo, que deu o peso e a leveza necessária para a história, com quem já havia trabalhado em Antes de Watchmen: Rorschach.
A HQ é um típico conto de natal. Não é uma história grandiosa e explosiva do Batman, nem irá fazer parte das grandes tramas do Cavaleiro das Trevas. Mas a fusão que ele fez com o personagem e a obra de Dickens, além de ganhar uma adaptação digna e inesperada, respeitou o conto original e toda a mitologia do Batman.
Seria um clássico, se não fosse do Batman.
Panini comics.
116 páginas. Capa dura.
R$ 22,90
