Resenha Relâmpago: SOLDADO DESCONHECIDO 🌎🇺🇸😈☠️👉💥

Esta mini série, originalmente publicada em quatro partes, foi mais uma daquelas iniciativas pontuais da DC Comics através do selo Vertigo de revitalizar personagens da editora que estavam esquecidos nas poeiras da Era de Ouro e Era de Prata, adaptando-os aos tempos atuais por meio de releituras inventivas, e em muitos casos, necessárias. Assim como vimos no passado a Orquídea Negra por Neil Gaiman, o Shade por Peter Milligan ou o Kid Eternidade por Grant Morrison, coube ao roteirista irlandês Garth Ennis atualizar o Soldado Desconhecido, que estreou como coadjuvante nas histórias do sargento Rock nas HQs de guerra DC da década de 1960. A abordagem de Ennis nessa mini série de 1997 é bem mais sombria e representou um amadurecimento do personagem, que aqui foi utilizado como uma alegoria para a invasiva política de intervencionismo norte americano em outras nações ao redor do mundo desde o pós guerra. O mundo ficou mais cínico, então nada mais natural que esse cinismo, entre outras matizes, fosse inserido no caráter do personagem.

Na história seguimos William Clyde, um agente da CIA que, através de uma pista fornecida por um misterioso informante, segue a trajetória do Soldado pelo mundo desde a Segunda Guerra Mundial até os dias atuais. Suas missões como operativo, os rastros que deixou, as intrigas e as histórias… Terríveis histórias! Avançando a leitura, descobrimos que estas pistas são uma tramóia (duh!), e as intenções de quem está por trás disso são nefastas. A conclusão é um belo final aberto, que até poderia render uma série mensal na época, mas nunca chegou a acontecer. Ennis estava em seu auge e afiadíssimo, e construiu aqui um thriller político eletrizante sem suavizar na crítica ao jogo sujo do imperialismo Ianque! O artista aqui é Killian Plunkett, um desenhista bem acima do padrão Vertigo, que fez uma boa história ser ainda mais agradável de ler. A cereja do bolo são capas de autoria de Tim Bradstreet.

Esta história me marcou bastante desde a minha primeira leitura, ainda nos tempos de editora Metal Pesado, e até hoje não esqueço muitos de seus detalhes e passagens. A grande teoria da conspiração: Um operativo do governo que interfere e desestabiliza nações ao redor do mundo em nome dos interesses da América, em nome do que é melhor para a América. Ennis acertou em cheio neste tom de revisionismo do personagem. Ainda sinto um tremor de revolta com um diálogo em que um dos personagens pergunta ao Soldado “Com que direito vocês interferem na política do país dos outros?”. A resposta é ultrajante e define esse mais de meio século de opressões, embargos, assassinatos políticos e golpes de estado registrados através da História de nosso mundo. Esta versão do Soldado Desconhecido é o avatar do imperialismo de cara enfaixada, um personagem torturado pela noção de que tudo que ele faz é o mais correto a fazer. Mas o mais correto para quem???

Conspiranóicos de plantão, estudantes de geopolítica, membros da URSAL, comunistas de Iphone, vertigueiros de raiz e entusiastas de Garth Ennis podem abraçar esse encadernado com força nessa viagem brutal e cheia de mentiras e assassinatos. Uma grande história cheia de maquinações nos bastidores do poder aguarda vocês nessas páginas. Pra quem curtiu o thriller de ação e espionagem “Xerife da Babilônia”, de Tom King, aqui tem mais uma dose desse veneno, envolvendo um personagem fictício em situações históricas ocorridas no mundo real. Apenas substitua o Soldado Desconhecido pelos EUA durante a leitura e voilá! Realismo total em todas as crises geopolíticas retratadas nessa HQ!

Ah, e pra terminar eu não poderia deixar de dar meus parabéns à Panini: O timing de publicação disso aqui coincidindo com o momento atual de nosso país… Se eles tivessem planejado meticulosamente e com antecedência não teria dado certo hauhauauhahuah!!!

Compila as edições #1 a #4 da mini série Unknown Soldier.
112 páginas. Capa cartonada.
R$ 18,90

Eduardo Cruz
Eduardo Cruz é um dos Grandes Antigos da Zona Negativa, ou sejE, um dos membros fundadores, e decidiu criar o blog após uma experiência de quase-vida pela qual passou após se intoxicar com 72 tabletes de vitamina C. Depois disso, desenvolveu a capacidade de ficar até 30 segundos sem respirar debaixo d’água, mas não se gaba disso por aí.

Ele também tem uma superstição relacionada a copos de cerveja cheios e precisa esvaziá-los imediatamente, sofre de crises nervosas por causa da pilha de leitura que só vem aumentando e é um gamer extremamente fiel: Joga os mesmos games de Left For Dead e Call of Duty há quase 4 anos ininterruptos.

Eduardo Cruz vem em dois modos: Boladão de Amor® e Full Pistola®.

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