Resenha Relâmpago: DYLAN DOG – MATER DOLOROSA

Em dezembro de 2017 a Editora Lorentz publicou no Brasil a premiada história de Dylan Dog chamada Mater Morbi. Agora tendo readquirido os direitos de publicação, a Mythos lançou recentemente Mater Dolorosa, edição comemorativa de trinta anos do personagem (número 361 italiano) que marcava o retorno do roteirista de Mater Morbi, Roberto Recchioni e de sua personagem, com a arte pintada estratosfericamente linda de Gigi Cavenago em um encadernado primoroso que fará qualquer fã de Dylan Dog ficar extasiado.

Anteriormente em Mater Morbi, que conta com arte de Masssimo Carnevale e originalmente publicada em 2010, vemos o detetive do pesadelo acometido por um mal súbito e inexplicável que o deixa acamado em um leito de hospital as portas da morte. Seus pesadelos o arrastam aos domínios de Mater Morbi, a Mãe de Todas as Doenças, que tem planos de mantê-lo por lá como um escravo. Os conceitos acerca da personagem, apesar de claramente chupinhados dos perpétuos de Sandman, são bem interessantes. O problema é a execução. Mater Morbi é reduzida a um clichê de femme fatale vestida em tiras de couro, sadomasoquista e mimada ao extremo, que é facilmente enganada pela lábia do detetive. Muito pouco para uma entidade conceitual que existe desde o início dos tempos e detém o poder sobre toda praga que já assolou a humanidade. Apesar do problema com o antagonista, é uma trama bem construída e que carrega a essência das histórias de Dylan Dog. Só é superestimada.

Em Mater Dolorosa, publicada originalmente em outubro de 2016, o retorno da Mãe de Todas as Doenças impulsionará Dylan a enfrentar traumas reprimidos de infância, fazendo-o descobrir que a obsessão de Mater Morbi vem de bastante tempo. De quebra, alguns retcons são inseridos na origem do personagem. Desnecessários, por sinal. A idéia clara em Mater Dolorosa é utilizar do evento de celebração do personagem para fazer algumas mudanças, inserindo novos elementos na historiografia do personagem para direcionar as histórias mais atuais. Definitivamente não é uma trama padrão Dylan Dog.

Ao contrário do que ouvi falarem por aí, essa edição NÃO é uma boa porta de entrada ao universo do detetive do pesadelo. A história faz referência a acontecimentos de edições anteriores e apesar do texto editorial no início tentar elucidar algumas delas, a trama tem muita carga cronológica pra quem nunca teve contato com Dylan Dog.

Várias outras histórias mais autocontidas e sem esse peso cronológico servem melhor como porta de entrada. Apesar de ter adorado a edição de luxo, lançar uma história tão adiantada cronologicamente sendo que o histórico de publicação do título no Brasil é bem problemático, chegando a ficar abandonado por anos, não foi das melhores decisões. Dylan Dog precisa sim, é ser organizado cronologicamente em publicações periódicas. O que não é difícil, a Panini conseguiu com Hellblazer. Por favor Mythos, nunca te pedi nada.

104 páginas. Capa Dura. R$69,90

Reinaldo Almeida Jr
Reinaldo Almeida Jr, também conhecido como Ray Junior, é narrador de RPG, leitor inveterado e um apaixonado por quadrinhos que anseia fundar seu próprio clube da luta de cultistas a deuses lovecraftianos, viajar pelo multiverso em busca de suas outras versões de terras paralelas para lhes contar que nada é verdadeiro e tudo é permitido, dando início a revolução invisível que nos elevará a quarta dimensão.

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