Resenha Relâmpago: FLINCH – HORROR E DESESPERO VOLUME 1

Sabe aquele gibi que você guarda pra ler nos últimos minutos do dia, já na cama, antes de dormir, no escuro, só a luminária ligada, dois ou três pequenas histórias por noite? Pois é, é esse aqui… Flinch é uma antologia de horror, em moldes semelhantes aos das publicações popularizadas pela EC Comics, como a Creepy. Agora imaginem uma antologia de horror… nos moldes do selo Vertigo! Aqui os monstros não são os tradicionais e já batidos vampiros, lobisomens ou mortos que voltam para se vingar dos vivos por malfeitorias passadas nem qualquer outro elemento “tradicional” dentro do gênero. Na verdade, quando algo como um zumbi, vampiro ou até mesmo uma entidade Lovecraftiana chegam a dar as caras em alguma história aqui, nada é o que parece e a única certeza é a de que clichês serão subvertidos. É bem verdade que, como toda antologia, o resultado aqui naturalmente é bem irregular, porém algo não é perdido de vista: O padrão Vertigo de fazer histórias. Mesmo que o resultado não seja assim tão bem executado, a experimentação e a tomada por rumos narrativos fora do convencional é o que predomina, fazendo com que os leitores estranhem o teor de horror de certas histórias, que vão do delírio febril ao surrealismo alucinógeno, ou situações perturbadoras, mas possíveis, ou então somente uma história triste de rasgar o coração mesmo, o que pra mim é tão aterrador quanto.

Destaque para “Cadeia Alimentar”, suspense da dupla de 100 Balas, Azzarello e Risso, história que apresenta o agente Turro, que deu as caras nas histórias de John Constantine também da fase Azzarello. “Satanic” de Garth Ennis e Kieron Dwyer é uma divertida extrapolação a respeito da real causa do naufrágio do Titanic. “Fumaças”, de Mark Wheatley e Marc Hempel é um episódio de Além da Imaginação com a perversidade típica dos anos 90. “Parada”, de Devin Grayson e Phil Jimenez é a história que ninguém tinha coragem de contar até então. “You’ve Got Hate Mail”, de Robert Rodi e Marcelo Fruisin é um episódio de Black Mirror ajustado à época em que foi publicada. E por fim, “Os Sapatos de Lótus”, de John Kuramoto e Jon J. Muth, com tuda a sua contundência, nos fazem sentir vergonha por ser “humano”. Sim, é baseada em fatos reais…


É interessante ver autores que não costumam escrever histórias de horror fora de suas zonas de conforto aqui, tentando entregar algo que se adeque à proposta da publicação. Roteiristas como Brian Azzarello, Garth Ennis, Bill Willingham e Greg Rucka assinam alguns dos contos. Já a arte é um leque riquíssimo, de encher os olhos, com histórias ilustradas por nomes que vão de gigantes como Richard Corben, Jim Lee, Bill Sienkiewicz e Frank Quitely, passando por medalhões da Vertigo como James Romberger, Marcelo Fruisin, Duncan Fegredo e Eduardo Risso. Eu diria que mesmo que nem todas as histórias não agradem, Flinch vale seu preço pela seleção de artistas envolvidos. Poucas antologias ostentam tantos nomes de peso como as antologias da Vertigo conseguiram reunir. A seleção de roteiristas e artistas envolvidos é tão díspar e eclética que você pensa “não tem como isso dar certo!”. Mas às vezes a química surpreende! Flinch pode não ser um acerto em 100% das histórias contidas nesse volume, mas ainda assim é Vertigo clássica, de uma época em que o selo adulto da DC tinha mais acertos do que erros, contudo mesmo em seus erros ostentava o respeito de ter se proposto a experimentações e dado a cara à tapa, com um espírito ousado e empreendedor que já não vemos tanto assim nos títulos atuais da Vertigo. Só por essa ousadia já merece o respeito do leitor.

Compila as edições #1 a #8 da mini série Flinch.
196 páginas. Capa cartonada.
R$ 28,90

Eduardo Cruz
Eduardo Cruz é um dos Grandes Antigos da Zona Negativa, ou sejE, um dos membros fundadores, e decidiu criar o blog após uma experiência de quase-vida pela qual passou após se intoxicar com 72 tabletes de vitamina C. Depois disso, desenvolveu a capacidade de ficar até 30 segundos sem respirar debaixo d’água, mas não se gaba disso por aí.

Ele também tem uma superstição relacionada a copos de cerveja cheios e precisa esvaziá-los imediatamente, sofre de crises nervosas por causa da pilha de leitura que só vem aumentando e é um gamer extremamente fiel: Joga os mesmos games de Left For Dead e Call of Duty há quase 4 anos ininterruptos.

Eduardo Cruz vem em dois modos: Boladão de Amor® e Full Pistola®.

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